A produtora rural e síndica do Projeto Apolônio Sales Joana Nogueira foi entrevistada ao vivo pelo radialista e blogueiro Assis Ramalho, no 'Acordando com as Notícias', programa transmitido pela Web Rádio Petrolândia. No bate-papo, entre outros temas, a servidora aposentada do Governo do Estado manifestou-se contrária à privatização da Chesf, questionou as declarações do ministro das Minas e Energia, Fernando Filho, que visitou Petrolândia na primeira semana de 2018, e analisou o momento político do município. A entrevista teve a participação de ouvintes, através de mensagens de whatsapp. A íntegra da entrevista esta disponível em áudio, no final desta matéria.
A entrevista foi iniciada com a apresentação da entrevistada, que falou do seu histórico de lutas sociais no município.
Joana Nogueira: Eu queria falar um pouco de Joana Nogueira. Desde a minha infância que eu sempre fui uma pessoa que gostei de movimentos sociais. Eu fui líder estudantil, fiz parte da Associação de Moradores da velha Petrolândia. Essa barragem [de Itaparica], eu também briguei muito, não junto com o polo [sindical], porque se preocuparam com o desenvolvimento da nação e esqueceram o social, e hoje nós estamos pagando essa consequência. Então, [quando] eu vim para [a nova] Petrolândia, minha casa nem porta tinha. Depois me aposentei, há 15 anos atrás, e tinha que ter algo para fazer, porque filho de pobre agricultor começa a trabalhar muito cedo e para ficar parado, é difícil. Tenho vários problemas de saúde, mas se eu não tivesse as atividades que tenho, talvez já não estivesse aqui entre nós. Minha avó que me criou e meu pai sempre me dizia que a gente tem de viver do suor do próprio rosto. Então, depois eu fui presidente do DIPAS [Distrito de Irrigação do Projeto Apolônio Sales], fui presidente da ACAMP [Associação dos Colonos Agropecuários do Município de Petrolândia] e, há vários mandatos, eu sou síndica (do Projeto Apolônio Sales). Meu mandato termina agora em agosto e espero que seja o último. Eu amo aquele projeto, por quê? Porque eu morei na Barreira velha. [De lá] a gente foi para Petrolândia, para que eu estudasse, e na Petrolândia velha eu morava na rua da Linha. Quando criança, vi muito o trem passar de Alagoas para Petrolândia. Tinha o cais, o ''beco das mulheres'', onde quando faltava energia a gente ia lavar prato, lavar roupa. E tudo isso era saudoso. E aqui [na nova Petrolândia], muitas coisas me entristecem. No Apolônio Sales, nós tínhamos água potável quando a Chesf fez um acordo com a prefeitura, ainda na gestão do saudoso Dr. Simões. Nós tínhamos água potável de segunda a segunda. Quando eu assumi o distrito, no dia de domingo já não tinha água, [então] já na gestão de Marquinhos [Marcos Antonio de Souza]. Então, eu mandei [ofício] para a prefeitura e Dr. Marquinhos deu continuidade a água de segunda a segunda. Depois, Lourival assumiu e também permaneceu. Então, no ano passado, nesta atual gestão, dia de domingo não tem água potável, no sábado, por quê? Por que não estão pagado hora extra ao bombeiro. Nosso município tem tudo para ser uma nova Petrolina, mas nós estamos precisando de políticos em um geral. No estadual, municipal, federal, e que vejam Petrolândia como uma cidade de futuro, de desenvolvimento.
De acordo com Joana, os governantes se preocupam com a política partidária e esquecem o social.
Joana Nogueira: Todos os governantes só se preocupam com a política partidária. E a política social? Por exemplo: eu sou política social. Quando eu resolvi assumir em definitivo a política social, eu me desfiliei de partido. Eu era filiada ao PTB, mas agora não sou filiada em partido nenhum, porque o meu único e exclusivo apego e preocupação e amor chama-se a política social. Os políticos partidários, inclusive, quando aqui vêm, eles não procuram as lideranças. Eles procuram os partidos políticos, os vereadores... Então, eu acho que devia haver também uma abertura para as lideranças, para os políticos sociais. Esses sim, conhecem os problemas do município.
Joana diz ter ficado contrariada com declarações feitas pelo ministro das Minas e Energia, Fernando Filho, em entrevista concedida ao programa Acordando com as Notícias, na Web Rádio Petrolândia.
