Professor Daniel Filho entrevistado por Assis Ramalho |
Na manhã desta sexta-feira(28) a reportagem do Blog de Assis Ramalho fez uma entrevista exclusiva com o professor Daniel Filho, um dos organizadores dos eventos de manifestações populares no município de Petrolândia, no Sertão de Pernambuco.
Na matéria, Daniel Filho fala, entre outros assuntos, sobre o I Primeiro Fórum Municipal de Política de Petrolândia, realizado na noite de quinta-feira (27), no Clube Velho Chico, e avalia como positivo o evento, apesar de lamentar a ausência de um maior público e da presença do prefeito Lourival Simões. "Do ponto de vista do nosso esforço e o que a gente conseguiu, em tão pouco tempo, foi nota mil, mas, infelizmente, a participação (do público) deixou a desejar, porque as pessoas ainda estão temerosas ou acreditando que esse é um movimento do 12 (partido político), é um movimento do 13. Eu não sei o que é que as pessoas pensam. Mas elas se negaram a se discutir algo que é interessante para todos, e seria muito legal, pra quebrar todo esse preconceito, a presença do prefeito."
Daniel Filho fala da Primeira Manifestação, realizada nas ruas da cidade na última sexta-feira (21), e da próxima manifestação, que acontece neste sábado (29). "Achei maravilhoso e fiquei bem emocionado. Ser professor é isso que eu estou fazendo. Colocar na cabeça destes jovens que política não é só votar. Política é participar. E foi imposto muito, na cabeça dos alunos, o medo. A mídia nacional trata os pequenos focos de vandalismo como bem maiores do que parece e muitos pais ficaram com medo de liberar os filhos, e mesmo assim eu considero que foi uma vitória. Os jovens deram o tom da festa, eu gostei bastante deles. Colocou na pauta deles, enquanto jovens, a importância deste debate político, a importância de manifestar. Se um ou outro é mais acalorado, mais importante é que não houve depredação, não houve desrespeito de forma alguma e eu fiquei maravilhado com aquilo."
Daniel diz que está faltando transparência no governo de Lourival Simões. "O que está acontecendo é que não está havendo transparência com o que foi prometido. Então, tem muita coisa que ele já fez, por exemplo, que eu não sabia. E pode ter muita coisa que ele já tenha feito e o povo não saiba. Então esse canal que a gente está abrindo para Lourival, não é para afrontar, não é para desrespeitá-lo. É para que a gente compreenda o que está acontecendo, o que foi feito, o quanto foi feito, o que não foi feito, para ele explicar pra gente o porquê''.
Daniel também analisa a entrevista do prefeito Lourival Simões, concedida aos Blogs de Assis Ramalho e Jair Ferraz, na tarde do último domingo (23), e diz que só discorda de um ponto. "Na entrevista (de Lourival Simões) só teve uma colocação, que é a de insistir que a manifestação é orquestrada por alguém que seja contrário a ele. Eu até conversei uma vez com ele sobre esses debates e ele citou pessoas que realmente fogem do discurso político para simplesmente bater nele. É coisa que eu sou totalmente contra. Então, quando ele insistiu na entrevista que a manifestação daqui é oportunista, ele está derrubando um trabalho que eu e o meu colega George (Novaes) estamos fazendo, e a gente não quer isso. A gente não quer levantar a bandeira do 12, do 13, do 40 e afrontá-lo, desrespeitá-lo e denegrir a imagem dele. A gente está com um grupo transparente em Petrolândia para lutar por isso, para que se crie esse canal. A gente quer ajudar a Lourival a trabalhar, mas, lógico, sem conivência e sim fiscalizando. E a gente vai fazer isso com qualquer prefeito que estiver lá. Então eu achei que fomos atingidos somente nesse momento da entrevista."
Daniel diz que no dia em que perceber que o movimento está virando algo orquestrado pela oposição, ele será o primeiro a sair. "No dia que isso acontecer, no dia que eu perceber que o programa Transparência Petrolândia está virando algo orquestrado pela oposição, eu juro a você que eu sou o primeiro a sair."
Entre outros assuntos tocados na entrevista, Daniel Filho também fala sobre a segunda manifestação popular que acontecerá neste sábado (29) nas ruas da cidade.
Acompanhe abaixo na íntegra a entrevista concedida ao Blog de Assis Ramalho, e também deixamos o áudio à disposição dos nossos leitores.
