A reportagem é de Pedro Lipcovich, publicada por Página/12, 06-05-2015. A tradução é do Cepat.
Em crianças que vivem próximas de locais onde se fumiga com glifosato e outros praguicidas foram constatados danos genéticos que poderiam levar a enfermidades como a leucemia e que já estariam ocasionando sintomas como broncoespasmo e hemorragias nasais. A pesquisa – publicada na revista da Sociedade Argentina de Pediatria – foi efetuada pelaUniversidade Nacional de Río Cuarto. Em uma amostra de crianças da cidade de Marcos Juárez, na Argentina, “cercada por plantações”, registrou-se quase 55% a mais de anomalias do que naquelas não expostas a praguicidas. As alterações genéticas ocorrem mais com as crianças que vivem a menos de 500 metros das fumigações (limite permitido pela lei local), mas também são detectadas em crianças que vivem a mais de um quilômetro. Os resultados do estudo – em sintonia com estudos anteriores sobre trabalhadores rurais – apresentam várias questões urgentes: a) a distância de segurança para agrotóxicos em regiões povoadas não estaria sendo cumprida; b) mesmo que cumprida, seria insuficiente, já que se detectou um aumento de dano em crianças residentes a mais de 1000 metros das pulverizações; c) o rápido reconhecimento do problema permitiria encarar os problemas de saúde das crianças já afetadas, já que, segundo advertem os pesquisadores, os danos registrados “ainda podem ser revertidos”.
A pesquisa foi publicada em Arquivos Argentinos de Pediatria, assinado por Delia Aiassa, Nora Gorla, Alvaro Méndez, Fernando Mañas, Natalia Gentile e Natalí Bernardi, todos integrantes do grupo Genético e Mutagêneses Ambiental (GEMA), da Universidade Nacional de Río Cuarto.
Os autores destacam que “na Argentina não existem estudos que analisem os efeitos genotóxicos produzidos em crianças pela exposição a substâncias químicas”. O trabalho propõe examinar esses efeitos em crianças expostas aos praguicidas por inalação. O método utilizado é o “monitoramento genotoxicológico” que, a partir de células da mucosa bucal, detecta danos genéticos e que vem sendo aplicado em diferentes países para populações expostas a agentes tóxicos.