Fotos: Lúcia Xavier
Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, é das muitas cidades em que a população não tem acesso a leite pasteurizado para uso no dia a dia. As opções quase confiáveis disponíveis são leite em pó e leite UHT (de caixa), que não atendem todos os usos da culinária. Paralelamente, o leite cru é comercializado sem nenhum tipo de fiscalização. Na última sexta-feira (16), a reportagem do Blog de Assis Ramalho, de passagem por um comércio de Petrolândia, adquiriu uma garrafa de PET com 2 litros de leite. Com pressa e os braços já ocupados por outros itens da feira, não observamos a embalagem, diligentemente escolhida entre os frascos expostos no chão, à temperatura ambiente, e colocada em uma sacola pelo atendente do local.
Em casa, a surpresa foi grande. O aspecto visual do estado precário da tampa da garrafa, completamente desgastada, foi o menor dos sustos. Ao abrir a embalagem, um pó fino se soltava da tampa e um estranho atrito era sentido entre a garrafa e a tampa. Aberta a garrafa, voilá! Descobrimos que a tampinha verde - e provavelmente a garrafa, também em estado lastimável-, antes de virar embalagem de leite, passou um bom tempo enterrada na areia sabe-se lá de onde.
Nesta segunda-feira (19), visitamos novamente o estabelecimento em que o produto é vendido. Novas(?) garrafas PET de 2 litros estavam expostas no chão, próximo à entrada, de frente para o sol. Sem refrigeração. Desta vez, analisamos o produto. Garrafas de origem duvidosa, tão impróprias para embalagem de alimentos quanto para produtos de limpeza, e tampas sujas. Perguntada a origem do produto, não escutamos resposta.
Em Petrolândia, o descaso com a saúde do consumidor não começou agora, vem de longa data, e não tem previsão de terminar, com embalagens sem procedência reutilizadas para embalagem de produtos mais sem procedência ainda.
Se o produto chega ao consumidor final nessas condições de desprezo pela saúde pública, imagine-se a situação de falta de higiene durante a ordenha das vacas. Mas, a "cultura" local é vender, consumir ou fazer consumir esses produtos e seus derivados, sem a menor preocupação com as possíveis consequências do descumprimento das normas sanitárias na produção e comercialização. A "cultura" local prega que basta ferver o leite para deixá-lo em perfeita condição de consumo e "o que não mata, engorda". E, enquanto a banda segue a tocar nesse ritmo, os órgãos fiscalizadores continuam a se fingir de moucos e, também, de cegos.