Além de garantir recarga aos reservatórios, a chuva muda a paisagem no Sertão cearenseFOTO: HONÓRIO BARBOSA
A esperança é cinza. Pelo menos para o sertanejo, é essa a cor que mais lhe enche os olhos neste período de pré-estação (dezembro e janeiro) e estação chuvosa (fevereiro a maio). Cinza é a cor das nuvens carregadas, prestes a mandar água para o Sertão, assim como aconteceu, em abundância, entre as 7 horas de quarta-feira (8) e 7 horas de ontem (9). De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), 114 das 184 cidades cearenses foram banhadas pelas chuvas neste intervalo, beneficiando mais de 40 açudes do Estado. As principais precipitações estiveram concentradas no Sertão Central e Inhamuns.
O maior volume pluviométrico deste período foi verificado no município de Pedra Branca, com 172 milímetros. Este índice ultrapassou o acumulado observado entre os dias 27 e 28 de março de 2005 (150 mm), e se tornou a maior precipitação já registrada na história do Município - desde que a Funceme começou o monitoramento diário das chuvas, em 1973.
Apesar do robusto volume no Município, não houve registros de ocorrências nas zonas rural ou urbana. O coordenador da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Pedra Branca, Reginaldo Souza, explicou que a chuva, iniciada por volta das 4 horas se concentrou sobre o açude Trapiá, distante 7 km da sede urbana. "Já visitamos o reservatório e outras localidades próximas para averiguar se houve alguma ocorrência. Mas, as precipitações não trouxeram nenhuma dano em estradas, casas ou ruas", detalha Souza. Ele acrescenta ainda que, devido à geografia da cidade, a água não causou alagamentos. "A cidade não tem uma topografia plana. Pedra Branca tem ruas com muito declive, a chuva bate e escoa rapidamente", explicou.
O intenso volume registrado em Pedra Branca e em outros municípios, como Mombaça (166 mm), Tamboril (139 mm), Itapipoca (107 mm) e Croatá (106,8 mm), é considerado, pelo meteorologista da Funceme, Davi Ferran, "pouco comum" para janeiro. O especialista explica que essas chuvas decorrem "da aproximação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)", fenômeno este que é o principal indutor de precipitações entre fevereiro a maio e não na pré-estação chuvosa. "É pouco frequente a Zona de Convergência Intertropical se aproximar nessa época do ano", pontua Davi, ao acrescentar que "para janeiro, são esperados fenômenos como os Cavados de Altos Níveis (CAN) e Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), além de ocorrência de frentes frias na Bahia que podem influenciar chuvas no Sul do Ceará".
Alívio
As chuvas registradas neste início de janeiro já representam mais de 40% de todo o volume esperado para o mês. Até ontem (9), a Funceme já havia observado o acumulado de 57,9 mm, índice que caminha para se aproximar da média histórica, que é de 98,7 milímetros. Todo este volume de água, já previsto, em dezembro, por meteorologistas do Clima Tempo, ajuda a minimizar o cenário de escassez na maioria dos açudes cearenses. As precipitações das últimas 24 horas garantiram recarga hídrica para 43 dos 155 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
A expectativa é de que as chuvas continuem ao longo do mês, o que pode gerar aporte em outros açudes. A situação é delicada. Os três maiores reservatórios cearenses agonizam. O Castanhão acumula somente 2,6% de sua capacidade total de água. O Orós, segundo maior do Ceará, está com apenas 5,11% de água e, o Banabuiú, encontra-se com pouco mais de 7% do volume máximo.
Apenas o Germinal, na cidade de Palmácia, está com volume acima de 90 %. Outros 93 açudes com volume abaixo de 30 % e 31 estão com volume morto. Dos 155 reservatórios cearenses, 14 estão secos.
Fortes chuvas
Para esta sexta-feira (10), a previsão é de mais chuvas, em alguns casos com trovoadas, em todas as regiões cearenses. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Norte do Estado e as regiões litorâneas devem concentrar as precipitações mais intensas. "Os ventos estão vindos do Nordeste, trazendo umidade para a região e favorecendo fortes chuvas", anunciou Maitê Coutinho, meteorologista do Inmet.
O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe) confirmou prognóstico, e expandiu a previsão para amanhã (11). "Continua a chance de acumulados significativos e chuvas fortes em todas as regiões", ressaltou o meteorologista Bruno Miranda. Ele acrescenta que, para domingo, "reduz a possibilidade de chuva no extremo sul do Estado, mas permanece no litoral". A Defesa Civil de Fortaleza emitiu um alerta para hoje. O órgão aconselha os moradores da capital cearense a não "transitar por áreas alagadas". A possibilidade de chuvas com trovoadas é outro fator que causa preocupação das autoridades.
No início da tarde de ontem (9), um caminhoneiro de 37 anos, natural de São Paulo, morreu, e outras três pessoas ficaram feridas após serem atingidas por um raio na localidade de Sítio Perereca, em Jaguaruana. Ele foi identificado como Ricardo Cardoso da Silva. De acordo com o delegado Alisson Nunes, da Delegacia Municipal de Polícia Civil da cidade, as vítimas descarregavam o caminhão no momento em que foram atingidas pela descarga elétrica.
Os feridos, que não tiveram suas identidades reveladas, foram levados para atendimento médico no Hospital Municipal de Jaguaruana. O estado de saúde deles não foi revelado.