Joana Nogueira: O que eu gostaria de perguntar ao ministro [Fernando Filho, das Minas e Energia] que aqui esteve [no Programa Acordando com as Notícias], porque a família Coelho é ribeirinho como nós, conforme coloquei na pergunta [no dia da entrevista, via WhatsApp]. Eu já votei em Fernando Coelho, em Adalberto Coelho, esses Coelhos todos. Então, o que me irritou com a resposta do ministro de Minas e Energia, ora como deputado federal, ora como ministro, é que é para votar como o governo quer. Porque a situação em que se encontra o nosso país, é constrangedora. É vergonhoso assistir ao Jornal Nacional. Eu nunca perdi [de votar em] uma eleição, mas hoje eu estou torcendo para completar 70 anos, pra eu votar se eu quiser, porque a gente não tem mais escolha. Fernando Filho, diante de mim, ele é uma criança. Ele se engana quando diz que só hoje estão vendo o problema [de escassez hídrica] do rio [São Francisco], que está crítico. Meu marido foi funcionário da Chesf durante 22 anos e [naquela época] houve um trabalho de recompor a mata ciliar. Inclusive, eu tenho na minha granja pés de caraibeiras que, na época, eu peguei. Colocaram estrume nas roças de várias pessoas, participei de várias reuniões a respeito, antes desta segunda Transposição. Então, ele é uma criança pra mim. O pai dele não, Fernando Bezerra Coelho. Eu, inclusive, já votei várias vezes nele. Eu critico, mas até tiro o chapéu [para a família Coelho], porque Petrolina só é o que é, porque eles se dividiram. Um vai para um lado, outro vai para o outro, e o que ganhasse estava com o poder na mão. Eles nunca perderam o poder. E, porque ele [Fernando Filho], como ribeirinho, está lá no Ministério de Minas e Energia, por que ele não providencia essa dragagem, esse desassoreamento no nosso Velho Chico? Vai deixar ele morrer?
Joana diz ter ficado decepcionada com os vereadores Dedé de França e Delano Santos, que não a convidaram para a reunião de recepção ao ministro Fernando Filho.
Joana Nogueira: Lourival avisou a Dedé de França, avisou a Delano, que eu estava precisando falar com o ministro, e nenhum deu a mínima. Minha avó dizia: ''quem quiser saber quem é o homem, dê dinheiro ou poder''. E eu estou vendo isso hoje, porque eu tirava o chapéu para os dois.
Decepcionada com os políticos da região, Joana Nogueira elogia o coordenador geral de produção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mychel Ferraz, pré-candidato a deputado estadual. De acordo com ela, Mychel vem desenvolvendo um ótimo trabalho na região de Itaparica.
Joana Nogueira: Este ano eu já estou sabendo como vou votar. Eu vou aqui citar um exemplo de um cidadão, que ele é membro da Secretaria de Agricultura. Ele sempre fez reunião, já foi até na minha casa para se reunir, para conversar. Ele se chama Mychel Ferraz, é daqui de Floresta. Ao que tudo indica, ele será um candidato. Primeiro a gente planta, para depois colher. Então, ele fez um trabalho que eu tiro o chapéu. Desde o ano passado ele já fez várias reuniões para nos ouvir. Fez reunião com Ricardo, na prefeitura, fez reunião antes das eleições, e hoje ventila-se a possibilidade de ser um candidato a deputado estadual. Então, eu acho que vale a pena testar aqueles que nunca foram. Se não prestar, descarte também. Antes, a minha proposta era votar zero, zero, zero, confirma. Mas eu vou avaliar quem são realmente os candidatos.
Joana Nogueira responde a ouvinte do programa que pede uma avaliação do ano político de 2017, em Petrolândia.
Joana Nogueira: Uma esculhambação! Eu sou muito curta e grossa, todo mundo sabe disso. Mas, foi outra coisa que muito me decepcionou. Eu não votei no primo dos meus filhos, todo mundo sabe disso. Houve muitos comentários, mas a mim pouco importa, porque ninguém me dá minha comida. Mas, eu achei um absurdo, tudo que aconteceu. Primeiro, me desculpe Ricardo, que é uma pessoa que eu sempre admirei muito, mas eu me decepcionei. Renunciou e entrou Janielma. Mas, eu disse a ela na sexta-feira, quando tive reunião com ela. Eu tenho muita consideração a Marquinhos, que na gestão dele foi um excelente prefeito, mas eu tinha dito que tinham trocado seis por meia dúzia, porque ela estava conduzindo, praticamente da mesma maneira que Ricardo. Ricardo foi uma pessoa que sempre admirei, mas só que ele não tinha perfil para gerir um município, como Janielma também está deixando muito a desejar. Ela me desculpe. Eu, como munícipe, como contribuinte, eleitora, ajudei. Votei neles. Então, quem tem mais poder e força para dizer o que é que está sentindo, é quem ajudou, quem serviu de escada, um degrauzinho para que subisse. Então, não sei mais se eu tenho esperança de melhora, porque vai ter agora uma seleção, quando o pessoal da cidade fica desempregado. Aí vem gente dos 'quintos dos infernos' , como lá no Projeto Apolônio Sales, tem uma enfermeira que veio de Monteiro, na Paraíba, que ela não me mordeu, porque nem para veterinária ela serve, porque os animais iriam morrer todinhos. Ela não me mordeu, porque tive que dar um murro na parede. Estou sem ir no posto [PSF]. Quando Ricardo soube, mandou ela dar parte [na delegacia]. O marido dela ainda me ligou, me ironizando, perguntando se eu queria ir para o hospital. Mas, eu disse que não precisava, porque eu sabia pedir a ambulância. Eu disse à prefeita: tome as providências. Disse a Ricardo, na época. Ricardo, nada fez. Jane, ainda nada fez. Então, o ano [de 2017] foi horroroso.
Na entrevista, Joana Nogueira ainda comenta vários outros temas do município e responde perguntas de ouvintes.
Ouça a íntegra do áudio da entrevista >Entrevista Joana Nogueira na Web Rádio Petrolândia
Redação do Blog de Assis Ramalho