Museu do Amanhã, inaugurado em 2015, é a prova de que o mito do “país do futuro” ainda persiste na mentalidade brasileira (Foto: Vou Viajando)
O Brasil pode ter perdido nesta segunda-feira (3) obras importantes e insubstituíveis com o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Além de arquivos que contavam a história brasileira, havia peças que contribuíam para a recapitulação do passado da humanidade, como o fóssil de Luzia, crânio humano mais antigo das Américas. Em entrevista à RFI, a historiadora do Instituto de Altos Estudos da América Latina de Paris, Juliette Dumont, afirma que falta ao país uma consciência da importância da preservação do patrimônio.
“Foi uma tragédia anunciada”, afirma Juliette Dumont, que também é presidente da Associação para a Pesquisa sobre o Brasil na Europa. Sua voz se junta a de tantos outros na denúncia de uma ausência de investimentos na área da cultura e da educação, deixando as instituições em péssimas condições de infraestrutura.
A observação de dois museus no Rio de Janeiro permite a revelação de duas faces do Brasil, para a pesquisadora. O primeiro deles, o Museu Nacional, é o símbolo por excelência da riqueza patrimonial, do “lugar de memória”, como dizia o historiador francês Pierre Nora. “É também a primeira instituição científica fundada no Brasil”, lembra.
O segundo, o Museu do Amanhã, inaugurado em 2015, é a prova de que o mito do “país do futuro” ainda persiste na mentalidade brasileira – fazendo com que, enquanto o passado se torna cinzas, o presente seja a espera infinita por dias melhores. “Até 2015, o Museu Nacional tinha uma verba de 500.000 reais por ano, o que é ridículo para uma instituição desse tamanho e sobretudo se comparado com a do Museu do Amanhã, que foi criado sem acervo. Não se olha suficientemente para o passado no Brasil. Um país que não cuida de seu passado não pode ter um futuro feliz.”
Negligência com a história