O Mato Grosso [do Sul] deveria mudar de nome para “mato ralo, mato morto ou ex-mato” e os índios que lá se encontram “vivem numa espécie de Faixa de Gaza brasileira”, afirmou o antropólogo
Eduardo Viveiros de Castro na tarde deste sábado (2) na 12ª Festa Literária de Paraty (Flip). Com suas críticas, frases de impacto (“no Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”) e assumidamente pessimista, ele foi bastante aplaudido no debate “Tristes trópicos”, do qual participou o também antropólogo Beto Ricardo. No evento, este foi o segundo e último encontro dedicado à questão indígena. As manifestações na tenda dos autores foram positivas o tempo inteiro.
A reportagem é de Cauê Muraro, publicada por G1 e reproduzida por CombateRacismoAmbiental, 03-08-2014.
Viveiros de Castro ganhou aplausos já em sua primeira exposição. “Os índios estão sofrendo uma espécie de ofensiva final. É triste ver que estamos assistindo hoje literalmente a um processo de devagastação do país, que está sendo arrasado”, disse. “O exemplo mais dramático talvez seja o estado do Mato Grosso do Sul, que foi literalmente transformado num campo sem nada, a custa de que se possa plantar ali, soja, cana, e botar gado para exportação, para alimentar os países capitalistas centrais.”
Neste momento, veio a brincadeira de que o estado deveria ser rebatizado e a menção de que existem “semelhanças perturbadoras com o povo palestino no Oriente Médio”. Falou, então, que o território indígena foi sendo reduzindo progressivamente e que houve “todo tipo de violência”. Também descreveu que ocorreram bombardeios feitos pelos militares no passado, embora “não tão sofisiticados” quanto os de Israel.
“Mas o estado de Israel ao menos tem o direito, uma pretensão histórica e uma relação com aquele lugar. Acho que é um genocídio projetado e realizado (em Israel), e tem essa relação história. Mas os brancos que estão no Mato Grosso [do Sul] matando os guaranis não têm nenhuma relação histórica. Não há, literalmente, desculpa.”
Na opinião do antropólogo, a população indígena no país corre “maior perigo do que nunca de desaparecer, de que passe um trator por cima, de que passe uma hidrelétrica por cima”. Por outro lado, os índios já passaram pelo que ele chama de fim do mundo.