"O fato relacionado aos povos indígenas que mais chamou atenção no final de 2013 foi a morte do cacique Ivan Tenharim e os acontecimentos de violência e destruição que seguiram e sobre os quais seguem interrogações e dúvidas até hoje. Apesar da repercussão em nível nacional pouco se tem falado sobre a questão de fundo, ou seja, o clima de hostilidade e de preconceito implantado contra os Tenharim, desde que a estrada atravessou seu território em meados da década de 70. Espero contribuir com a reflexão a esse respeito", escreve Egon Heck, Cimi-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.
Eis o artigo.
Numa entrevista de julho de 1975, Eliane Cantanhede afirmou: “Nada tem sido mais dramático para a sobrevivência das tribos indígenas brasileiras que a construção de estradas em seus territórios. Pela estrada vem o branco, o vírus das doenças, os germes da mendicância, da violência, da prostituição” (Veja 16/07/1975).
As recentes violências em Humaitá, AM, tocam numa das feridas das veias e vias abertas na Ditadura Militar no Brasil. Ao ordenarem, em sua estratégia geopolítica e econômica, que se rasgasse a densa floresta amazônica em todas as direções, não apenas se estava abrindo estradas de invasão (chamado de vias da integração, do desenvolvimento, do deslocamento do nordeste da seca para a Amazônia sem gente!), mas caminhos de genocídios de inúmeros povos e comunidades indígenas que estavam sob os traçados das estradas. E foi nesta política que o território Tenharim foi rasgado pela Transamazônica, BR-230, na década de 1970.
Para Egydio Schwade, “a investigação da Comissão Nacional da Verdade sobre a violência sofrida por índios terá que apontar o que ocorreu com os Cinta Larga e Suruí, na região dos rios Aripuanã e Rooswelt, entre Rondônia e Mato Grosso; os Krenhakarore do rio Peixoto de Azevedo, na rodovia Cuiabá-Santarém (conhecidos como Índios Gigantes); os Kanê ou Beiços-de-Pau do Rio Arinos no Mato Grosso; os Avá-Canoeiro em Goiás; Parakanã e Ararano Pará, entre outros, em função dos projetos políticos e econômicos da Ditadura”.