O humorista Murilo Couto, que integra o elenco do programa The Noite, no SBT, realizou comentários ofensivos ao forrozeiro pernambucano Assisão, "o Rei do Forró", no último sábado (25). Couto afirmou que o cantor parece um "cachorro, um drogado", com base em imagens de uma transmissão ao vivo de Assisão na internet. A live foi feita no dia 17 de abril. Assim como outros artistas do país, o cantor buscava arrecadar doações diante da pandemia da Covid-19.
"Que diabo é isso? Parece um cachorro. Se a Luísa Mell (digital influencer) ver esse 'véio', ela adota achando que é um cachorro que tá na rua", afirmou no início. "Você não sabe de ele está bêbado, drogado ou se ele é isso aí, esse zumbi", completou. Na manhã do domingo (26), Couto declarou que recebeu centenas de mensagens contra o vídeo postado e pediu desculpas pelos comentários ofensivos. "Peço desculpa, porque fui muito ignorante", admitiu o humorista.
Na semana passada, o artista plástico pernambucano Samuel de Sabóia foi alvo de piada de Léo Lins, que também faz parte do elenco do The Noite, no SBT. O comentário desencadeou uma série de comentários desrespeitosos e racistas.
Notas de repúdio
Assissão recebeu apoio de diversas personalidades, de músicos a políticos. O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) publicou que "Assisão, é uma das figuras mais importantes da música regional de Pernambuco. De Serra Talhada, no Sertão do Pajeú, faz parte de uma geração de forrozeiros que orgulha sua terra".
O músico Jorge de Altinho postou: "Apesar de triste, essa é uma oportunidade para refletirmos sobre o reconhecimento que damos a nossa classe artística. Em que posição estamos colocando os nossos representantes? Posição de 'destaque' ou de 'desprezo'?". Alcimar Monteiro, Elba Ramalho e Maciel Melo também defenderam o músico pernambucano. "Agradeço o carinho de todos que, assim como eu, são defensores da cultura nordestina. Meu muito obrigado!", publicou Assisão, nesta segunda-feira (27).
Assista abaixo ao vídeo onde o humorista chama o pernambucano Assisão de 'cachorro drogado'.
Conheça abaixo a brilhante carreira do cantor Assisão em entrevista [arquivo) concedida ao radialista e blogueiro Assis Ramalho
Considerado um dos maiores talentos do autêntico forró de raiz, o cantor e compositor Assisão detalhou sua extensa e brilhante carreira em bate papo com Assis Ramalho em plena rua de sua terra natal, Serra Talhada. Nascido na Fazenda São Miguel, zona rural de Serra Talhada, Assisão desde criança já mostrava talento para cantar e compor. Durante sua adolescência pensou em ser médico, chegou a ir para o Recife estudar no Colégio Salesiano, onde fez curso preparatório para prestar vestibular. Entretanto acabou desistindo antes da conclusão e voltou para sua terra natal, onde permanece até hoje.
Mais de meio século de estrada - Assisão tem 57 anos de carreira, contados do primeiro compacto gravado na Rozenblit, em 1962, com quatro músicas de sua autoria: “Naquele tempo não era fácil gravar. Fiz este compacto, voltei para minha cidade. Continuei cantando carnaval, baile. Participei de um grupo, o Azes do Baião. Compunha e mandava para as gravadoras”, conta o cantor. Com 49 discos gravados e recorde de 300 mil cópias vendidas de “Pau nas Coisas”, Assisão computa umas 700 músicas em seu repertório.
Seu estilo musical recebeu influências de grandes nomes da música nordestina, como Luiz gonzaga e Jackson do Pandeiro. O artista possui um repertório com cerca de 700 músicas gravadas.
As músicas do serra-talhadense estão presentes em todo os “arrasta-pé” e festas tradicionais do Nordeste. Entre os grandes sucessos do artista destacam-se: Forró Pesado, Peixe Piaba, Fogueirinha, Pequeninha e muitos outras que foram gravadas por artistas como Elba Ramalho, Trio Nordestino e Mastruz com Leite.
