Segundo a Armelle Enders, é preciso também levar em conta a violência simbólica vinda de uma rejeição à classe política de forma geral. “A imagem de figuras como o presidente, ministros, deputados, já não geram respeito", diz ela.
Graves episódios de violência ocorridos este ano no Brasil, acompanhados de uma crescente radicalização da disputa política, têm colocado em perspectiva os rumos da campanha eleitoral brasileira em 2018, assim como o próprio ambiente democrático do país. Para muitos cientistas políticos, o recente ataque contra o candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, vai tornar as eleições ainda mais imprevisíveis.
Antes mesmo da tentativa de assassinato de Bolsonaro, a percepção de muitos pesquisadores já era de que parte dos eleitores e da classe política não havia superado a polarização que marcou as eleições de 2014. A crise econômica vinda em 2015, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 classificado como um golpe de Estado por parte da sociedade e o avanço das investigações da Lava Jato são o pano de fundo de uma crise que ganhou força a partir de alguns fatos violentos ocorridos em março.
“Não se pode esquecer que nas últimas eleições brasileiras, entre junho e setembro de 2016, 45 políticos brasileiros foram alvo de ataques a tiros. Desses, 28 morreram, 15 em plena campanha. Mas como essa violência não atingiu personalidades do alto escalão, não se falou tanto sobre essas mortes”, explica Armelle Enders, professora de história contemporânea da universidade Paris VIII, especializada em Brasil e América do Sul. “Já a execução de Marielle Franco, em março, é o maior exemplo de violência política, que mostra que também existe, em muitos casos, uma conexão entre a política e o crime organizado”, ressaltou a historiadora.
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