Jair Bolsonaro em evento do Partido Liberal (PL), em Brasília. — Foto: Brenno Carvalho / Agência O GloboApós acusar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de liderar uma tentativa de golpe de Estado que envolveu outras 33 pessoas, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deve apresentar nos próximos meses as conclusões de outras duas investigações que atingem o ex-chefe do Executivo e aliados: o caso do suposto esquema de falsificação de certificados de vacinas e o inquérito sobre o desvio de joias destinadas à Presidência.
Interlocutores do procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmam que ele enxerga o término dessas apurações como assuntos prioritários a partir de agora. Bolsonaro já foi indiciado pela Polícia Federal em ambos os casos. Caberá à PGR decidir se vai denunciar o ex-presidente e os demais suspeitos ou se pedirá o arquivamento.
Integrantes da Procuradoria avaliam que os relatórios da PF sobre as vacinas e as joias têm indícios “sólidos” e “detalhados” da prática de crimes. Finalizar a investigação sobre a tentativa de golpe, no entanto, vinha antes na lista de tarefas.
Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, delator no caso do golpe, e outras 15 pessoas foram indiciadas em março do ano passado por supostas fraudes em certificados de vacina. O inquérito visava a esclarecer se teriam sido forjados dados do documento de vacinação de parentes do ex-presidente, como de sua filha. Em depoimento, o delator afirmou que recebeu uma ordem de Bolsonaro para adulterar as informações dele e da filha e que entregou o documento “em mãos” ao ex-presidente.
Um dos advogados de Bolsonaro, Paulo Bueno, diz entender que o caso é frágil porque não há provas de que ele tenha de fato solicitado a fraude ou que ele tenha usado os documentos:
— Aquilo foi o Cid que fez, excesso de iniciativa. E o único elemento que a investigação tem são as palavras dele, que refutamos veementemente.
Bagagem do assessor
No caso das joias, a PF afirma que houve investidas do ex-presidente para reaver um kit presenteado pelos sauditas que ficou retido na alfândega do aeroporto de Guarulhos (SP) por não ter sido declarado até o fim do governo. Os itens foram trazidos ao Brasil na bagagem de um assessor do Ministério de Minas e Energia.
Essas e outras joias, incluindo relógios de luxo, como um Rolex, foram dados a Bolsonaro na condição de chefe de Estado. Em delação, Cid ressaltou que o ex-presidente pediu expressamente para que ele vendesse os presentes porque estava preocupado com gastos que ele poderia ter quando deixasse o governo. Dentre as preocupações de Bolsonaro, conforme o delator, estavam as multas por ausência de máscara durante a pandemia e por não usar capacete em motociatas de que participou.
Por Mariana Muniz e Sarah Teófilo/Brasília — O GLOBO