Há exatamente 67 anos, o presidente Café Filho inaugurava, em 15 de janeiro de 1955, a primeira usina (PA-1) do complexo hidrelétrico da Chesf em Paulo Afonso. Muito tem sido escrito sobre essa verdadeira epopeia acertadamente denominada de A Redenção do Nordeste. A mais recente narrativa acaba de ser publicada pelo professor Antônio Galdino.
Quando a primeira carga de energia elétrica hidráulica chegou a Salvador, eu era bem pequeno. Lembro da alegria e orgulho cívico do meu pai ao acionar o interruptor, que chamávamos chuíte (de switch – troca, mudança em inglês). Na matéria de Galdino, meu editor-chefe, não resisti colocar o comentário que passo agora para o meu leitor:
Até 15 de janeiro de 1955, a nossa energia, em Salvador, vinha da queima de combustível fóssil em duas ou três usinas térmicas. A instabilidade era grande. A luz faltava e a minha mãe logo procurava acender os candeeiros. Não deixava de ser uma festa para nós, os meninos da casa, embora a situação fosse muito desconfortável. Ainda hoje, o cheiro de querosene está nas minhas narinas. Até que um dia meu pai nos informou que “agora temos energia [confiável] de Paulo Afonso”. A nossa festa macabra acabou.
Entre parênteses, nesse ínterim ou neste interregno, já está nas mãos do editor entrevista realizada com o empresário Sebastião Leandro de Morais. Um dos questionamentos ao entrevistado diz respeito ao fato de nós louvarmos e valorizarmos o papel de Abel Barbosa e Silva (eu sou um deles) na emancipação de Paulo Afonso e displicentemente subestimarmos o papel de Otaviano Leandro de Morais (primeiro prefeito eleito).
Na cerimônia de inauguração da PA-1, em 15 de janeiro de 1955, a fita foi cortada pelo então presidente João Café Filho apenas quatro meses e vinte e dois dias após o suicídio de presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954. “Getúlio fez o decreto [em 1948] e Dutra realizou” (a composição da Chesf e o início das obras). Assim sendo, além de “comprar” a ideia antiga reforçada por homens de valor como Apolônio Sales e Antônio Alves de Souza, Getúlio Vargas, o verdadeiro lançador dos alicerces do Brasil moderno, foi o tocador da obra. Tanto em relação a Otaviano como a Getúlio Vargas, o nosso mea culpa. Confessamos a nossa omissão relativa e pedimos desculpas.
Outrossim, de certa forma relativizamos o denodo, o empenho e o trabalho dos operários, os verdadeiros construtores das usinas chamando a atenção para a competência da engenharia nacional. Certos da aquisição da tecnologia importada, mas também certos estamos da responsabilidade dos nossos engenheiros, técnicos e aqueles que carinhosamente denominamos cassacos. Eles eram cientes que o dono do defunto é quem pega na cabeça do caixão. Assim deu certo a empreitada.
A título de testemunho, a minha constatação pessoal do que acabamos de descrever no parágrafo anterior desde que entrei para a companhia em 1973, tendo sido transferido para Paulo Afonso em 1974. Logo verifiquei a competência e a seriedade do nosso pessoal. Os mestres e chefes de turma eram sérios, compenetrados e competentes. Os engenheiros e técnicos sabiam desenrolar a montagem das usinas. Dei aulas de inglês a alguns engenheiros e gestores de empreiteiras. Eles não desligavam o telefone. As nossas aulas eram constantemente interrompidas. O fio da meada era interrompido e a qualidade da assimilação das estruturas da língua ficava prejudicada.
Encerrando a nossa já longa matéria, a sugestão de uma pesquisa para verificar se algum dos onze operários que aparecem, sem camisa, capacete; luvas ou botas, na famosa foto de 1950 dentro de um dos túneis da Usina PA-1; verificar se ainda está vivo. Certamente todos ficaríamos felizes em lhe prestar as homenagens devidas como prestamos aos primeiros diretores da CHESF e aos batalhadores aos quais devemos o início da Redenção do Nordeste do Brasil.