“Nenhum prédio, por problemas de fundações e estruturas, desaba sem avisos. Muitas vezes são avisos que só um especialista em patologia [problemas em edificações] pode perceber. A fiscalização, por não ser especializada, pode não ter percebido o problema”
Rachaduras, trincas em vigas ou estalos são sinais de que uma obra pode ter problemas e até desabar. Prestar atenção nesses detalhes é fundamental para prevenir acidentes como o que
deixou uma família soterrada no último sábado (19), em Aracaju, resultando na morte de um bebê de 11 meses. Segundo o professor de engenharia da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian, o prédio deve ter rachado ou trincado antes de cair.
“Nenhum prédio, por problemas de fundações e estruturas, desaba sem avisos. Muitas vezes são avisos que só um especialista em patologia [problemas em edificações] pode perceber. A fiscalização, por não ser especializada, pode não ter percebido o problema”, diz o professor, que também é patologista de edificações. Segundo a Empresa Municipal de Obras e Urbanização de Aracaju (Emurb), o imóvel estava em fase final de acabamento e tinha a licença para a obra.
Os técnicos da prefeitura só entrariam novamente na obra na hora de dar o habite-se para a construção, documento que permite o início da utilização do edifício. “Quando o responsável viesse solicitar o habite-se, nós iriamos ao local fazer a vistoria da obra para ver se ela se atendeu ao projeto e ao alvará”, disse a presidente da Emurb, Maria do Socorro Cacho, à Agência Brasil. Segundo ela, a empresa pública não é responsável por acompanhar a execução do projeto.
Se a obra está com a documentação em dia, três são as causas principais de desabamentos, segundo Berberian: projeto ruim, má execução ou material de baixa qualidade. “Em geral, se tem uma falha só e as outras duas questões estão boas, o prédio pode até cair, mas o desabamento não é brusco nem catastrófico, e sempre dá sinais antes”, avalia. Em áreas praianas, como Aracaju, a areia costuma ser ruim, com conchas marinhas e excesso de sal, lembra o especialista.