Em Itaparica a água é escassa para irrigação
Escassa para sistemas de abastecimento humano
Escassa para navegação, piscicultura e lazer
Farta para desperdício
O ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, e a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, realizam, nesta quarta-feira (22), visita técnica às obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco, em Pernambuco. A visita prevista para acontecer às 10h, no Eixo Leste da Transposição, em Floresta, na Estação de Bombeamento 1 (EBV 1), tem como trazer os ministros para acompanhar os testes de bombeamento da estrutura.
Os testes de bombeamento da água do Lago de Itaparica para o canal da Transposição, divulgados há duas semanas, provocaram indignação em Petrolândia, cidade vizinha a Floresta, onde os produtores rurais já enfrentam dificuldades para irrigação, diante da baixa vazão do rio e queda no volume da represa. Houve bloqueio da entrada do canteiro de obras da EBV1, iniciado na manhã do sábado (11). A liberação envolveu uma negociação com o ministro Francisco Teixeira com líderes de Petrolândia e a presença de tropa da Força Nacional, para desocupação da área e realização dos testes "de uma maneira ou de outra", a fim de encher a barragem de Areias. Os manifestantes deixaram claro não ser contra a obra da Transposição, mas totalmente contrários à realização de testes com água retirada do lago num período em que o líquido é escasso ao longo do rio e pelo fato de a água se destinar ao desperdício, por evaporação.
Desbloqueada a entrada do canteiro de obras, na segunda-feira passada (13), trabalhadores da obra sinalizaram que os testes de bombas falharam em suas primeiras tentativas. O Ministério da Integração desmentiu em nota, afirmando que foram bem sucedidos. Sanados os problemas técnicos iniciais, encheu-se o trecho previsto do canal. Pouco depois, chegam notícias de que a barragem de Areias não suportou o volume de água. Rompeu-se a estrutura improvisada com sacos de areia, montada para bloquear a passagem da água adiante. Paredes do canal teriam sido danificadas e o trabalho seguia ininterrupto para consertar a estrutura e encher novamente a barragem para uma suposta visita da presidente do Brasil às obras.
Na manhã desta quarta-feira (22), chegou uma nova informação, em denúncia: "na obra da transposição do rio São Francisco ESTOUROU uma parte dela (barragem), onde se derramam muitos, muitos litros de água, o pouco que nos resta. A pessoa que me falou (
trabalhador da obra) disse que ninguém tomou providência para tampar e acabar com o desperdício da água, que está sendo jogada no mato, os peões que trabalham nesse Eixo estão revoltados por isso, mas não podem fazer nada. Sei que fora já está cheio de água, um desperdício que vai nos custar caro", afirma indignada nossa leitora, indicando que os trabalhadores têm medo de se identificar, por receio de perderem seus empregos.
Apesar do mau exemplo federal no desperdício de recursos escassos, os participantes do movimento
Salve o Rio São Francisco se mobilizam em Petrolândia para realizar campanhas de educação ambiental. Poupar água e energia elétrica deve ser um hábito incorporado ao cotidiano da comunidade e não uma medida emergencial, tomada apenas em casos extremos. A emergência, infelizmente, já se instalou e é preciso agir antes que a água se vá completamente, antes que reste à população esperar por chuvas incertas nos lugares certos ou pelo caminhão pipa, e antes que se iniciem os protestos provocados pelo desabastecimento, como acontecem quase diariamente em Itu (SP).
Enquanto isso, acompanhamos dos níveis das barragens que abastecem nossa região: Sobradinho e Itaparica. O último
boletim da Chesf foi disponibilizado pela ANA-Agência Nacional de Águas na segunda-feira (20). Sobradinho se aproxima dos 20% de volume útil: começou a semana com volume estimado em 23,71%. A última informação sobre Itaparica é do domingo (19), quando foram estimados 17,39% de volume útil.