Incerteza sobre a política fiscal, ruídos sobre a PEC da Transição e comentários do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva geraram um clima de extremo nervosismo, ontem, no mercado financeiro. Principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa recuou 3,35% fechando o pregão aos 109.775 pontos. Foi a pior queda desde 26 de novembro do ano passado. O dólar, por sua vez, disparou 4,14%, a maior elevação diária desde 16 de março de 2020, e terminou o dia cotado a R$ 5,396.
A "tempestade", como avaliaram alguns analistas, começou ainda pela manhã, quando, em discurso no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Lula teceu críticas ao controle de gastos e afirmou que a prioridade do governo é resolver as questões sociais do país. "Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal neste país? Por que que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos? É preciso fazer superavits? É preciso fazer tetos de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social do país?", questionou o presidente eleito.
Logo após a fala de Lula o Ibovespa chegou a perder 5 mil pontos e a registrar queda de 4,4%. No fim da tarde, na saída do CCBB, questionado por jornalistas, o petista ironizou: "Eu nunca vi um mercado tão sensível quanto o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos de (Jair) Bolsonaro". Em seguida, nas redes sociais, o presidente eleito tentou acalmar os investidores. "Podem ficar tranquilos", escreveu no Twitter.
O estrago, porém, já estava feito. O ruído político fez a bolsa brasileira operar na contramão do exterior, onde o clima foi de euforia. Nos Estados Unidos, após o anúncio de que a inflação ficou abaixo do esperado em outubro, com taxa anualizada de 7,7%, os investidores correram às compras, e o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, terminou o pregão com variação positiva de 3,72%. O Nasdaq, que acompanha as ações de empresas de tecnologia, teve uma alta histórica de 7,35%.
Na leitura do mercado, com a inflação mais comportada, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não vai precisar carregar a mão na política de juros elevados para segurar os preços, o que é bom para as ações. Na Europa, o ânimo não foi diferente, e as principais bolsas registraram alta firme. O índice Stoxx Europe 600, que reúne ações das maiores empresas do continente, avançou 2,75%.
Por aqui, o cenário foi o oposto. Além das dúvidas sobre a política fiscal, contribuiu para o mau humor do mercado o anúncio, pelo IBGE, de que a inflação voltou a subir, após três meses de queda. Se a tendência persistir, isso significa que o Banco Central pode manter elevada a taxa básica de juros, a Selic, por mais tempo do que o previsto.
Reação a Mantega