A Petrobrás é responsável por 75% do orçamento de investimento da União. Se alguém quer desviar recursos públicos, essa é a galinha dos ovos de ouro.
Deltan Martinazzo Dallagnol, procurador da República, diz que “as investigações estão em pleno desenvolvimento e a maior parte das acusações ainda está por vir”. Ele é o coordenador da Operação Lava Jato, que fez ruir o cartel de empreiteiras infiltrado na Petrobrás para fraudes em licitações bilionárias e pagamento de propinas a pelo menos 50 políticos.
Em entrevista o procurador diz que “corrupção dessas proporções deve ser punida de modo mais firme do que um homicídio, porque mata muitas pessoas”.
A entrevista é de Fausto Macedo e Ricardo Brandt, publicada pelo
O Estado de S. Paulo, 16-03-2015.
O procurador Deltan Dallagnol coordena a força-tarefa da Lava Jato. Formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná, ingressou na carreira em 2002 e especializou-se em investigações sobre corrupção, crimes financeiros e lavagem de ativos.
Eis a entrevista.
O que alimenta a corrupção?A corrupção é um fenômeno de causas complexas, no sentido de que várias condições tornam o indivíduo mais ou menos inclinado, e o ambiente mais ou menos propício, à sua ocorrência. Sob o ponto de vista individual, a corrupção pode ser vista como uma escolha racional, baseada em uma ponderação dos custos e dos benefícios dos comportamentos honesto e corrupto. O custo envolve não só os ônus morais e o tamanho da punição, mas também a probabilidade de ser descoberto e de a punição ser levada a efeito. A percepção da probabilidade de vir a ser punido é, assim, fator determinante. Nesse sentido, a percepção difusa de que corruptos não são punidos em razão de problemas sistêmicos da Justiça, decorrentes em boa medida da lei, conhecidos popularmente como ‘brechas da lei’, é certamente uma das principais condições que favorecem a corrupção.