O conteúdo de novas conversas atribuídas ao procurador Deltan Dallagnol e ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, foram divulgadas nesta segunda-feira (15) em parceria do site The Intercept Brasil com a rádio Band News FM. O conteúdo dos diálogos, que teriam sido realizados por mensagens de celular, foi divulgado no programa O é da coisa, e aumentam as suspeitas sobre a imparcialidade de Moro.
De acordo com a reportagem dos jornalistas Reinaldo Azevedo e Leandro Demori, Dallagnol e Moro, que na época era o responsável por julgar os casos da Lava-Jato, combinaram uma reunião para tratar das fases que seriam lançadas pela operação. Segundo teria escrito o procurador, integrantes da Polícia Federal participariam do encontro.
Uma primeira mensagem atribuída a Dallagnol foi enviada a Moro em 3 de setembro de 2015: "Caro, quando seria um bom dia e hora para reunião com a PF, aí, sobre aquela questão das prioridades? Sua presença daria uma força moral nessa questão da necessidade de priorização e evitaria parecerr que o MPF quer impor agenda".
Sem resposta, Dallagnol teria voltado a tocar no tema quase um mês e meio depois, em 16 de outubro: "Caro juiz, seria possível reunião no final de segunda para tratarmos de novas fases, inclusive capacidade operacional e data considerando recesso? Incluiria PF também". No dia seguinte, Moro teria respindido: "Penso que seria oportuno. Mas segunda sera um dia difícil. Terca seria ideal".
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Em outro conjunto de diálogos, iniciado em 16 de janeiro de 2016, Dallagnol perguntou para Moro se seria possível usar recursos da 13ª Vara Federal de Curitiba, na qual o então juiz federal Moro atuava, para financiar um comercial em defesa das 10 medidas contra a Corrupção, defendidas por Dallagnol e enviadas ao Congresso Nacional.
Segundo Azevedo, Dallagnol escreveu a Moro: "Você acha que seria possível a destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis, para um vídeo contra a corrupção, pelas 10 medidas, que será veiculado pela Globo? A produtora está cobrando apenas custos de terceiros. O que daria uns R$ 38 mil. Se achar ruim algum aspecto, há alternativas que estamos avaliando, como crowdfunding e cotização entre as pessoas envolvidas na campanha".
Em seguida, ao encaminhar arquivos com o orçamento e o roteiro da peça publicitária para Moro, Dellagnol teria acrescentado: "Avalie de modo absolutamente livre e, se achar que pode, de qualquer modo, arranhar a imagem da Lava-Jato, de alguma forma, sem nós queremos".
No dia seguinte, Moro respondeu: "Se for uns R$ 38 mil, acho que é possível. Deixe ver na terça e te respondo."
Na matéria, publicada depois no blog de Reinaldo Azevedo, o jornalista e o editor do Intercep, Leandro Demori ressaltam que "uma vara federal, qualquer uma, não dispõe de recursos destinados a atos publicitários de nenhuma natureza".
"Como uma vara federal não gera recursos, mas os recebe do TRF — que, por sua vez, tem a dotação orçamentária definida pelo Conselho da Justiça Federal —, ou o dinheiro teria de sair do caixa para despesas correntes, e não parece ser o caso, ou decorreria de depósitos judiciais ou multas decorrentes das sentenças aplicadas pelo juiz. Em qualquer hipótese, trata-se de uma ilegalidade", afirmam.
Pedido de acesso às conversas
Desde que o Intercept começou a divulgar os áudios, Moro, Dallagnol e outros citados nas conversas questionam a autenticidade das conversas. Em entrevista ao Correio, Moro disse que alguns trechos podem corresponder à verdade, mas as conversas podem ter sido modificadas ou descontextualizadas. Por isso, o ex-juiz federal e hoje ministro solicita acesso ao material para que uma perícia seja feita.
Após a divulgação de conversas entre outros procuradores da Lava-Jato, o Correio entrou em contato com um deles, que, pedindo anonimato, confirmou o conteúdo do que havia sido atibuído a ele e a colegas. “Me recordo dos diálogos com os procuradores apontados pelo site. O grupo não existe mais. No entanto, me lembro do debate em torno do resultado das eleições e da expectativa sobre a ida de Moro para o Ministério da Justiça", disse.
Por: Correio Braziliense