Sempre com agenda lotada, o “Forrozeiro Romântico'' afirmou à reportagem do Blog de Assis Ramalho que todo artista deve ter o seu espaço, mas critica as secretarias de cultura, que segundo ele, estão atropelando o forró.
A relação de nomes que o gravaram é extensa. Sua fama como compositor antecedeu a de cantor. Em 1975, o Trio Nordestino emplacou dois grandes sucessos com Forró pesado e Esquenta moreninha, de Assisão. O que levou os concorrentes dos Três do Nordeste e recorrer ao talento do pernambucano no ano seguinte. No LP Forró pra juventude, de 1976, cinco das 13 faixas são assinadas por Assisão. Até aí a censura não o incomodava. Isto porque não sabia ler nas entrelinhas: “Esquenta moreninha é uma relação de um casal que se encontra num forró”, entrega Assisão, cantarolando os versos: “Curtir uma ressaca no seu colo estou seguro/Sem contar com os beijinhos no cantinho/atrás do muro/tem boi na linha/tem, tem, tem”.
O forrozeiro lembra dos shows em Petrolândia e Barreiras, principalmente os realizados nos circos.
Acompanhe abaixo trechos da entrevista concedida a Assis Ramalho.
Assis Ramalho: Assisão, que coisa fantástica, eu sou seu fã e de repente eu te encontro aqui. Você no meio do povo, em plena rua de Serra Talhada com tanta simplicidade, fale um pouco de tudo isso.
Assisão: É o seguinte: o artista, ele é artista no palco. Saiu, ele é uma pessoa comum. Cantar, todo mundo canta, agora uns têm mais oportunidades e outros não. Mas cantar, todo mundo canta. Isso é normal.
Assis Ramalho: Assisão, faça aí um balanço de sua carreira. Eu sei que é um pouco complicado essa pergunta, mas você, que é um artista famoso, que é consagrado aqui no Sertão e em todo Pernambuco (e estados circunvizinhos). Faça um rápido balanço de sua carreira.
Assisão: Em 2019 eu completei 57 anos de forró, com quatro discos de ouro, um de platina, títulos e muitos troféus.
Assis Ramalho: Hoje, os artistas estão muitos debandados para o lado de oportunismo. Inclusive eu lembro que você lançou (inovou) um disco há anos atrás, com bateria eletrônica (todos os estrumentos eletrônicos). Hoje, Assisão tem esse reconhecimento como um forrozeiro (sem fugir das origens) que revolucionou esse lado?
Assisão: Bem, reconhecimento tem, porque eu fui o primeiro a botar instrumentos eletrônicos (contra-baixo, guitarra, bateria) e sem fugir das raízes.
Assis Ramalho: Faça um balanço das músicas lançadas hoje. Hoje (a música) está muito misturado, Assisão?
Assisão: Bem, a música de hoje é boa. Toda música é boa. Agora, o que eu não aprovo muito é os oportunistas...
Assis Ramalho: Mas não está cheio de oportunistas o mundo dos artistas?
Assisão: É, oportunistas sim. O artista, ele vai ser artista pra ter a profissão dele. Agora, as secretarias de cultura é que não estão valorizando a época (períodos). Mas quanto a contratar A ou B, eu não tenho nada a ver com isso. Agora, como eu já tenho esse tempo todo no forró, eu estou achando que as secretarias de cultura estão atropelando o forró.
Assis Ramalho: Você disse que tem 57 anos de atividade (carreira). Destes artistas atuais, quem poderia atingir essa marca?
Assisão: Rapaz, depende deles. Primeiro: Não (pode) ter frescura e (tem que) ser amigo de todo mundo, e segundo, (é preciso) fazer um trabalho bom.
Assis Ramalho: Assisão, deixe uma mensagem para Petrolândia, que adora você.
Assisão: Petrolândia eu conheço desde a Barreiras Velha. Quando a gente fazia show em Petrolândia, quando tinha um circo, a turma já gritava: "traz Assisão!"
Assis Ramalho: Valeu, Assisão, e muito obrigado (pela entrevista).
Assisão: Obrigado e um abração ao povo de Petrolândia .