Nascido na antiga Petrolândia, a arte modificou seu destino de menino pobre. Essa história fala de determinação, do amor pela música, da origem da Banda Adolfo Alexandre de Melo e retrata uma época de uma cidade que hoje não existe mais (Foto: Reprodução Banda Adolfo Alexandre de Melo)
Por Paula Rubens
Ele viu quarenta e cinco aviões pousarem no campo de aviação de Petrolândia, que fora ampliado para receber o Presidente Getúlio Vargas, e a banda da Polícia Militar de Pernambuco tocando na cerimônia. Viu também os soldados enfileirados desde a Usina, onde presidente se hospedou, até a Estação de Trem formando uma cerca viva protetora. Viu Luiz Guará, o mestre dos artesãos, reproduzir igualzinho aqueles mesmos aviões de guerra de quatro motores. Admirava mas não podia comprar. Contentava-se em brincar com os carretéis de linha que o próprio Luiz Guará dava um jeito de transformar em carros.
Aos sete anos de idade José Costa da Silva, Seu Dedinho, como é conhecido, já trabalhava carregando água do rio abastecendo as casas de muita gente na velha Petrolândia para ajudar em casa. Na época não havia água encanada e os chafarizes só vieram depois. Tão novo era para o serviço que Dr. Ramalho, pai de Dr. Dario, médico da cidade, um dia tomou-lhe a lata, derramou a água e amassando-a disse-lhe com firmeza , mas com carinho, que lugar de menino era na escola. Mas o quefazer? Filho de Otacílio Gomes da Silva e Maria Gomes da Costa , desde pequeno viu a mãe trabalhando duro. Ela originária de Salgueiro, veio para Petrolândia fugindo da seca. Eram tempos difíceis. Muita seca, muito pedinte na rua. Petrolândia, por causa da Rede Ferroviária e do rio, atraía muita gente. A casa onde nasceu em 23 de Outubro de 1935, construída por seu pai, que era metido a pedreiro apesar de não ser dos melhores, diz ele, era de tijolo cru com base de pedra e coberta por palhas de coqueiro. Até hoje não sabe como a casa sem reboco resistiu às chuvas. Depois, foi sua mãe que lavando roupa no rio e fazendo carrego de água foi comprando telhas, caibros e ripas para construir um telhado. Seu pai bebia muito. Chegou a trabalhar na rede ferroviária na construção do túnel na pequena usina construída para geração de energia a partir da cachoeira de Itaparica, mas perdeu o emprego. Depois disso vivia de fazer filtro de pedra junto com seu irmão Nêgo, pai de Seu Tita. Trabalhava três meses e em seguida passava outros três bebendo. Assim sendo, procurou desviar-se de Dr. Ramalho, mas continuou a carregar água para ajudar a mãe.
Blog de Assis Ramalho
Com informações de Paula Rubens/Museu da Pessoa e IHGP