Fundo do Açude Carnaubal que abastecia a cidade de Crateús (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
A agricultora Márcia da Silva Lopes, 46 anos, moradora da comunidade de Bom Jardim, em Quixadá, perdeu quase tudo o que tinha plantado em janeiro esperando que chovesse no início de fevereiro, primeiro mês da quadra chuvosa no Ceará. As chuvas só chegaram no fim do mês, fazendo com que ela tivesse que voltar a plantar as sementes de milho, feijão e gergelim. Se não chove, Márcia depende da água de enxurrada acumulada na cisterna para irrigar a plantação.
Os setores da agricultura mecanizada não costumam se preocupar com a chuva, já que a irrigação é feita por tecnologias que aspergem água independentemente do período do ano. O diretor de Operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), Ricardo Adeodato, estima que 70% da água dos reservatórios do estado são usados pela agricultura – mesmo percentual calculado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em relação ao uso da água de todo o planeta por essa atividade.
Para Adeodato, a geração de empregos por essa atividade justifica a destinação de um alto percentual de água para a agricultura. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Flávio Saboya, diz que a produção de alimentos é o motivo e a justificativa para o uso da água em larga escala.
Para o professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Alexandre Costa, entretanto, a desigual distribuição da água – feita também a favor da indústria – é uma “injustiça hídrica”, principalmente em um estado de clima semiárido.