Roberto Magalhães Lêdo (foto: Assis Ramalho)
A notícia de que Itacuruba, sertão de Pernambuco, poderá receber a instalação da primeira usina nuclear do Nordeste gerou movimentos contra e a favor da população de Itacuruba e de cidades circunvizinhas, a exemplo de Floresta, Belém de São Francisco, Petrolândia, entre outras.
Documento estatal sobre a implantação das usinas no País aponta cidade de Itacuruba como o município que reúne as melhores condições de receber uma unidade no Nordeste, pela fartura de água e proximidade das linhas de transmissão da Chesf.
Durante o Fórum de Implantação de Territórios Produtivos
(Piscicultura), realizado em Petrolândia no dia 26/09/12, a reportagem do Blog de Assis Ramalho entrevistou Romero Magalhães Lêdo,
prefeito de Itacuruba.
Na entrevista o prefeito fala sobre o polêmico assunto da possibilidade de uma usina nuclear ser instalada naquele município. Ele afirma que no Brasil morre-se de acidente de moto diariamente muito mais do que a soma de mortes em todos os acidentes nucleares. ''O meu posicionamento como homem
público é de tentar entender primeiro o processo todo. Eu não tenho
conhecimento profundo técnico e nem ideológico. Sei que é muito romântico fazer
uma discussão de que estaremos instalando uma bomba na nossa casa, mas morre-se
de acidente de moto hoje no Brasil diariamente muito mais do que em todos os
acidentes nucleares que houve''.
O prefeito também fala da evolução do município sobre a sua administração. "Em Itacuruba nós implantamos um
sistema moderno de gestão, onde existe uma discussão e uma participação social
muito ativa. Conseguimos, com esses resultados, termos índices na educação,
onde nós estamos como nona melhor educação do Estado de Pernambuco, indicado
pelo índice Firjan, assim como Petrolândia teve uma boa colocação na área do
desenvolvimento do emprego e renda. Tivemos um Ideb que saiu de 2,4 para 4,1.''
Acompanhe a entrevista, na integra.
Assis Ramalho: Romero, como está a questão da possibilidade da instalação de
uma usina nuclear em Itacuruba?
Romero: A questão da usina nuclear passou a ser um tema mais
polêmico do que já é a partir desse último acidente, lá no Japão. E no Brasil
ainda está em fase de discussão. Este ano (2012) tem a conferência nacional
sobre matrizes energéticas e não é só a questão nuclear. É a questão da
manutenção das matrizes energéticas para suportar o crescimento do país. E entre
as discussões está a manutenção ou não da política nacional de energia a partir
das usinas atômicas. Então nós estamos aguardando, antes de tudo, uma definição
se essa matriz energética será adotada ou não no Brasil. Então, a partir dessa
discussão nacional, é que nós devemos puxar e trazer até o pólo local,
regional, porque são políticas nacionais, não são políticas somente locais.
Itacuruba foi escolhida a partir de critérios técnicos. Não só Itacuruba.
Petrolândia também tem uma área definida. Em Alagoas tem outras áreas
definidas, na Bahia. Foram 10 áreas estudadas para, inicialmente, se instalar 2
usinas nucleares no Nordeste. Itacuruba pontuou tecnicamente como a mais
propícia. Isso quer dizer que se nacionalmente seja definido que o Brasil
adotará política de energia nuclear,
será especificamente em Itacuruba. Então, eu não gosto de antecipar discussões
que ainda estão no campo do imaginário. Se por acaso a partir da política
nacional isso vier à discussão nós vamos participar desses fóruns, dessas
discussões, acompanhar. Já tivemos a presença do Ministério Público Ambiental Federal em Itacuruba participando de uma
audiência pública, onde o povo de Itacuruba em si já se posiciona contrário à
instalação de uma usina nuclear no município, mas é como eu digo, teremos que
aguardar ainda um posicionamento de uma questão que envolve segurança nacional
e eu prefiro estar numa discussão mais atual, como a preservação das nossas
matas ciliares e do nosso meio ambiente, que hoje está sendo aí degradado. A gente vê o São Francisco sendo eutrofizado
por questão dos dejetos das cidades que estão sendo jogados no rio e os esgotos
ainda caindo em nossa bacia hidrográfica, a devastação das matas ciliares que
faz com que o assoreamento do rio venha também sendo um problema até para a
navegação na calha do rio São Francisco, porque desmataram a mata de proteção
do rio São Francisco. Então, são discussões até mais atuais que a gente deve se
preocupar porque é o momento que nós estamos vivendo e não o que ainda poderá
ser ou não.
