“Prazer, Marinho Chagas.” A apresentação, um tanto quanto dispensável, é repetida toda vez que o simpático senhor, de 61 anos, cabelos longos e oxigenados e três terços no pescoço, encontra um interlocutor desconhecido e disposto a ouvir uma de suas tantas histórias, que vão do chapéu em Pelé logo em sua estreia com a camisa do Botafogo, no Maracanã, à briga com o goleiro Leão depois de perder a disputa pelo terceiro lugar na Copa do Mundo’1974. “Quando me vejo nos vídeos, correndo, driblando em velocidade, as faltas que eu batia, não acredito que sou eu”, disse Francisco das Chagas Marinho, o Marinho Chagas, na tarde do domingo passado, pouco antes de entrar no gramado da Arena das Dunas, que era inaugurada em Natal, para ser homenageado na cidade em que nasceu, em 8 de fevereiro de 1952.
Um dos melhores laterais-esquerdos da história do futebol brasileiro, digno herdeiro de Nílton Santos, a Bruxa Loura foi do céu ao purgatório nas últimas décadas. Revelado pelo Riachuelo, equipe de Natal ligada à Marinha, foi trocado em 1969 por pares de chuteiras com o ABC, transferiu-se para o Náutico e, em 1972, depois de brilhar numa preliminar nos Aflitos, chamou a atenção do comentarista João Saldanha, que ligou para Paraguaio, técnico do Botafogo, recomendando a contratação do lateral. Aos 20 anos, o jovem desembarcou no Rio para defender o alvinegro vislumbrando desfrutar tudo o que a fama e o sucesso tinham a lhe oferecer.