Pesquisadores de todo o mundo empreendem uma corrida contra o tempo em busca de uma vacina ou medicamento eficaz para tratar a Covid-19, doença que já tirou a vida de mais de meio milhão de pessoas. Um dos tratamentos experimentais é o uso do plasma, a parte líquida do sangue, de quem foi infectado pelo novo coronavírus. Quem se cura da infecção por Sars-CoV-2 desenvolve anticorpos que podem ajudar na recuperação daqueles pacientes em estado mais grave.
Os médicos esperam que os infectados que recebem o plasma tenham uma recuperação mais rápida, um menor tempo de internação e um risco menor de morte. Um grupo de pesquisadores pernambucanos, liderado pelo infectologista e professor da Universidade de Pernambuco (UPE) Demócrito Miranda Filho, começa na próxima quarta-feira (1º) estudos com a transfusão de plasma.
Primeiramente, serão coletadas 300 amostras de 250 mL cada de plasma de doadores, que devem ser homens com idades entre 18 e 69 anos, recuperados da doença há mais de 30 dias e que possuam um exame laboratorial que confirme a infecção por Covid-19. O cadastro será disponibilizado no site do Hemope e poderá ser também feito pelo telefone 0800.081.1535. Os possíveis doadores deverão preencher um formulário, o que pode ser feito tanto na página, quanto na ida para a coleta.
Existe uma regulamentação que versa sobre o uso de plasma de mulheres em procedimentos do tipo. “Mulheres que já engravidaram podem ter no sangue alguns anticorpos que podem causar uma reação que não é desejável. Existe uma regra geral de não se usar plasma de mulher para qualquer procedimento”, explica Demétrio.
De acordo com o infectologista, a técnica de transfusão de plasma já foi usada em outras doenças no passado, quando não haviam tratamentos mais eficazes, inclusive com infecções respiratórias, como a Covid-19. “Há essa fundamentação de que no plasma de uma pessoa que passou recentemente por uma doença há anticorpos, porque produzimos anticorpos contra o vírus. Acreditamos que, quanto mais recente em relação à infecção, maior a chance de ter uma quantidade maior de anticorpos que podem ser eficazes contra o vírus. Nos baseamos nessa informação. Os anticorpos podem até não ser eficazes, mas existe uma base teórica que fundamenta isso”, detalha o infectologista.
Apesar de não haver a doação de plasma de mulheres, pacientes de ambos os gêneros receberão a transfusão. O estudo será feito com pacientes internados em estado grave no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape) e no Hospital das Clínicas (HC), todos no Recife.
Serão 110 pacientes incluídos no grupo que vai usar plasma e outros 110 no grupo-controle, o grupo que será comparado. “A coleta de doadores começa na quarta-feira. Na segunda quinzena de julho devemos começar o estudo de campo nos hospitais”, pontua Demócrito.
Resultados
Ainda não há resultados sobre o uso do plasma sanguíneo em outros pacientes pelo mundo, segundo Demétrio. Há alguns relatos de casos na China, logo no começo da pandemia, mas com um grupo de pacientes reduzido. “Existem dois tipos de estudos que usamos na ciência para referência. [Na China] usaram 10 pacientes e relataram que esses pacientes graves se saíram bem, mas não há um grupo de comparação. Quando não há um grupo de comparação você não pode dizer que é um tratamento melhor que o outro”, esclarece o infectologista.
Após os relatos, são indicados os ensaios clínicos, como o que será feito em Pernambuco. Nessa modalidade, os estudos seguem um protocolo específico, no qual se comparam dois grupos: um no qual é feita a intervenção - nesse caso, com o plasma - e outro com uma comparação para referência, que pode ser, por exemplo, o tratamento padrão já feito pelo hospital. “No fim, você compara os dois grupos e analisa quem se beneficiou mais no tratamento. Então você tem como afirmar se a intervenção que você está propondo é superior ao tratamento. É o que vamos fazer agora”, conclui Demócrito.
Por Fabio Nóbrega
FolhaPE