Na manhã desta quinta (02), Lourival Simões, prefeito de Petrolândia, esteve na estação de bombeamento de água para as agrovilas da Reta, na zona rural do município, para ajudar na solução de problemas que levaram à suspensão no fornecimento de água para irrigação naquela área. Agricultores se mobilizaram em mutirão para limpar o canal que leva água do Lago de Itaparica até a EB. Devido à redução do volume de água na represa e o acúmulo de material no canal, a água deixou de chegar à estação. Os produtores reclamam de falta de manutenção por parte da empresa contratada pela Codevasf. Segundo depoimento de agricultores que trabalharam em mutirão para desobstruir a passagem da água, o desabastecimento registrado nas agrovilas da Reta pode resultar em perda total de algumas plantações.
Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, tem sua economia baseada na agricultura irrigada e entre as maiores receitas da Prefeitura estão os
royalties, pagos pela Chesf pela produção de energia na Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, localizada no município. A represa de Itaparica inundou considerável extensão do território da cidade, fazendo mudar a sede e vários povoados, há mais de vinte anos. Hoje, é inegável que a represa está entrando em colapso. Ruínas da velha cidade, antes nunca visualizadas, como o prédio da Charqueada, atualmente são visíveis.
A redação do Blog de Assis Ramalho acompanha assiduamente a
situação do Lago, no site da Agência Nacional de Águas (ANA). O volume útil de Itaparica, há quase uma semana, está abaixo de 20%, enquanto tinha o de Sobradinho, no dia 29 de setembro, caído para 28,89% - volume bastante inferior aos 46% estimados pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) em seu cálculo da curva de segurança de Sobradinho para o final de setembro. Até o encerramento desta matéria, o boletim da Chesf sobre a Bacia do São Francisco permanecia atualizado até o dia 29 de setembro, em boletim datado de 30/09/14.
Sobre o risco de colapso no Lago de Itaparica e os impactos de um possível agravamento da crise hídrica na Bacia do São Francisco, entrevistamos o prefeito de Petrolândia, Lourival Simões. Confira abaixo.
Qual o risco de esse e outros sistemas de abastecimento de água entrarem em colapso, diante da progressiva redução do volume útil no lago de Itaparica?
Lourival Simões: A situação é critica, existe um acordo firmado com o Comitê de Bacias do São Francisco onde não se poderia diminuir o volume de águas abaixo de 30%, porém já estamos abaixo dos 20%, a grande problemática foi que houve um erro de operação por parte da CHESF no controle do fluxo de águas dos reservatórios do complexo CHESF o que causou toda essa problemática. Fico a imaginar se hoje a Transposição começasse a funcionar qual seria a situação nossa hoje em dia. Há um colapso na nascente do São Francisco e de todas as barragens existentes. Não houve por parte do Governo Federal iniciativas de combate a nenhuma das problemáticas que estamos passando. Hoje todas as termos estão ligadas. Em contato com a ANA, CHESF e ONS há uma preocupação maior em gerar energia e não com a situação dos perímetros e nem com o abastecimento das cidades. Hoje a situação esta difícil e amanhã será pior ainda. Pois não há a previsão de chuva para que os reservatórios possam acumular água.
Hoje, os produtores atuaram em mutirão para resolver o problema imediato deles. A manutenção, de acordo com suas observações, está sendo feita a contento? Qual o papel da Plena e o papel da Prefeitura na manutenção dos sistemas de abastecimento?
Lourival Simões: Não há uma obrigação formal da Prefeitura, há logicamente a preocupação e a responsabilidade por se tratarem de habitantes do nosso município. Todo a responsabilidade jurídica compete a Codevasf e Plena (empresa contratada), porém no contrato deles não há a previsão de uso de máquinas, o que a meu ver houve um verdadeiro descaso no planejamento do contrato em vigor. Porém, na qualidade de Prefeito de Petrolândia, não posso ficar omisso e ver os agricultores sem terem a atenção devida e sofrendo por conta da falta de responsabilidade dos outros. Nós estamos ajudando no que for possível, deslocamos nossos equipamentos para auxiliar não a Plena, nem a Codevasf, mas sim para ajudar os agricultores que estão em situação de penúria, pois desde ontem (1°) estavam sem água para os seus lotes, o que gera apreensão e podendo gerar inclusive a perda da sua produção.
A ANA autorizou, semana passada, racionamento de água no sistema de Curema-Açu, na PB, com suspensão do uso dos recursos na irrigação. Na sua visão, há risco de racionamento de água na represa de Itaparica e quais prejuízos adviriam dessa medida?
Lourival Simões: É sim plenamente possível, não descartando - da forma como está a baixa do Lago de Itaparica - a própria Sede do município sofrer a interrupção do fornecimento de água, pois já disse anteriormente, a preocupação (do governo federal) está apenas na produção de energia elétrica e não com o abastecimento humano e das áreas de irrigação. É um verdadeiro descaso com as populações de todas as cidades.
