É louvável o esforço do atual governo no sentido de promover um corte das despesas e realizar reformas, como a da previdência e trabalhista, há muito reclamadas pela sociedade. Nesse cenário, contudo, há um paradoxo: a Selic ainda elevadíssima, apesar de sua paulatina redução. Como uma das principais causas dos juros altos é exatamente o desequilíbrio fiscal, ao manter taxas altas, o Comitê de Política Monetária (Copom) sugere, mesmo que da maneira mais sutil possível, que nem mesmo as autoridades econômicas acreditam com firmeza na capacidade de se promover o equilíbrio entre receita e despesas da União.
Tal desconfiança é justificável, pois se sabe que os juros no Brasil têm sido reféns do problema fiscal. Com o Estado gastando muito, é difícil reduzi-los, pois os papéis que fazem a dívida pública girar no mercado financeiro precisam apresentar remuneração atrativa, sob pena de a União não conseguir manter-se adimplente. Acontece que a Selic reflete-se no rol das despesas, engrossando o déficit nominal. Não há milagre em contabilidade. Assim, se não se confia piamente na nova política fiscal, não se baixam as taxas da verdadeira “agiotagem” que o governo pratica contra ele próprio, as empresas, as famílias endividadas e a economia.