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Turbinas eólicas no município de Caetés, no interior de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo
Por Bruno Fontes, TV Globo
Morar perto de turbinas eólicas virou um problema de saúde. Uma pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE), com participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostra que mais de 70% das pessoas que moram ao lado dos aerogeradores têm depressão, estresse, ansiedade ou problemas de visão.
"A gente já detectou que em torno de 77% das pessoas possuem algum tipo de perda auditiva. A perda induzida por níveis de pressão sonora elevadas são lentas, progressivas e irreversíveis. Provavelmente, uma exposição por tempo maior vai acelerar esse processo todo”, disse Pedro Menezes, pesquisador e professor da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal).
A cada seis meses, pesquisadores fazem um mutirão de saúde na zona rural de Caetés, cidade do Agreste de Pernambuco localizada a 250 quilômetros do Recife. Os estudiosos mediram que, a uma distância de 300 metros da turbina, o nível de ruído é 40 vezes maior do que o saudável.
"A gente percebe a baixa da acuidade auditiva (capacidade de diferenciar sons), por causa dos ruídos audíveis e também existem os infrassons que essas turbinas emitem, que são sons abaixo de 20 Hertz e que causam também problemas no aparelho cardiovascular. A gente observou que mais de 60% das pessoas usam medicação para dormir", afirmou Wanessa Gomes, professora em saúde pública e coordenadora da pesquisa.

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A turbina eólica de 120 metros impressiona, mas ser vizinha delas virou um sofrimento para mais de 300 famílias de Pernambuco, pois os equipamentos funcionam 24 horas por dia. “As pessoas só enxergam a energia como um lado positivo da energia renovável, que de renovável, para nós, não está tendo nada”, afirmou o agricultor José Simão.
A casa da agricultora Vanessa Alves ficava a menos de 150 metros de uma turbina eólica. “O barulho é muito intenso, semelhante ao som de uma turbina de avião. Há também outro problema. Essa sombra que fica passando o tempo todo pelos moradores e também nos animais”, afirmou Vanessa.
De acordo com agricultores da região, há mais de dez anos, quando as turbinas começaram a ser instaladas, algumas famílias fizeram acordos com as empresas de energia. Alugaram os sítios para elas e se mudaram. Quem não quis sair recebeu indenizações inferiores a R$ 30 mil.
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Agricultora Vanessa Alves desenvolveu ansiedade e depressão por causa do ruído das turbinas de energia eólica no interior de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo
No caso de Vanessa, o dinheiro foi suficiente para reformar uma casa que fica um pouco mais distante da turbina eólica, mas o problema seguiu no mesmo lugar.
“Hoje eu tenho observado que a minha ansiedade tem aumentado. E, cada vez que tenho alguma crise, vem com sintomas muito diferentes, e aí está sendo para amenizar, está sendo na base do remédio. Dor de cabeça também; hoje não saio sem o meu remédio de dor de cabeça, e a insônia também. Tem noite em que não consigo dormir", relatou a agricultora.
O também agricultor Simão da Silva lamenta o que aconteceu com os animais que ele tinha no sítio. “As vacas reduziram a produção de leite entre 18% e 20%, as vacas pararam de produzir. Os suínos entraram no estresse e começaram a se matar, a se comer. A gente andou criando entre 80 e 90 ovelhas. As ovelhas começaram a abortar e, quando pariam, abandonavam os filhotes”, contou Simão da Silva.
Depois de 60 anos vivendo no campo, ele teve que se mudar, porque a esposa dele, Edite Maria da Silva, de 76 anos, teve uma depressão profunda. “Eu disse, olha, você só quer me tirar daqui depois que eu morrer? Aquele barulho vai dando agonia no juízo. Fiquei ruim. Aí, graças a Deus, depois que eu saí de lá, estou assossegada, me deito, durmo a noite toda", contou Edite.
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Agricultor Simão da Silva, de Caetés, no interior de Pernambuco, falou sobre impactos das turbinas de energia eólica para a saúde dos animais — Foto: Reprodução/TV Globo
O que diz o MPPE
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou que:
* instaurou inquérito civil e que investiga, desde 2019, os impactos das turbinas nas comunidades afetadas em dois parques do Agreste do estado;
* duas perícias na região detectaram ruídos acima dos limites legais;
* está em tratativa para a elaboração de termo de ajustamento de conduta com as empresas responsáveis.
“O Ministério Público não pode concordar que as famílias sigam no local e sejam impactadas. A transição energética é fundamental diante do cenário de emergência climática, mas a questão é a forma que se faz essa transição energética”, declarou Belize Câmara, promotora de Justiça.
O dizem as empresas e demais autoridades
* A Agência de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) disse que elaborou uma norma para empreendimentos de energia eólica que estabelece a necessidade de apresentação de estudos de ruídos. Afirmou também que o pedido de renovação da licença de operação de um desses parques eólicos foi negada, mas a justiça determinou que a operação continue;
* A Ecoenergia, responsável pelo Complexo Eólico São Clemente, disse que já investiu R$ 25 milhões em reformas residenciais e também na regularização fundiária, beneficiando 129 famílias. A empresa informou que construiu 192 cisternas com tratamento de água para a comunidade;
* O Parque Eólico Serra das Vacas disse que cumpre toda a lei em vigor e que possui todas as licenças necessárias. Informou também que o Ministério Público não fez perícia no parque eólico;
* A empresa Auren, responsável pelo Parque Eólico Santa Brígida, disse que tem feito estudos técnicos e que está seguindo em diálogo com as autoridades e também com a comunidade. Informou que tomou medidas como a realocação das famílias e que tem projetos voltados para a geração de renda e bem-estar dessas famílias.
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