O tenente-coronel Mauro Cid (à esq.) e o ex-comandante do Exército e general da reserva Marco Antônio Freire Gomes —Fotos de Pedro França/Agência Senado e Cristiano Mariz/O Globo
Diálogos obtidos pela Polícia Federal (PF) na investigação do plano golpista para reverter a vitória de Lula nas eleições de 2022 demonstram que o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, recebeu informações constantes do tenente-coronel Mauro Cid sobre os planos de golpe de Jair Bolsonaro e aliados ao longo de 31 dias, através de um aplicativo institucional da Força militar.
Na representação que embasou a operação Tempus Veritatis, deflagrada no último dia 8 com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF cita cinco áudios encaminhados pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro a um contato que, pela “análise dos dados e a contextualização” a partir das demais evidências colhidas pelos policiais, “indicam que as mensagens tinham como destinatário o então comandante do Exército, general Freire Gomes”.
Entre os dias 8 de novembro e 9 de dezembro de 2022, Cid, que é oficial da ativa, relatou ao general detalhes das tratativas golpistas discutidas a portas fechadas, entre eles a decisão de Bolsonaro de “enxugar” a minuta do golpe e manter apenas a determinação da prisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do STF, Alexandre de Moraes, e excluir outras autoridades da lista.
“Hoje o que ele [Bolsonaro] fez de manhã? Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos [sic] que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais, é… Resumido, não é?”, disse Mauro Cid no áudio enviado ao celular que a PF diz ser de Freire Gomes às 12h33m do dia 9 de dezembro.
Dois dias antes, de acordo com o que a PF constatou nos registros da portaria do Palácio da Alvorada, estiveram lá o chefe do Exército e seu contraparte da Marinha, Almir Garnier Santos, além do ministro da Defesa, o general da reserva e ex-comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira.
Em sua delação, o tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens do ex-presidente, afirmou que nesse dia Bolsonaro apresentou uma minuta de um decreto que previa a prisão de Moraes – além da convocação de novas eleições, e, por consequência, da anulação da vitória de Lula – aos comandantes com o objetivo de sondar os ânimos quanto ao plano que estava em curso.
Dois minutos depois da primeira mensagem, Cid ainda enviou outro áudio que, para os investigadores, ratifica “[a relação das] pessoas que participaram da reunião no dia 07/12/2022 e a existência do decreto que foi alterado e limitado" por Bolsonaro.
“Ele mexeu naquele decreto, né. Ele reduziu bastante [a minuta] e fez algo muito mais direto, objetivo, curto e limitado”, afirma a transcrição.