Apesar dos pedidos da rede privada de ensino, o governo de Pernambuco enfatizou que ainda não há data prevista para o retorno das aulas. No estado, as aulas estão oficialmente suspensas até este sábado (15). Em debate virtual promovido pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) nesta quarta-feira (12), o secretário estadual de Educação e Esportes, Fred Amancio, disse que não cabe à pasta que ele comanda decidir sobre o retorno. Segundo o secretário, a definição sobre a retomada das atividades presenciais depende de liberação das autoridades sanitárias do estado que fazem parte do Comitê de Enfrentamento à Covid-19.
A sessão online da Alepe foi comandada pelo presidente da Comissão de Educação e Cultura, o deputado estadual Romário Dias (PSD). "Vamos elaborar um relatório, assinado pelos 10 integrantes da comissão, com o que foi discutido nesta tarde e entregar ao governador Paulo Câmara", disse. Além de Fred Amancio, participaram do debate o deputado estadual e membro da comissão Paulo Dutra (PSB); o secretário estadual de Saúde, André Longo; o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Pernambuco (Sinepe-PE), José Ricardo Diniz; além de outros representantes de entidades ligadas ao setor da educação.
No debate, o secretário estadual de Educação destacou que não é possível pensar em uma retomada das aulas presenciais sem que as autoridades sanitárias permitam. "Ainda não temos uma data estabelecida. Quem toma essa decisão não é a Secretaria Estadual de Educação e Esportes. É o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 no estado, que avalia diariamente os dados. A educação é complexa e exige um olhar diferenciado. No momento, dependemos dos dados da pandemia", afirmou.
Fred Amancio pontuou ainda que alguns dos prejuízos trazidos pela suspensão das atividades presenciais nas escolas serão irreversíveis. "A aula não-presencial não substitui as atividades que são realizadas nas escolas, mas são importantes para não perder o vínculo com o aluno e para não aumentar os prejuízos. Alguns serão irrecuperáveis. Uma questão que nos preocupa é o abandono escolar. Muitos estudantes já revelaram que ficaram desestimulados e não pretendem voltar", disse.
O secretário de Saúde do estado, André Longo, enfatizou que a pandemia da Covid-19 é o maior desastre de saúde pública dos últimos 100 anos. "Não há um modelo a ser seguido nesse sentido e também não existe um comportamento homogêneo no Brasil ou no estado. Enquanto a Região Metropolitana do Recife caminha para uma resolução, temos um estágio intermediário no Agreste e uma intensificação dos casos no Sertão. Só teremos um cenário isento de risco quando tivermos uma vacina segura e eficiente. Vamos pesar essas questões e buscar o melhor momento para propiciar um ambiente o mais seguro possível", comentou.
Segundo Longo, existem cinco premissas essenciais para a retomada das aulas em Pernambuco, além do protocolo setorial apresentado no dia 15 de julho pelo governo do estado. "Pessoas de grupos de risco devem ser preservadas; os sintomáticos e seus contatos devem ser afastados, mesmo que não tenham diagnóstico da Covid-19, por pelo menos 10 dias; as estruturas das escolas devem ser revisadas; o retorno deve ser gradual e o uso de máscara obrigatório, além da lavagem constante das mãos. Além disso, todos os sintomáticos devem ser testados e ter os contatos rastreados", pontuou.
Dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) apontam que, dos 24.450 casos graves da Covid-19 registrados em Pernambuco, 520 foram em crianças de 0 a 9 anos. Dessas, 43 morreram. Entre pacientes de 10 a 19 anos, foram 282 casos graves e 21 mortes. "Estamos melhorando em vários indicadores em Pernambuco e no Recife, mas o estado tem uma diversidade grande de situação. Em média, a capital tem de 150 a 230 casos por dia, além de seis a sete mortes. O estado tem de 1 mil a 1,4 mil casos diários e registra uma média móvel de 33 a 41 óbitos. Estamos melhores do que meses atrás, mas não nos dá a certeza de que temos baixo risco nem que podemos defender a volta", esclareceu a professora do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Pernambuco, Cristina Raposo.
O presidente do Sinepe-PE, José Ricardo Diniz, afirmou que o tratamento em relação às escolas está sendo diferente do oferecido aos outros setores econômicos do estado. "Conhecemos o nosso público pelo nome. É um público constante, diferentemente dos shoppings, feiras e supermercados. Defendemos a prontidão, ou seja, se cumpriu o protocolo, pode retornar. A volta seria gradativa e progressiva. Sejamos justos e tenhamos uma medida comum e que nenhum outro viés interfira nisso", disse.
Representando os professores no debate, os presidentes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) e do Sindicato dos Professores de Pernambuco (Sinpro-PE), Fernando Melo e Helmilton Bezerra, respectivamente, se posicionaram contra o retorno das atividades presenciais. "O que nos preocupa não é só o que acontece dentro das escolas, mas fora delas também. Muitos estudantes, professores e funcionários precisam usar o transporte público e pesquisas já mostraram que muitas contaminações acontecem nesse ambiente", afirmou Fernando. "Um retorno às aulas agora é precipitado e pode aumentar a possibilidade de contágio", completou Helmilton.
Durante a audiência pública, o deputado estadual Paulo Dutra (PSB) também se posicionou contrário ao retorno imediato das aulas no estado. O parlamentar esclareceu que sua sugestão para a utilização do ensino híbrido, que mescla atividades presenciais e remotas, nos anos finais (quinto e nono anos do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio) é uma alternativa caso o governo decida pelo retorno ainda em 2020. "Não sou a favor da volta às aulas, mas, se o estado decidir pelo retorno, sugerimos que apenas os estudantes dos anos finais voltem por meio do ensino híbrido, seguindo os protocolos de segurança estabelecidos. Os demais anos devem permanecer de forma remota. Nossa proposta é se fazer 2020 e 2021 em um ano só", disse.
Por Diário de Pernambuco