Assis Ramalho: A opinião particular do governo e do prefeito
Romero é positiva ou negativa em relação à usina?
Romero: Em relação à usina, o meu posicionamento como homem
público é de tentar entender primeiro o processo todo. Eu não tenho
conhecimento profundo técnico e nem ideológico. Sei que é muito romântico fazer
uma discussão de que estaremos instalando uma bomba na nossa casa, mas morre-se
de acidente de moto hoje no Brasil diariamente muito mais do que em todos os
acidentes nucleares que houve. Morre-se muito mais de fome na África do que
qualquer outro problema que possa estar sendo causado pela instalação de uma
usina. Então eu prefiro me reservar ainda ao tempo certo de ouvir e participar
ativamente de todas as discussões, mas sou um defensor assíduo da Natureza e
temos aí ainda a energia solar para ser explorada, a energia eólica ainda para
ser explorada, e eu acho que isso poderia também estar nesses temas, poderia
estar dentro dessas discussões, até para que em nossa região, que tem um nível
de insolação tão alto, possamos tirar proveito desse tipo de energia assim como
da energia eólica, antes de discutir uma instalação de uma usina e de um tipo
de energia que no futuro saiba-se ou tenha-se mais controlada ou dominada. Eu acho
que podemos explorar potenciais ainda como energia solar, energia eólica, antes
de entrarmos na discussão da última condição de uma instalação de uma usina
nuclear. Países como o próprio Japão, que sofreu o desastre, essa catástrofe
que foi, não deixará de adotar, na sua política de produção de energia, a
energia nuclear porque eles não podem deixar de ter a energia. E naquele país,
como não tem como instalar hidrelétricas, como não tem potencial solar e outras
condições, eles já disseram que não poderão prescindir do uso de energia
atômica. Já a Alemanha, que é um país mais desenvolvido (em recursos naturais) está
aí dizendo que vai parar a produção de energia nuclear e está tentando reverter
isso com a potencialização da energia solar. Então é assim que eu penso.
Assis Ramalho: Romero, é bom deixar claro que a decisão
final não depende do município de Itacuruba. Depende lá de cima (governo
federal), não é?
Romero: Com certeza. Você veja até os movimentos que nós
fizemos para tentarmos impedir a instalação da hidrelétrica de Itaparica (Usina
Hidrelétrica Luiz Gonzaga), que expulsou tantas famílias de um território
altamente produtivo que eram as áreas de aluviões que nós tínhamos, nossas
ilhas e tudo o mais, e, no entanto, não conseguimos barrar sua construção. Não foi
a greve de fome do bispo que fez parar a transposição do rio São Francisco, não
foi o movimento indígena que fez parar a construção da Usina de Belo Monte, lá
no rio Xingu, no Pará. Então eu prefiro
estar presente, estar dentro das discussões, buscando o melhor aproveitamento
das políticas públicas que possam desenvolver o nosso município e nossa região.
Assis Ramalho: No momento político, como está Itacuruba,
nesta reta final (a entrevista foi feita em 26/09/12)?
Romero: Estamos bem. Eu acho que isso esteja sendo o
reflexo, o resultado de uma gestão que tem se modernizado. Eu estou no segundo
mandato, e apresentamos um candidato que surgiu dos anseios da gestão que é o
atual vice-prefeito, Gustavo Cabral. Como candidata a vice temos Djnanny que
era secretária de Administração do município. Tivemos
a política de habitação, em que construímos 600 casas novas no município de
Itacuruba. Tivemos um conjunto de ações integradas voltadas para a política de
atendimento à criança, ao jovem, ao idoso. Eu acredito que isso tem feito com
que eu tenha conseguido a minha reeleição e agora, extraído do sentimento da própria
população e do nosso grupo político, a indicação do Gustavo Cabral, que foi a
pessoa escolhida pelo grupo para representar esse conjunto de trabalhos, como
continuidade.
Assis Ramalho: Romero, muito obrigado.
Romero: Obrigado a você e parabéns por todo o seu trabalho
aí na região.
Nota do Blog de Assis Ramalho
O candidato a sucessão de Romero Magalhães manteve o PSB na gestão do município. Gustavo Cabral foi eleito com 55,18% dos 3.909 votos válidos de Itacuruba.
Da redação do Blog de Assis Ramalho
Foto: Assis Ramalho