O então ministro da Justiça Anderson Torres e Bolsonaro em foto de 27 de junho de 2022 — Foto: EVARISTO SA / AFPA Polícia Federal apura uma viagem do ex-ministro da Justiça Anderson Torres à Bahia, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, sob pretexto de reforçar o contingente da Polícia Federal (PF) no estado contra supostos crimes eleitorais – como compra de votos, por exemplo.
Na ocasião, Torres pediu pessoalmente à superintendência da PF da Bahia que atuasse em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que, como é praxe, deveria fazer a fiscalização comum de rodovias. Mas, segundo investigadores, estava pautada para interromper o fluxo de eleitores na região a fim de prejudicar a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
A Bahia é um dos Estados onde o presidente Lula tem a sua maior votação. Para se ter uma ideia, no primeiro turno, Lula obteve 69,7% dos votos no estado, enquanto Bolsonaro teve 24,3%. No segundo turno, pouco mais de 2 milhões de votos garantiram vantagem a Lula.
A presença de Torres na Bahia chocou investigadores ouvidos à época, e é classificada como pressão do governo Bolsonaro à superintendência regional para favorecer o então presidente da República com o uso da máquina. A PF é polícia judiciária e tem a realização de investigações como uma de suas missões. Já a PRF é polícia ostensiva – e atua, por exemplo, na fiscalização de rodovias.
Na gestão Bolsonaro e nas eleições, o ministro da Justiça, segundo investigadores da PF, pressionou para que a PF atuasse como a PRF, então comandada por um indicado da família Bolsonaro – Silvinei Vasques, que está na mira da Justiça, inclusive, por sua atuação nas eleições.
Torres foi escalado por Bolsonaro para colocar em prática no Nordeste, por ser uma região majoritariamente pró-Lula, o plano da campanha bolsonarista envolvendo o uso político da Polícia Rodoviária Federal no dia 30 de outubro, segundo turno da eleição.
Naquele dia, a PRF realizou múltiplas blitze e parou veículos que transportavam eleitores em todo o país. A maior parte das operações – que haviam sido proibidas no dia anterior pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes – aconteceu em estados do Nordeste.
Anderson Torres, um dos principais aliados de Bolsonaro, tinha ciência do mapa feito por integrantes da campanha do ex-presidente em que foram apontadas as regiões do país em que Lula era mais forte.
A viagem de Torres à Bahia foi vista com estranheza por integrantes da Polícia Federal. Torres não foi só: estava acompanhado pelo então diretor-geral da PF, Marcio Nunes.
Segundo apurou o blog, Torres foi ao estado sem agenda prévia ou pauta marcada junto à superintendência da PF na Bahia. Quando chegou a Salvador, foi um dia após ter atuado em outro episódio polêmico – o caso de Roberto Jefferson, que recebeu a tiros agentes da PF que foram prendê-lo, no interior do RJ.
Na Bahia, Torres se reuniu com Leandro Almada, ex-superintendente da PF no estado, e outros integrantes da PF. Na ocasião, Torres pediu que a PF atuasse nas ruas junto com a PRF no dia do segundo turno, para reforçar a operação e coibir eventuais crimes eleitorais. Depois do encontro, a equipe do ex-ministro encaminhou um documento com uma lista de cidades em que o efetivo policial deveria ser reforçado – em cidades, por exemplo, em que Lula havia sido o candidato mais votado no primeiro turno.
Este documento, como revelado pelo colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, foi elaborado pela delegada Marília Ferreira Alencar, que na época atuava no Ministério da Justiça e, posteriormente, foi trabalhar com Anderson Torres na Secretaria de Segurança Pública do DF. Alencar é investigada pela PF, por suspeita de ter agido para esconder provas relacionadas aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
A ida de Torres à Bahia aconteceu logo após o ex-deputado Roberto Jefferson desrespeitar ordem de prisão e atacar policiais federais que foram detê-lo. Naquele dia, 23 de outubro, Torres foi escalado por Bolsonaro para ir a Comendador Levy Gasparian (RJ), onde Jefferson estava, acompanhar o caso. Entretanto, como publicou o blog na ocasião, o ex-ministro recuou da decisão e não foi ao local, por receio de ser acusado de prevaricação por impedir ou atrasar o cumprimento do mandado de prisão de Jefferson.
Por Andréia Sadi e Marco Antonio Martins