Butiá (Foto: Ascom Incra/RS)
Nem só de plantas cuidadosamente semeadas vive a agricultura ecológica. Pelo contrário, é possível estruturar cadeias produtivas com base em espécies nascidas de modo espontâneo nas propriedades. É o que descobriram famílias assentadas na região dos Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul. Sob orientação do Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Cetap), uma das três prestadoras de assistência técnica contratadas pelo Incra/RS, os agricultores transformam frutas como butiá, pinhão, jaboticaba e uvaia em fontes de alimento e geração de renda.
A experiência iniciou em 2009. A equipe técnica constatou que, atualmente, a nova relação com a flora nativa incrementa significativamente o orçamento de dez famílias. Porém, o projeto é ainda mais abrangente, englobando dez agricultores dos assentamentos Nova Estrela e Nova Batalha (exploração do pinhão), 12 de Nova Esmeralda (butiá) e dois do Jaboticabal (jaboticaba). Juntos, eles produziram e comercializaram cinco toneladas de frutas em 2015.
“Antes o butiá era só para tratar porco”, lembra Gilberto Possamai, do assentamento Nova Esmeralda, em Pinhal da Serra. Agora, de janeiro a março, ele e a esposa, Inês, colhem os pequenos frutos amarelos de sabor azedo sob olhar atento do filho Matheus, de 8 anos, que já conhece a localização das árvores espalhadas pelo lote de 16,5 hectares. “O pai e a mãe derrubam o cacho com foice e passam (os frutos) na despolpadeira”, conta o menino.