A ANA autorizou, no dia 30 passado, a prorrogação da redução da vazão nas represas de Sobradinho e Xingó até 31 de outubro. A represa de Itaparica, situada entre uma e outra, está localizada em Petrolândia. Quais os impactos da redução da vazão, iniciada em 2013, sobre a economia do município, inclusive nos setores produtivos (agricultura irrigada e aquicultura/piscicultura)?
Lourival Simões: Na verdade, se deu no ano de 2012, em junho. Hoje nós estamos deixando de receber parte do ICMS, pois quando se diminui a produção de energia automaticamente se diminui o repasse. Essa problemática será pior ainda nos anos de 2016, 2017 e 2018, pois no fechamento da STN (Secretaria do Tesouro Nacional), se dá a cada quatro anos. Não adianta mais fazer nada com relação a isso, mesmo que o Lago hoje normalize chegando a 100% não se resolve, pois nas informações consolidadas o município perderá de sua receita algo em torno de 14% em 2016, 24% em 2017 e 32% em 2018. Isso com certeza prejudicará os investimentos a serem feitos pelo próximo prefeito do município. A gestão já está prejudicada antes mesmo de iniciar. Sem contar que a agricultura, tirando a geração de energia, é sem sombra de dúvidas o maior fomentador da economia de Petrolândia. O dano pela falta de água para a agricultura irrigada é o mesmo efeito que vimos na seca que dizimou parte do rebanho dos criadores nordestinos, ou seja, para se recuperar desse baque pela falta de água levará muito tempo. Fico preocupado, pois se caso venha a baixar ainda mais o Lago teremos um verdadeiro caos de ordem social no nosso município e na nossa região.
O Eixo Leste da Transposição vai retirar (já está retirando, na verdade, em "operação assistida") água da represa de Itaparica. Qual sua opinião sobre esse projeto, com o agravamento da crise hídrica em nossa região?
Lourival Simões: Imagine então como ficará quando ela iniciar a todo vapor? Se nós atualmente não temos água para abastecer nós, que estamos na beira do Lago, imagine ter de abastecer outras localidades? Não houve o estudo real desse impacto na situação em que nos encontramos. Esta seca em que estamos, ao contrário do muita gente acha, ainda irá perdurar algum tempo. Me pergunto o que poderá ser feito, nascentes do Rio São Francisco hoje já não estão vertendo água, Três Marias está em colapso, tudo isso é uma dificuldade enorme que só se resolverá com chuvas fortes e em locais necessários. A problemática só se resolverá ou se amenizará assim.
A Prefeitura tem informações da Compesa sobre a existência de alguma dificuldade na operação do abastecimento de água em Petrolândia, provocada por redução do nível do lago?
Lourival Simões: Assis, a situação está crítica, a Compesa já está em alerta com essa situação, assim como todos os agentes públicos, porém a problemática maior foi realmente esse erro por parte da Chesf na regulação dos reservatórios.
Há possibilidade de racionamento de água em nossa cidade?
Lourival Simões: Olhe, tudo pode acontecer, inclusive nada. Estamos em contato direto com o Presidente da Compesa, Roberto Tavares. Ele está preocupado, porém tenho certeza que caso ocorra essa situação a própria população e a comoção que poderá vir a ocorrer acordarão para que se equacione (a oferta/demanda), nem que para isso tenha-se que diminuir a vazão, parando assim a produção de energia, o que prejudicará a Prefeitura de Petrolândia. Porém, o mais importante nesse caso é nosso povo, que não ver a sua maior riqueza, que são justamente eles serem prejudicados. O que ocorre hoje é que estamos na véspera de uma eleição e não se quer um apagão geral, que está próximo de ocorrer, porém os interesses são muito maiores do que apenas nosso povo sofrido.
O Turismo Náutico está se tornando uma miragem no Lago de Itaparica?
Lourival Simões: Assis, a situação é muito delicada. Há três anos o Lago está baixo e a tendência é de se piorar. A ruína chamada Charqueada (no lago de Itaparica) já dá para andar nela. É provável que daqui a alguns dias possamos andar dentro das ruínas da Igreja Coração Sagrado de Jesus (Barreiras). O Turismo Náutico no município ficará um pouco prejudicado. Não acredito em miragem, acredito que ele continuará a existir, porque precisa de pouca água. O que realmente fica inviabilizado é a realização de eventos (no Lago) por parte da Prefeitura Municipal, pois não há a possibilidade de garantir a segurança de atletas que, por ventura, viessem a competir aqui. Porém, tenho fé em nosso bom Deus que será mandada chuva para que se possa melhorar ou pelo menos amenizar a situação do nosso bom e Velho Chico.
Senhor prefeito, agradecemos sua atenção com a nossa reportagem.
Redação do Blog de Assis Ramalho