Equipes trabalham na limpeza da Praia dos Carneiros, no Litoral Sul de Pernambuco, nesta sexta-feira (18) — Foto: Wellington Pereira/TV Globo
Manchas de óleo foram registradas na Praia dos Carneiros, em Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco, uma das mais procuradas pelos turistas. As manchas voltaram a surgir no estado na quinta (17), em São José da Coroa Grande. Peritos da Polícia Federal foram à cidade recolher amostras do material que chegou à praia.
Por volta das 11h30, a Prefeitura de Tamandaré confirmou que os arrecifes foram atingidos pelo óleo. O Segundo o biólogo marinho Clemente Coelho Junior, que também é professor da Universidade de Pernambuco (UPE), a limpeza do arrecife é "praticamente impossível" porque ele é poroso e absorve a substância.
"É praticamente impossível [fazer a limpeza do arrecife], uma vez impregnado, o óleo gruda e não tem como tirar. Você limpa a areia, mas mangue e arrecife, praticamente, não tem como retirar. Você cria várias áreas mortas", afirmou o biólogo.
O dano na barreira próxima a Carneiros foi em uma área reduzida, mas não se sabe a dimensão do desastre ambiental na região, disse o pesquisador. "Atingiu uma pequena parte dos arrecifes, mas não se tem uma vistoria em outros bancos de arrecifes, apenas nesse que está colando à Praia de Carneiros", detalhou.
A recuperação da área atingida pelo óleo vai levar décadas, afirmou ainda. "Eu diria que é maior tragédia ambiental do litoral brasileiro.Temos que prestar atenção ao que vem acontecendo. A gente está correndo o tempo todo atrás desse óleo", disse, cobrando a identificação do ponto de origem do problema.
O capitão da Marinha Gilson Cunha, que faz parte da equipe que veio do Rio Grande do Norte auxiliar os trabalhos em Pernambuco, apontou que o clima ajudou no avanço do óleo pelo litoral pernambucano. "A força do vento aumentou e isso facilitou a chegada de novas camadas de óleo, atingindo Carneiros", disse.
Voluntários se mobilizaram para auxiliar na ação de limpeza da Praia dos Carneiros. A prefeitura da cidade vinha monitorando a área desde setembro e, com a chegada do óleo, deslocou as equipes para atuar na limpeza. O trabalho de retirada do óleo é feito manualmente.
O secretário de Meio Ambiente de Tamandaré, Manoel Pedrosa, afirmou que vai fazer uma parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para verificar o impacto ambiental da nova mancha de óleo no município. Uma das principais preocupações é a área de arrecifes.
"Aqui em Tamandaré, a gente tem o maior experimento de recuperação 'recifal' e esse experimento fica em risco. Estamos há 20 anos trabalhando para conservação dos recifes de corais para produção de peixes e lagosta", disse.
Pedrosa afirmou que, até a quinta (18), não havia registro de óleo em arrecifes e que uma outra área de coral no Centro da cidade não foi atingida.
O secretário de Meio Ambiente do estado, José Bertotti, apontou que o óleo chegou em menor quantidade que o registrado em São José da Coroa Grande.
“Fragmentos de mancha chegaram agora [sexta, 18] pela manhã na Praia dos Carneiros. Não são manchas extensas como registramos em São José da Coroa Grande. Elas chegaram fragmentadas e pela maré. Ali existe uma grande Área de Proteção Ambiental, e estamos fazendo esse trabalho de contenção”, afirmou Bertotti.
Mais óleo em Tamandaré
Além da Praia dos Carneiros, foram registradas manchas na Praia da Boca da Barra, no mesmo município. Segundo a prefeitura, a substância começou a chegar ao local após as 10h desta sexta, mas "em pequeníssima quantidade".
A maioria dos voluntários foram deslocados para auxiliar na limpeza de Carneiros, mas equipes também seguiram para a segunda praia atingida em Tamandaré.
A Colônia de Pesca Z5, que tem a cidade como base, mobilizou barcos para iniciar, no sábado (19), o monitoramentos intensivo a, pelo menos, 2 a 5 milhas da costa. "Foi montado ainda um posto de monitoramento aéreo em Carneiros" e mais um posto no farol do Forte de Tamandaré", afirmou a prefeitura em nota.
Prevenção
Com a reincidência do problema em Pernambuco, a prioridade é evitar que o óleo chegue em áreas estuarinas. Helicópteros e embarcações fazem o monitoramento do litoral pernambucano.
“Fizemos o fechamento da entrada do Rio Persununga, que fica próximo à divisa entre Pernambuco e Alagoas, e do Rio Una, depois que fizemos a limpeza de uma mancha que apareceu na foz”, afirmou o secretário de Meio Ambiente.
O foco nesse trabalho é para evitar a perda de espécies como o mero, um peixe comum na costa pernambucana. “Para que ele fique grande e bonito, ele nasce no estuário”, explicou Bertotti.
A força-tarefa está com dois postos avançados para atuar e monitorar as manchas no estado. O primeiro foi instalado em São José da Coroa Grande, primeira cidade pernambucana a ser atingida novamente pelo óleo e a mais próxima da divisa com Alagoas. O segundo, foi montado em Maracaípe, praia paradisíaca do município de Ipojuca, no Grande Recife.
A prefeitura de Ipojuca instaurou, na cidade, um gabinete de crise para acompanhar a situação do óleo. Além de Maracaípe, o município é rota turística também pelas praias de Porto de Galinhas e Muro Alto. Em nota, a Marinha do Brasil informou que a população pode relatar o surgimento de manchas em praias através do telefone 185.
