Breno e Maria Eduarda esperavam filho para o fim deste mês de julho - Cortesia
Dentre os rostos que testemunharam as buscas no Córrego da Areia estava Breno José da Silva, 28, companheiro de Maria Eduarda. Estava para fazer dois anos que os dois estavam juntos. “Eu falei com ela às 23h43 de ontem. Ela me perguntou se eu estava bem, disse que estava chovendo muito e me mandou beijo. Daí umas 7h30, amigo, primo, tia dela, todos ligando para mim, avisando que tinha acontecido uma tragédia, mas eu não sabia que tinha sido tão grave assim”, relata.
Maria Eduarda morava com Breno em Itamaracá, também na Grande Recife, mas decidiu passar o final de sua gravidez em Abreu e Lima, na casa dos pais, Ariana Teresa Xavier, 39, e Silvano da Silva, 49. “Agora estou aqui, na esperança de encontrá-la viva. Com muita dor no coração, mas enfim”, desabafou o companheiro, antes da mulher ser localizada sem vida.
O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 6h52 de quarta. A primeira pessoa a ser socorrida foi Ariana, que segue internada em estado grave no Hospital Miguel Arraes, em Paulista. Além de Maria Eduarda, Ariana tinha outros dois filhos: Mariana Xavier da Silva, 18, e Luís Henrique da Silva, 15. A primeira chegou a ser resgatada viva, mas morreu a caminho do hospital. Já Luís foi encontrado sem vida na lama. Outra pessoa morta no deslizamento foi Adalmir Ferreira dos Santos, 53. Ele morava só e era vizinho da família atingida pela chuva.
Responsável pela equipe de resgate, composta por mais de 10 bombeiros, o major Kléber Dallas fazia questão de frisar que a grávida estava desaparecida, e não morta. Uma torre de luz foi instalada para ajudar nos trabalhos, que viraram a madrugada. “Continuamos até ela ser localizada”, pontuou.
Vizinhança solidária
Diante do desastre, reinou a solidariedade. Muitos moradores do bairro de Caetés I foram até o local ajudar nas buscas. Um deles era o servidor público João Vitor Amaral da Silva, 34. “Já teve outros deslizamentos, mas esse vai ficar na história. Foi o mais valente. E isso só acontece porque não existe prevenção nas barreiras do município. A população sofre, a cidade sangra, e os gestores não se antenam a isso”, disse.
Perto do resgate, o mecânico Lúcio Oliveira, 35, observava estarrecido da varanda de sua residência. “Conhecia todo mundo que foi afetado. Eram todos pessoas muito boas. Quando vim morar aqui, há 22 anos, eles já estavam aqui. Já tinha visto barreira cair em outros lugares, mas desse jeito, nunca”, disse. Com a casa condenada pela Defesa Civil, ele foi pernoitar na casa dos pais.
Quem também precisou ir embora foi o operador de máquinas Leandro Antonio, 34: “Minha casa sofreu uma rachadura na barreira, mas a Defesa Civil não me deu lona. Eu que tive que comprar para poder colocar”. Casado e pai de um filho, vai passar um tempo com a sogra. “Eles falam que é melhor sair para não acontecer coisa pior. Mas falar é fácil. Eu tenho a casa da minha sogra, mas se eu não tivesse, e aí? Ia ter que procurar um abrigo”, apontou.
Para esta quinta-feira, a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) prevê que vai continuar chovendo - mas com intensidade fraca a moderada. A Prefeitura de Abreu e Lima decretou estado de emergência. Em nota, o executivo abreu-limense alega que instaurou uma operação para atender desabrigados e que as equipes de Defesa Civil mantiveram o trabalho de monitoramento das áreas de risco e instalação de lonas plásticas. Mas, em síntese, o sentimento da população de Caetés I foi dito pela líder comunitária Salomé Araújo, 49: “Caetés nunca mais será a mesma. O que aconteceu aqui, não tem conserto”.
Por Diário de Pernambuco