Uma estrada federal esquecida por todos. Fora do mapa. Ignorada. Essa é a BR-110, a rodovia da vergonha. Vergonha para o Brasil, ainda maior para Pernambuco. De terra batida, em pleno século 21, humilha e desafia quem precisa passar por ela. Desacredita muitos.
Mais de 70 mil pessoas que habitam as cidades de Ibimirim e Petrolândia, no Sertão do Moxotó pernambucano, além de outros três mil índios da etnia Kambiwá espalhados em sete tribos ao longo do árduo e marrom caminho, perdido a 400 quilômetros do Recife. Trafegar pela via incomoda, constrange.
Em caminhões pau-de-arara, as crianças se agasalham, protegem braços e cabelos na tentativa de não chegar cobertas de poeira à única escola disponível, em Ibimirim. As meninas são as que mais se incomodam. O constrangimento é evidente. Parecem seres estranhos, completamente agasalhados, contrastando com o sol a pino do Sertão pernambucano, ainda mais castigante em tempos de seca forte.
Mas é a única opção. Seguir viagem no pau-de-arara pela estrada de terra batida para ter acesso à educação. Engolir poeira, literalmente. Nada podem fazer se a BR-110 tem mil quilômetros pavimentados no Nordeste, mas exatamente no trecho entre Ibimirim e Petrolândia
permanece esquecida. A rodovia da vergonha tem atualmente quase 80 quilômetros de terra batida, mato e lixo. Quem passa por ela se impressiona. Duvida que esteja numa BR. Acredita estar em mais uma ligação vicinal, daquelas que unem o nada a lugar algum.
A pavimentação da BR-110 encurtaria os caminhos de muitos. Mas não, é de terra e continuará assim por um bom tempo. Os prejuízos para quem depende dela são muitos. A ausência de pavimento isola a população. Sem estrada, sem transporte, sem desenvolvimento. Sofrem todos. Quem mora nas cidades e quem está no meio do caminho.
“Temos muitas dificuldades para escoar nossa produção. Vivemos basicamente da agricultura e não temos como escoá-la. Poderíamos estar vendendo para cidades como Salvador e Aracaju, mas a inexistência de estradas impede. Vivemos a esperar. A BR-110 continua sendo sonho”, José Alberes da Silva, de Ibimirim.
Fonte: Jornal do Commercio