Após vários anos em situação de rua na cidade de Petrolândia, várias buscas infrutíferas pela sua família e com a saúde prejudicada, o popular conhecido como "Wilson" teve, finalmente, um novo recomeço para sua história. Graças à atuação de pessoas que o ajudaram, providenciaram um teto e buscaram, incansavelmente, seus familiares, ele foi identificado, recebeu documentos e está, enfim, aposentado. A próxima etapa é o retorno de Geneilson para junto da família, no Rio de Janeiro.
Nascido em 1961, Geneilson tem 58 anos e sofre de problemas mentais que, esporadicamente, provocam surtos. Segundo a artesã Fátima Belém, Wilson chegou a Petrolândia há mais de 20 anos, em família conhecida, época em que ela ainda vendia tapiocas nas calçadas, e ele vivia nas ruas, e desde então ela o ajudaria, juntamente com vários moradores da cidade que doavam roupas e comida. De acordo com ela, a busca por parentes de Wilson é antiga. Foram publicadas fotografias dele no extinto Orkut e ela mesma teria enviado foto para tentar divulgação em emissoras de TV, mas tudo sem retorno.
A artesã afirma que continuou na preocupação, "fazendo o que podia. Quando não podia, pedia à população, pra (conseguir) roupas, para o banho de Wilson". Acrescenta que, em maio de 2018, depois de um surto muito forte, em que ele não obedecia a ninguém, nem a médico nem ao pessoal de ambulância, "e só Fafá é quem fazia esse trabalho (convencê-lo a se tratar)". Segundo a artesã, foi feito o possível para que ele ficasse internado enquanto ela participava da Fenearte (de 2018, realizada no Centro de Convenções, em Olinda), e Wilson prometeu que, na volta dela, iria falar sobre sua família. Nesse período, além da preocupação com ele, Fafá lembra que havia também a preocupação com a saúde do próprio esposo e com a feira anual de artesanato, motivos pelos quais pediu ajuda ao então secretário de Saúde do município, Dr. Pedro Nogueira, para que Wilson ficasse internado até seu retorno. Ela diz que é muito grata a Dr. Pedro e à gestão da Prefeitura e a todos os médicos e enfermeiros que trataram bem dele.
Fátima afirma que ao voltar, Wilson falou o seu nome verdadeiro (Geneilson), o nome do pai, da mãe, do irmã e das irmãs, além de lembrar onde residia antes de vir para Petrolândia. "Agradeço muito à assistente social Ruty que, durante o período em que eu estava na Fenearte, ficou dando assistência a ele, e também na luta da descoberta. Quando eu cheguei, eu nem lembrava o que ele tinha me prometido, quando ele me viu no hospital ele disse 'minha branca, minha branca! Lembrou, lembrou! Geneilson, Geneilson!' E ele é muito inteligente, na hora que ele falou Geneilson eu fiquei muito emocionada e escrevi com J, e ele 'não! sabe ler não? E colocou certo o nome dele'". A partir daí Geneilson teria dito o nome dos familiares.
"Foi aí que começou a luta (para encontrar a família dele), Ruty para um lado, a gente pra outro. Ruty procurando a Promotoria. Ruty conseguiu o verdadeiro endereço da família. Fui aos Correios daqui, mas aqui disse que não passava telegrama, tinha que ser online, e eu não sei passar online. Fui a Petrolina, e lá eu coloquei esse telegrama, e vim me embora. Com poucos dias, alguém ligou, dizendo que era sobrinho de Geneilson, e contamos sua história, e foi a partir daí que começou a luta para (tirar) a documentação de Geneilson", lembra Fátima.
"Um dia eu estava na Tapiokinha (da Fafá, seu quiosque) e Deus mandou um anjo. Esse anjo foi uma bênção, porque eu trabalho muito, tenho muita coisa pra fazer, mas eu sempre tinha que estar naquela preocupação com Wilson: tira do hospital, vai pra rua, o pessoal chamando, ele surtando. Mas, enfim, apareceu esse anjo, que é Euclides, empresário (Euclides Modas), que falou que ia me ajudar. E me ajudou no momento que eu mais precisava, ele abraçou a causa de Wilson, e tomou conta e deu aquela força, e foi na época mais crítica, em que meu esposo (sr. Expedito Belém) piorou, e eu com muita coisa pra fazer e ele ajudou, fez um grupo e ajudou Wilson a ter uma casinha. Euclides olhava pra mim e perguntava 'Fafá, ele fica na casinha?' e eu dizia "fica!'. Eu consegui arrumar a casa, ele conseguiu os aluguéis (do local) onde Wilson está até hoje. E Ruty de um lado e a população ajudando do outro, sei que montamos esse grupo e esse grupo é muita gente pra agradecer. Dona Elieda, Melinha, Fifi, Luciano da Eletroléo, é muita gente que se dedicou, que ajudaram nesse aluguel de Wilson, e o pessoal dava móveis, levava móveis, foi dado televisão, e Wilson ficou no cantinho dele. Deu trabalho? Deu, gente, porque Wilson, ele surta e se ele tem problema mental, ele não tinha condição. Ele tem a televisão (tem a casa dele), mas ele não esquece da rua, porque a rua foi onde ele ficou (durante muitos anos)", diz Fátima.
"Graças a meu bom Pai do Céu e a toda essa ajuda, foi tirada toda a documentação dele, a Justiça abraçou também a causa, e hoje Wilson conseguiu ser aposentado. Eu me sinto muito feliz, e agradeço imensamente a Deus, programa tudo arrumadinho, e Euclides ter aparecido e ter dado essa força e ter abraçado toda essa causa de Wilson. Ele trabalha muito, mas quando ele viu minha situação, de marido doente e tudo, ele tomou conta (da situação) teoricamente só. Eu tenho muito que agradecer, que Deus dê um 2020 de muita saúde, muita felicidade, e, enfim, chegue o momento de a gente entregar Wilson à família dele, pra ele voltar ao berço familiar. Ele voltando ao berço familiar, com certeza, a gente sempre vai ficar em contato. Foi descoberta toda a família dele, são pessoas populares, que também não têm condições de ficar por aqui, mas que a gente vai fazer todo o possível - ainda não conversei com Euclides - só tenho o que agradecer muito, só temos mesmo essa questão, é porque ainda não tivemos tempo", antecipa a artesã.
'Um abraço e agradeço demais, demais, demais a todos. A gente tem muita causa que a gente faz, que tem que fazer o bem sem olhar a quem e não precisa falar, a gente tem que fazer. Mas, Wilson é um caso que todo mundo viu e todo mundo sabe, ele tem as pessoas. Tem Kethy que dá comida, que dá o almoço, ele sempre fica na Veneza para o café, tem o pessoal da Minas Calçados que dá calçado, que dá apoio. É uma pessoa que vai fazer falta aqui (na cidade), mas, enfim, ele tem família e vai ser entregue a alguém da família a aposentadoria, e assim vai ser feito tudo como manda o figurino", explica Fafá. "Abraço para todos e feliz 2020!", finaliza Fátima Belém.
Blog de Assis Ramalho]
Com informações de Fátima Belém