Quem vive em Petrolândia, atualmente, por nascimento, mudança de cidade ou visita, costuma aprender, com rapidez, vários aspectos da geografia e da história do Município. A História da cidade foi resgatada, com mais fervor, durante as comemorações do centenário de emancipação política, celebrado em 2009, que concedeu mais vigor à saudade da "cidade perdida", a Velha Petrolândia. A antiga cidade é celebrada por suas ruas largas, saudosos vizinhos, festas, prédios e estruturas inesquecíveis. Em cada aniversário comemorado, o baú da memória é remexido, em busca de velhas e novas lembranças. Nesse processo, reduzido em importância, familiaridade e presença ao longo das décadas, um item fundamental à história da cidade foi relegado ao plano mítico: o jatobá. Onde estão os jatobás de Petrolândia? Onde existe frondoso e belo exemplar da árvore à sombra do qual possamos ouvir e contar a História da cidade que nasceu sobre suas raízes e foi batizada por ela?
Conta-se que o povoado que deu origem à cidade atual iniciou-se em torno de um frondoso pé de jatobá, à sombra do qual o gado conduzido pelos vaqueiros da região matava a sede, às margens do São Francisco, o rio dos currais. Bebedouro, Bebedouro do Jatobá, Jatobá de Tacaratu. Itaparica. Petrolândia.
Em fotos da velha cidade, observa-se que foi construído um monumento, em concreto (ou granito), em forma de tronco de árvore. O tronco continha placa de inauguração, que não foi roubada após a cerimônia de entrega da obra ao público, como hoje acontece, e pode ser vista em fotos de diversas datas. Essa foi uma homenagem ao "Jatobá original". Mas, os jatobás de verdade, os jatobás anônimos desconhecidos, não encontramos nas fotos das ruas largas, arborizadas com vulgares algarobeiras.
Outra bela homenagem ao "Jatobá original" é o livro da escritora Paula Rubens, a obra O Jatobá que virou mar, em que a história da cidade é contada de forma lúdica, com texto agradável e caprichadas ilustrações.
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É compreensível a chegada da algarobeira, importada do Peru nos anos 1940 como árvore milagrosa para sustento do rebanho nordestino. É compreensível a presença e status concedido às palmeiras imperiais plantadas na Orla Fluvial e em outros locais, para dar o "toque de sofisticação" a uma cidade que ostenta o nome de um imperador. É compreensível a chegada do fícus que promete sombra a baixo custo, e até do neem (nim) que a prefeitura já não dá mais conta de cuidar, porém, insiste em plantar e permitir o plantio em logradouros públicos, inclusive em calçadas.
É compreensível, diante da cultura egoística e imediatista de não planejar árvores para o futuro, mas apenas plantar qualquer coisa com fama de crescer rápido e exigir pouco trato, para ter sombra ou flor o mais rápido possível. Por isso, é também compreensível a rejeição às muito mais belas árvores nativas da caatinga, por suas copas ralas, ou por crescerem demais, ou por demorarem demais a crescer.
Só não é compreensível, em Petrolândia, que o jatobá, que deveria ser honorável e ter exemplares tombados pelo Município, após 109 anos de emancipação e 30 anos de transferência da "velha para a nova cidade", não esteja em exposição em praças, nos quintais das escolas, nos pátios dos prédios públicos, não seja apresentada aos nativos e turistas, e sobreviva somente no imaginário popular, nas pesquisas escolares e, fisicamente, distantes do olhar da comunidade.
Redação do Blog de Assis Ramalho