Foto: Lula Marques/Agência Brasil
O tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, se queixou, em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF), de o aliado ter "se dado bem, ficado milionário", enquanto ele próprio "perdia tudo" e sua carreira estava "desabando".
O ministro Alexandre de Moraes derrubou o sigilo das delações de Cid nesta quarta-feira, 19, após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Bolsonaro e mais 33 pessoas por tentativa de golpe e outros crimes. No mesmo despacho, Moraes notificou os denunciados. Caso o STF aceite a denúncia, eles se tornarão réus numa ação penal.
O depoimento de Cid, feito em 22 de março de 2024, foi motivado por uma reportagem da revista Veja intitulada "Em áudios exclusivos, Mauro Cid ataca Alexandre de Moraes e a PF: Enquanto suas informações ajudam a desnudar a tentativa de golpe militar e comprometem Bolsonaro, o tenente-coronel detona o ministro e a instituição". A publicação havia sido feita no dia anterior.
À época, Moraes considerou que a conduta de Cid configurava crime de obstrução de Justiça e tornou a decretar a sua prisão preventiva, busca e apreensão em sua casa e nova oitiva para que o ex-ajudante de ordens esclarecesse as afirmações que constavam na reportagem.
A respeito da afirmação, exposta na reportagem, de que Moraes tinha uma "sentença pronta", Cid respondeu se tratar de um desabafo e que acabou "falando besteira". Questionado sobre quem se referia ao dizer que "todos se deram bem, ficaram milionários", o tenente-coronel declarou que "estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix", enquanto ele mesmo tinha "perdido tudo".
"(Cid respondeu que) estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix, aos generais que estão envolvidos na investigação e estão na reserva. E no caso próprio perdeu tudo. A carreira está desabando. Os amigos o tratam como um leproso, com medo de se prejudicar. Não é político, não é militar, quer ter a vida de volta. Está enclausurado. A imprensa sempre fica indo atrás. Está agoniado. Engordou mais de 10 quilos. O áudio é um desabafo. Acredita que as pessoas deviam o estar apoiando e dando sustentação", diz um trecho da transcrição do depoimento.
Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix entre janeiro e julho de 2023, como mostrou o Estadão naquele ano. Uma possível explicação para os valores é a vaquinha promovida por seus apoiadores para pagar multas processuais - o "Pix" a que Cid se refere na delação.
Na audiência, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro negou ter sofrido pressão do Judiciário ou da polícia para delatar o aliado - apesar de ter dito nos áudios que os policiais "queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu". E afirmou que a decisão foi de livre e espontânea vontade, e que a conversa exposta na imprensa era "privada, informal, particular, sem o intuito de ser exposta em revista de grande circulação". Também declarou não se lembrar nem com quem tinha conversado nem a circunstância.
O ex-ajudante de ordens também foi confrontado com a afirmação feita por ele de que "os bagrinhos estão pegando 17 anos (de prisão); os mais altos vão pegar quanto?", em referência à condenação dos bolsonaristas que depredaram os prédios dos Três Poderes em 8 de Janeiro. Cid respondeu que "fez uma reclamação genérica do que está acontecendo" e que se assusta com as penas, mas não disse quem ele considerava os "mais altos". Por: Estadão Conteúdo
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