Aos 80 anos, a simplicidade do ex-mandatário uruguaio fascina uma juventude com novos valores e que exige mudanças. (Foto: Filipe Peçanha)
José “Pepe” Mujica anda encurvado, devagar. Dirige um Fusca, veste um terno meio surrado, não corta a unha do pé, possui uma pança imensa e evita a todo o momento o contato visual. Sua fala é mansa, doce. Diz coisas óbvias, sensatas, que qualquer outro velho camponês poderia dizer. A última neste sábado (29), ao lado do ex-presidente Lula: “Os políticos devem aprender a viver como a maioria do país, não como a minoria”.
Suas palavras são pronunciadas, sílaba por sílaba, com a potência similar de um cisco no olho. Foram elas, acompanhadas de uma conduta pessoal que condiz com o que prega, que fizeram que esse ex-guerrilheiro, tão normal e tão humano, alcançasse a presidência do Uruguai em 2009 e o status de guru e filósofo internacional de toda uma geração. Sua simplicidade fascina, sua sabedoria assombra. Especialmente uma juventude com novos valores, menos materiais, e que exige mudanças. E tudo isso aos 80 anos de idade.
A reportagem é de Felipe Betim, publicada por
El País, 30-08-2015.
Mujica esteve no Brasil nesta semana e brilhou como um astro pop. Em tempos de tanta desilusão política, quase 10.000 jovens lotaram a concha acústica da UERJ — uma fã relatou ter chegado duas horas antes do ato para conseguir lugar, como em um concerto — apenas para ver um senhor normal, pacato, e escutar um show de sensatezes. Quase um sermão de avô. E a explicação para isso — a parte, claro, de que ele regularizou a maconha — é tão simples quanto suas palavras: existem determinados elementos do nosso cotidiano político que deixaram de ser naturais e se tornaram insultantes.