O ex-presidente Bolsonaro com o ex-comandante de Operações Especiais Mário Fernandes, que foi para seu governo depois de ir para reserva — Foto: Isac Nóbrega/Presidência A aproximação entre Jair Bolsonaro e membros do Comando de Operações Especiais do Exército, formado pelos chamados “kids pretos”, já chamava a atenção da cúpula militar no governo anterior.
Hoje, integrantes desse grupo estão na mira da Polícia Federal por suspeita de terem iniciado os atos golpistas de 8 de janeiro. O primeiro alvo dos investigadores foi o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, que sofreu uma ação de busca e apreensão nesta sexta-feira e prestou depoimento.
Bolsonaro já mostrou interesse por esse grupo de elite das Forças Armadas, que integra a Força Especial do Exército, em seu primeiro ano de governo.
Em 2019, o então presidente viajou até Goiânia, onde fica o Comando de Operações Especiais, e chegou a praticar tiro ao alvo no local. Na ocasião, Bolsonaro foi ciceroneado pelo, à época, comandante Mário Fernandes. O general, que fez parte dos “kids pretos”, foi para a reserva no ano seguinte e acabou no coração do governo, como assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República, onde ficou até o fim da gestão Bolsonaro.
Com a derrota do ex-presidente para Lula, Mário Fernandes estava inconformado e fez apelos a colegas da caserna e ao então comandante do Exército, Freire Gomes, para “agir”, como mostrou a revista “piauí”.
Bolsonaro se cercou, em seu governo, de membros dos “kids pretos”. Além de Mário Fernandes e Ridauto Lúcio Fernandes, que foi diretor de logística do Ministério Saúde, outros nomes do primeiro escalão da Esplanada tiveram passagem por esse grupo antes de entrarem para a reserva.
Entre eles estão o deputado federal e ex-ministro Eduardo Pazuello (PL-RJ), o coronel da reserva Élcio Franco, que foi número 2 de Pazuello na Saúde, e o ex-ministro da Casa Civil e da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos. Outro nome que compôs a Força Especial foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e, hoje, delator.
Nas Forças Armadas, a preocupação é a de que a ação de integrantes do grupo, a maioria da reserva, contamine a imagem do comando de elite do Exército. A cúpula militar tem trabalhado para desvincular a atuação de alguns membros da instituição e tratar as condutas de maneira individualizada.
Por Bela Megale - O Globo