Lago de Itaparica (vista da Serra do Papagaio) Foto: Bruno Gonçalves |
No último sábado (17), foi postada aqui matéria sob o título “Blog do Magno Martins publica foto das belezas de Petrolândia, enviada pelo Prefeito Lourival Simões”. A foto em questão (acima) mostra o Lago da Barragem de Itaparica, visto da Serra do Papagaio. Recebemos, então, comentário sobre a dificuldade de acesso às paisagens paradisíacas existentes neste município. De fato, há dificuldades de acesso a esses lugares. Por outro lado, é sabido que são essas mesmas dificuldades que (ainda) mantêm tais locais quase intocados.
O homem, regido pelo egoísmo e ao contrário das demais espécies terráqueas, não muda para adaptar-se ao meio em que vive. Antes, introduz mudanças no ambiente para que o meio se torne adequado à sua presença. Assim, sob pouca ou nenhuma resistência inicial da Natureza, o ser humano promove alterações e interações no ambiente escolhido para seu habitat.
A Natureza, mulher de ultrapassados e desusados pudores, impõe obstáculos às suas mais belas e cobiçadas paragens. Fosse fácil, não seria valorizada, rara nem paradisíaca a simples visão. Fosse fácil, estaria desprotegida, exposta ao uso e abuso, coberta pelos detritos deixados por sôfregos visitantes em busca de diversão.
Somos favoráveis à melhoria das condições de trafegabilidade para locais como a Serra do Papagaio e a Praia do Sobrado. São lugares que enchem os olhos de beleza e os corações petrolandenses de orgulho. Infelizmente, são raríssimas as pessoas que conseguem transitar por esses cartões postais sem deixar vestígios. Por onde passa, o homem marca território com a poluição ambiental. Assim somos, antes de tudo, favoráveis à adoção de medidas eficazes para proteger, guardar e resguardar esses tesouros, desestimulando a exploração danosa do meio ambiente.
As belezas naturais e artificiais (introduzidas pelo homem) da Velha Petrolândia não existem mais. São recordações em fotografias e memórias. Nenhuma intervenção humana as trará de volta. Presentemente, porém, os petrolandenses têm a oportunidade de preservar o que lhes coube em patrimônio natural. Desfrutando da Natureza com educação ambiental e respeito evitar-se-á que esses paraísos se transformem em novas recordações em memórias e fotografias.
Com os devidos cuidados para evitar a degradação do meio ambiente, é preciso sim promover o desejo de conhecer e usufruir as mais belas e remotas áreas de nossa terra, qual desejo do poeta pela mulher amada, como no poema abaixo transcrito.
Elegia: Indo para o Leito (Elegy: Going to Bed)
Poema de John Donne, poeta inglês do séc. XVII
Tradução: Augusto de Campos
Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha mina preciosa, meu Império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha mina preciosa, meu Império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.
Da Redação do Blog de Assis Ramalho