Óleo recolhido
Na quinta (17), o governo divulgou que ao menos 1,2 mil litros de óleo foram recolhidos em alto-mar pela força-tarefa montada para diminuir o impacto das manchas de petróleo que atingem a costa do Nordeste desde abril. O estado também disse que uma mancha de um metro de diâmetro foi identificada na foz do Rio Una, que nasce em Capoeiras, no Agreste.
A mancha recolhida estava no mar de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul de Pernambuco. A cidade fica na divisa com Alagoas e, antes do aparecimento da substância na quinta, foi a última localidade pernambucana a registrar o problema, em 25 de setembro. Durante a tarde, parte da mancha foi recolhida na praia.
A partir desta sexta-feira (18), segundo o governo, fica instituída uma Sala de Situação no Palácio do Campo das Princesas, no Centro do Recife, para monitorar as manchas de óleo. O trabalho é feito utilizando helicópteros e embarcações.
A Sala de Situação reúne representantes das Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado, da Defesa Civil e da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), que atuam no caso.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente, parte da mancha que flutuava no mar de São José da Coroa Grande foi interceptada. Mesmo assim, a substância chegou à praia e foi removida por voluntários e órgãos governamentais, com a ajuda de uma retroescavadeira.
Ainda segundo Bertotti, o esforço deve ser realizado para evitar que a mancha atinja os bancos de corais, para não danificar ainda mais o ecossistema existente nessas estruturas e para evitar que o petróleo se disperse ainda mais. O secretário cobrou que o governo federal identifique qual é a fonte causadora de problema.
Manchas em Pernambuco e Alagoas
Manchas de petróleo voltaram a ser vistas em Pernambuco. Durante voo realizado na tarde da quinta-feira (17), o Globocop sobrevoou a costa pernambucana e avistou a substância no mar, na altura de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul.
Horas depois, as manchas chegaram a algumas áreas na areia da praia, em São José da Coroa Grande. Um dos pontos em que o óleo foi achado fica nas proximidades do Restaurante Castelinho.
São José fica a três quilômetros de distância da divisa com Alagoas, onde também apareceram as manchas. A cidade tem como principal a atividade econômica o turismo. Cerca de três mil pescadores atuam na região.
Mais cedo, um sobrevoo feito pelo governo constatou o reaparecimento de manchas de óleo em Japaratinga e registro em Maragogi, ambas praias de Alagoas, num trecho próximo à divisa com Pernambuco. Por causa disso, ações de monitoramento foram montadas por uma força-tarefa para remover o material em alto-mar.
A mancha tem cerca de 15 metros de extensão por três metros de largura. Ela foi vista na baía de São José, perto dos arrecifes, segundo informações extraoficiais de integrantes da força-tarefa.
A Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) informou que seguiu para o local para averiguar a situação. As manchas de petróleo não atingiam Pernambuco desde o dia 25 de setembro. O último registro também ocorreu em São José da Coroa Grande.
O sobrevoo feito pelo governo na divisa entre Pernambuco e Alagoas constatou três manchas de óleo em alto-mar, a um quilômetro da praia de Peroba, no litoral alagoano, antes da chegada da substância a Pernambuco.
Entre agosto e setembro, as manchas de óleo foram vistas em 19 praias de dez municípios pernambucanos.
Aproximadamente 400 metros de boias de contenção e outros 400 metros de mantas foram enviadas ao posto avançado de São José da Coroa Grande, que conta com a presença de voluntários da sociedade civil e representantes dos governos federal, estadual e municipal. Entre os voluntários, estão cerca de três mil pescadores da Colônia Z9.
A decisão de enviar equipes de Pernambuco até o litoral alagoano ocorreu durante uma reunião na manhã da quinta (17), na sede da Capitania dos Portos, no Centro do Recife. Além de representantes da Marinha, participaram membros das secretarias de Turismo e Meio Ambiente de Pernambuco, Ibama e Defesa Civil do estado.
Manchas em Pernambuco
Segundo Bertotti, o estado registrou o aparecimento das manchas de óleo no fim de agosto e no início de setembro. No dia 25 do mesmo mês, todos os locais que tiveram registro do produto já estavam totalmente limpos.
A reunião desta quinta-feira, que decidiu pela atuação em alto-mar para conter as manchas, contou com representantes das instituições que compõem a força-tarefa montada em Pernambuco, como a Secretaria e a Agência Estadual de Meio Ambiente, se reúnem na sede da Marinha, no Recife, para discutir ações de prevenção e contenção das manchas.
Essa foi a segunda reunião geral sobre o tema em Pernambuco, já que outro encontro, com representantes dos estados do Nordeste, ocorreu no dia 1º de outubro.
Ação federal
Na quarta (16), o G1 mostrou que o monitoramento de imagens de satélite da costa brasileira para investigar a origem das manchas de óleo no Nordeste não encontrou indícios da substância na superfície marinha.
No mesmo dia, a Petrobras anunciou que 200 toneladas de resíduos de óleo foram recolhidas em praias do Nordeste. A empresa disse que, desde 12 de setembro, mobilizou 1,7 mil agentes ambientais para a limpeza das praias e 50 funcionários para planejar a resposta ao desastre ambiental.
Segundo o balanço do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), 76 municípios foram afetados em todos os 9 estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Por G1 PE e TV Globo