Sobre o que achou do primeiro Fórum de Política Municipal, realizado nesta quinta-feira (27), no Clube Velho Chico:
"Bom dia, Assis, e aos leitores (do Blog) e, possivelmente, aos ouvintes desta entrevista. A avaliação que eu faço do primeiro Fórum, que surgiu de uma ideia minha com o professor George (Novaes), em um bate-papo, porque, pelo jogo, a gente necessitava dar uma lógica política para a manifestação. Só a manifestação através de cartazes e festa perde o sentido. É tanto que recebemos elogios da doutora da UNEB (Universidade do Estado da Bahia), historiadora, que confirmou presença ontem (quinta-feira, 27), de que era necessário esse momento para discutir e procurar caminhos e rumos para a nossa cidade. Então, do ponto de vista do nosso esforço e o que a gente conseguiu, em tão pouco tempo, foi nota mil. Mas, infelizmente, a participação (do público) deixou a desejar, porque as pessoas ainda estão temerosas ou acreditando que esse é um movimento do 12 (partido político), é um movimento do 13. Eu não sei o que é que as pessoas pensam. Mas elas se negaram a discutir algo que é interessante para todos, e seria muito legal, pra quebrar todo esse preconceito, a presença do prefeito. Então, eu não considero como um sucesso pleno, total, porque faltou a população comparecer, dar suas explicações, dizer os seus anseios, e o prefeito Lourival, (para) ouvir e nos responder. Fora isso, eu gostei bastante.
Sobre o que foi debatido no Fórum de Política Municipal:
Sobre as promessas feitas pelo governo de Lourival Simões, e se faltam muitas a serem cumpridas:
''Pelo que a gente viu, e por isso é que era interessante ele esclarecer, falta bastante. Mas aí eu não diria que é palpável, não dá para perceber o quanto falta e que deixou de fazer. Mas o que estar acontecendo é que não está havendo transparência com o que foi prometido. Então tem muita coisa que ele já fez por exemplo, que eu não sabia. E pode ter muita coisa que ele já tenha feito e o povo não saiba. Então esse canal que a gente está abrindo para Lourival, não é para afrontar, não é para desrespeitá-lo. É para que a gente compreenda o que está acontecendo, o que foi feito, o quanto foi feito, o que não foi feito, para ele explicar pra gente o porquê.
Perguntamos se está faltando transparência e diálogo no governo do prefeito.
"Isso. Pra mim está faltando transparência e eu não uso no sentido pejorativo da palavra, para dizer que ele está escondendo da população. Não. Está faltando transparência porque está faltando diálogo com a sociedade e suas representações sociais. Então, ajudaria bastante a quebrar esse clima de brigas. Ficam brigas entre partidos, ficam achando que eu estou trabalhando e sendo bode expiatório para um partido, quando, na verdade, a gente só quer dialogar. Então, se ele abre pra gente esse canal e deixa esse canal aberto, fica mais fácil compreender quais são os problemas dele, porque, obviamente, ele deve ter problemas para gerir esses recursos. O que a gente quer é que se explique pra gente, para que a gente possa sugerir (soluções)."
Se vai acontecer o segundo Fórum e se já tem a data.
''Não, a princípio a gente acreditando que o prefeito viria, a idéia principal seria fazer um Forum anualmente. Então, ano que vem (a gente) iria fazer um Fórum para analisar o que Lourival conseguiu avançar, ou deixou de fazer e explicar novamente pra gente o por que não fez. Mais como ele não compareceu, então vai ter o segundo Forum, mais a gente não tem ideia ainda de data. A gente vai escolher um momento melhor pra fazer''.
Se o prefeito vai ser convidado para um segundo Fórum Político.
''Claro, a gente quer fazer esse acordo com ele. Provavelmente, e com razão, ele esteja temeroso, achando que a gente quer denegrir a imagem dele, humilhar, mas, desde já, eu dou a minha cara a bater e afirmo que não é isso que a gente quer. A gente quer dialogar, quer deixar esse canal aberto para que cada vez mais fique transparente a sua gestão e as suas propostas."
Pedimos a Daniel que fizesse uma análise sobre a primeira manifestação, realizada no dia 21 de junho.
"Achei maravilhoso e fiquei bem emocionado. Ser professor é isso que eu estou fazendo. Colocar na cabeça destes jovens que política não é só votar. Política é participar. E foi imposto muito, na cabeça dos alunos, o medo. A mídia nacional trata os pequenos focos de vandalismo como bem maiores do que parece e muitos pais ficaram com medo de liberar os filhos, diretores de escolas ficaram com medo de liberar os alunos, e mesmo assim eu considero que foi uma vitória. Os jovens deram o tom da festa. A princípio, nós fomos pegos de surpresa porque todos que tinham carro de som na cidade rejeitaram, de última hora, de participar, nem pagos eles iriam. E aí a gente teve que procurar carro em Carnaubeiras, em Floresta, e aí pensou que não ia acontecer por conta disso. Mais aí os jovens foram o carro de som da vez. Eles ajudaram a animar e eu achei espetacular. Eu gostei bastante deles. Colocou na pauta deles, enquanto jovens, a importância deste debate político, a importância de manifestar. Se um ou outro é mais acalorado, mas o importante é que não houve depredação, não houve desrespeito de forma alguma e eu fiquei maravilhado com aquilo."
Sobre a segunda manifestação que será realizada neste sábado (29):
"A gente faz o percurso na hora. A gente conversa com os jovens, a gente deixa que os jovens mandem. A gente quer que eles tomem de conta disso aqui. Então, a gente vai se concentrar no Mercado Público, e conta com eles para a gente definir o percurso, mas que vamos caminhar sim. A gente vai caminhar. A gente vai fazer como da outra vez, a gente vai fazer como se fosse uma festa da democracia, com cada qual com as suas fantasias, com os seus cartazes, com as suas reivindicações e se fazer ouvir por todos os meios de comunicações de Petrolândia."
