No protestantismo, o matrimônio não é considerado um sacramento. Por quê? Nas suas obras latinas, Lutero escreve: “As Sagradas Escrituras conhecem um só sacramento, é o Cristo, o próprio Senhor”. Em 1520, in “A cativez babilônica na Igreja”, ainda fala deste “único sacramento (isto é, Cristo)” e de três sinais sacramentais. O sinal sacramental necessita de uma palavra de promessa ligada – por instituição de Cristo – com um sinal. Neste sentido, se pode reter que o sejam somente o Batismo e a Ceia. Prevalece compreensão cristocêntrica do sacramento. Somente Cristo é o “instrumento da salvação”.
A reportagem é de Jean-Claude Hutchen, publicada por Baptisés, 17-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
No que se refere ao matrimônio como sacramento, Lutero esclarece: “Já que o matrimônio existia desde o início do mundo e continua existindo, também entre os não-crentes, até hoje, não existe motivo de pensar que o matrimônio possa ser chamado sacramento somente da nova aliança e da Igreja. Porque os matrimônios dos nossos pais não eram menos santos do que os nossos, e os matrimônios dos não-crentes não são menos verdadeiros do que aqueles dos crentes – e no entanto eles [a Igreja católica] não os consideram um sacramento. Além disso, entre os crentes há cônjuges incrédulos que são muito mais incrédulos do que os próprios pagãos. Por que, então, chamar aqui de sacramento o matrimônio, mas não para os pagãos?
A posição de Calvino é próxima daquela de Lutero, embora com acentos diversos. É a partir da convicção de que somente Cristo (presente pela pregação) oferece a salvação. Dizer que o matrimônio não é um sacramento não reduz, todavia, a importância que lhe é dada nas igrejas protestantes, que preferem falar de “bênção do matrimônio”.