O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (30) que, na opinião dele, a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal foi "política". Bolsonaro afirmou ainda que o governo vai recorrer da decisão de Moraes.
A decisão de barrar o nome de Ramagem saiu na quarta-feira (29). Moraes entendeu que a nomeação, assinada por Bolsonaro, feria o princípio da impessoalidade na administração pública. Ramagem é amigo do presidente e de seus filhos. Além disso, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, ao se demitir, disse que Bolsonaro tenta interferir politicamente na PF. Moraes levou em conta as considerações de Moro em sua decisão.
Bolsonaro falou com jornalistas na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada. Ele mencionou o fato de que Ramagem já comanda a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), portanto estaria apto para comandar a PF.
"Se não pode estar na PF, não pode estar na Abin também. No meu entender, uma decisão política, política. E ontem [quarta] comecei pronunciamento falando da Constituição. Eu respeito a Constituição e tudo tem um limite", afirmou o presidente.
O presidente disse esperar que, após o governo apresentar o recurso, a decisão do tribunal seja tão rápida quanto a que suspendeu a nomeação de Ramagem.
"Vai recorrer. Conversei ontem com Jorge, conversei também com outros ministros. E vai recorrer. Lamento agora que não tem tempo. Agora demora semanas, meses. Eu espero que seja tão rápida quanto a liminar", continuou Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, ele afirmou que o governo estuda um novo nome: "Então, estamos discutindo aí um novo nome, uma nova composição para a gente fazer com que a Polícia Federal realmente agora tenha isenção e ajude o Brasil com o trabalho que ela sempre fez desde a sua existência. Então, a questão é essa no momento", declarou Bolsonaro.
O presidente disse que ainda não engoliu a decisão de Moraes. Para Bolsonaro, não é assim que se trata um presidente da República.
"Eu não engoli ainda essa decisão do senhor Alexandre de Moraes. Não engoli. Não é essa a forma de tratar um chefe do Executivo que não tem uma acusação de corrupção, que faz todo o possível pelo o seu país, sacrifica sua família, sacrifica seus amigos, sacrifica a todos", reclamou Bolsonaro.
Ele ainda sugeriu que Alexandre de Moraes só foi nomeado para o Supremo por ser amigo do ex-presidente Michel Temer. Moraes foi escolhido por Temer em 2017 para ocupar a vaga do ministro Teori Zavascki, morto em acidente de avião em janeiro daquele ano. Na época, Moraes era ministro da Justiça do governo Temer.