Paz
''Paz e lutar pela cidadania. Lutar pelos seus direitos de cidadania não tem nada a ver com violência''.
Sobre possíveis discordâncias quanto às colocações do prefeito Lourival Simões, em entrevista concedida aos Blogs de Assis Ramalho e Jair Ferraz, no último domingo (23):
"Não, na entrevista só teve uma colocação que é a de insistir que a manifestação é orquestrada por alguém que seja contrario a ele. Eu até conversei uma vez com ele sobre esses debates e ele citou pessoas que realmente fogem do discurso político para simplesmente bater nele. É coisa que eu sou totalmente contra. Então, quando ele insistiu na entrevista que a manifestação daqui é oportunista, ele está derrubando um trabalho, que eu e o meu colega George estamos fazendo, e a gente não quer isso. A gente não quer levantar a bandeira do 12, do 13, do 40, e afrontá-lo, desrespeitá-lo e denegrir a imagem dele. A gente está com um grupo transparente em Petrolândia para lutar por isso, para que se crie esse canal. A gente quer ajudar a Lourival a trabalhar, mas, lógico, sem conivência e sim fiscalizando. E a gente vai fazer isso com qualquer prefeito quer estiver lá. Então, eu achei que fomos atingidos somente nesse momento. No momento em que ele insiste em dizer que a manifestação é orquestrada pelo 12, ou Dr. João. No dia que isso acontecer, no dia que eu perceber que o programa Transparência Petrolândia está virando algo orquestrado pela oposição, eu juro a você que eu sou o primeiro a sair. Não é esse o objetivo. Então, eu só me sentir atingido nesse momento."
Se tem pretensões políticas no futuro:
"Olha, eu já quis concorrer aqui à gestão da escola e eu não vou dizer que não queira, um dia, ser (candidato a cargo político). Claro, socialmente eu tenho essa política. Ser ativista político não é querer lutar, não. Eu só me candidatei à gestão da escola porque acreditei que poderia fazer melhor. Então, eu só viria a concorrer para uma gestão política, se eu acreditar que posso fazer melhor. Então, se os que estão aí governarem para o povo e com o povo, eu jamais precisaria me candidatar a qualquer coisa. Agora, se eu vir que eu posso fazer melhor, e a pessoa está se negando a exercer o voto que as pessoas deram a ela, aí sim, é que eu entraria. Porque não adianta ficar só levantando bandeira. Tem que agir e mostrar como eu faria.
Se ele se considera um líder:
"A liderança é feita pelo povo. Sinceramente, eu não tenho termômetro para saber disso, saber o quanto eu consigo liderar. É como você disse, eu sou jovem e não dá para perceber isso. Mas o meu intuito é que as pessoas confiem no que eu falo, e eu só posso fazer isso através dos meus atos e ainda bem que eu estou tendo o reconhecimento municipal, estadual, nacional e até internacional. No dia da premiação em São Paulo (13º Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade, na categoria Educação, concedido pela Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo-APOGLBT) tinha vários nomes de fora do país. Então, eu espero muito que os meus atos inspirem, tanto os jovens como educadores, a lutar por uma educação de qualidade e uma divisão de patrimônio público mais justa."
Sobre o seu perfil.
"Eu nasci no Rio de Janeiro, minha mãe é de Pesqueira e se criou em Sertânia e o meu pai é da Barreiras antiga (distrito da velha Petrolândia). Eles se conheceram lá (no Rio), onde morei até os 3 anos de idade. Dos 3 aos 11 anos, eu morei em São Paulo, e dos 11 anos pra cá eu sou filho de Petrolândia. Estou aqui e vim pra ficar e transformar. Eu me formei em Arcoverde, neste período eu morei 4 anos em Sertânia e considero uma fase maravilhosa. Acho que ali eu me emancipei intelectualmente, e hoje estou aqui lutando por uma pedagogia, uma educação inovadora. Uma educação da autonomia que emancipa o aluno e não prende ele dentro da escola''.
Agradecemos pela entrevista e deixamos o espaço aberto para qualquer outro assunto, que não tivesse sido tocado durante a entrevista.
"Obrigado a você, por ter dado esse espaço e espero que todos acreditem no que eu estou falando. Que as manifestações tenham o intuito de engajar politicamente a todo o povo. Não é pra me promover e muito menos para denegrir a imagem de qualquer um que esteja exercendo este poder. Então, a minha consideração final é essa. Agradecer esse espaço e convocar as pessoas a acreditarem no que eu estou falando, se a qualquer momento eu perceber que eu estou sendo usado por algo, ou alguém, eu sou o primeiro a dar a cara e dizer que estou fora."
Para escutar o áudio completo da entrevista, clique na seta abaixo.
Da Redação do Blog de Assis Ramalho
Foto: Aluna da EREM Maria Cavalcanti Nunes
Foto: Aluna da EREM Maria Cavalcanti Nunes