Quase 50 anos depois, as Organizações Globo, em nome da “memória”, resolveram fazer uma autocrítica sobre o apoio que deram ao golpe civil-militar de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart e implantou uma ditadura que matou, torturou, reprimiu, censurou e interrompeu a frágil experiência democrática brasileira. Os danos causados por essa intervenção truculenta e desastrosa contra a democracia ainda estão por ser contabilizados.
A reportagem é de Marco Aurélio Weissheimer, publicada por Carta Maior, 02-09-2013.
A memória resgatada pelas Organizações Globo é extremamente seletiva. Omite, por exemplo, os benefícios que suas empresas obtiveram pelo apoio ao golpe. Omite também os crimes acobertados por seus veículos de comunicação que, durante anos, venderam dia e noite (e a palavra “venderam” aí não é uma expressão retórica, mas sim literal) um suposto Brasil gigante que estaria sendo construído pela ditadura. Omite ainda como os interesses dos Estados Unidos (que numa curiosa ironia história revelam agora seu caráter invasivo autoritário sobre a soberania nacional brasileira) foram colocados acima de uma agenda de reformas voltada ao combate da pobreza e da desigualdade social no país. Para restaurar essa memória sonegada somente algo como uma Comissão da Verdade que resolvesse investigar a sério as relações da mídia com a ditadura. Mas essa é outra história.