Por muitos anos, Dirceu Aparecido Nascimento foi o único a madrugar com o pai para, às 4h00 da manhã, começar a arar a terra de onde retirava as cebolas que garantiam o seu sustento. Estava conformado com a dureza da vida no campo, que aos poucos empurrou os quatro irmãos para a cidade. Mas a chegada da tecnologia - primeiro as estufas e, mais tarde, o trator de 75 cavalos - animou Marcelo, Márcio, Vanderleia e Renata a retornar à pequena propriedade rural em Piedade, no interior paulista. "Pra mim", afirma Dirceu, "o melhor de ter crédito foi poder trazer a minha família de volta".
A reportagem é de Bettina Barros, publicada pelo jornal
Valor, 23-02-2015.
Os Nascimento são uma das 2,6 milhões de famílias beneficiadas pelo Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), criado há quase duas décadas pelo governo federal para tentar encerrar a histórica dificuldade de acesso ao crédito do estrato mais pobre - e também o mais representativo - da pirâmide rural brasileira.
Em seis anos, a família paulista conseguiu levantar R$ 155 mil por meio de quatro operações, a juros de 2,0% ao ano e carência de três anos para começar a pagar. O primeiro empréstimo, de R$ 10 mil, foi para o custeio da produção. O último, no ano passado, subiu para R$ 89 mil, o preço do trator novinho estacionado na entrada do Sítio Boa Esperança, agora agitado com o vai-e-vem de irmãos entre dezenas de caixas de tomates e outras hortaliças que seguirão viagem à Ceagesp, na capital.
Como muitos agricultores familiares, os Nascimento dizem que a vida mudou com o Pronaf. Com a família reunida e maquinário, o trabalho sob o calor escaldante do interior ficou um pouco mais fácil. Descontados os custos fixos com a propriedade de 12 hectares, "sobra até uma coisinha no fim do mês", diz Dirceu. A "coisinha" chega a R$ 5 mil mensais, para cada irmão, no período de verão, quando as vendas são melhores. Mais do que Marcelo e Márcioganhavam na cidade. E algo impensável na pequena agricultura uma década atrás.