quarta-feira, janeiro 15, 2025

'Harmonização de bumbum': conheça substância usada em paciente que morreu horas após procedimento em Pernambuco


Adriana Barros, de 46 anos, morreu após realizar procedimento estético em clínica no Recife — Foto: Reprodução/Redes sociais

No sábado (11), a comerciante Adriana Barros Lima Laurentino, de 46 anos, foi achada morta depois de se submeter a uma "harmonização de bumbum" realizada no dia anterior. De acordo com a família, o procedimento foi feito utilizando polimetilmetacrilato, material conhecido como PMMA.

A substância, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é autorizada apenas para tratamento reparador, e não é indicado para fins estéticos  /O caso é investigado pela Polícia Civil e pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe).

Segundo o Cremepe, o médico que fez o procedimento, Marcelo Vasconcelos, não tem inscrição ativa no conselho do estado e a clínica Bodyplastia, onde o profissional atende, não possui estrutura adequada para a realização de intervenções como a que foi realizada em Adriana.

A “harmonização de bumbum” foi realizada pelo médico Marcelo Vasconcelos, na clínica Bodyplastia, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife. Segundo o atestado de óbito, Adriana morreu de "choque séptico" (infecção generalizada) e "infecção no trato urinário".

De acordo com a prima de Adriana, ela só havia compartilhado com o filho que iria realizar a harmonização. Após o procedimento, ela se queixou de dores intensas logo após ser liberada. No dia seguinte, foi achada morta dentro de casa. O corpo foi sepultado na segunda-feira (13), no Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife.

De acordo com Rafael Anlicoara, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em Pernambuco (SBCP-PE), o PMMA é, simplesmente, acrílico. É um polímero de baixo custo, que não é absorvido pelo corpo e que, por causa disso, costuma ser usado com promessas de resultados fáceis e permanentes.

"As complicações são muito graves com o uso do PMMA. Ele causa problemas nos rins, pode causar infecção, pode migrar, inclusive, dando trombose ou embolia, o que causa risco de morte nas pacientes. O PMMA foi proibido pela Anvisa para fins estéticos e a Sociedade de Cirurgia Plástica já emitiu uma nota solicitando à Anvisa que não permita mais a produção e venda desse produto", disse o médico.

Em julho, no Distrito Federal, a influenciadora digital Aline Maria Ferreira da Silva morreu aos 33 anos, nesta terça-feira (2), após fazer um procedimento estético para aumentar o bumbum, também com aplicação de PMMA.

No Brasil, a Anvisa exige registro para uso do PMMA para preenchimento, por ser considerado de máximo risco. Só há duas situações em que ele pode ser usado:

* Correção de lipodistrofia: Quando pacientes com Aids que utilizam medicamentos antirretrovirais têm alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo;

* Correção volumétrica facial e corporal: Para corrigir alterações, como irregularidades e depressões no corpo, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.

Segundo Rafael Anlicoara, o PMMA é a substância menos segura para o tipo de procedimento realizado em Adriana.

"O mais seguro para harmonização glútea são estimuladores de colágeno, preenchedores à base de ácido hialurônico e, quando os casos exigem um volume maior, a lipoaspiração com lipoenxertia de gordura do próprio paciente e até a prótese glútea, mas nunca o PMMA", explicou.

O médico também informou que é essencial que o paciente se atente ao local e ao currículo do profissional que vai realizar o procedimento. O ideal é que isso seja realizado por um cirurgião plástico ou um dermatologista, que são profissionais habilitados para fazer harmonização glútea.

"Hoje, o PMMA é um produto vendido facilmente e aplicado em qualquer lugar. Tem várias clínicas de bairro que, sem condições adequadas, fazem esses procedimentos, prometendo resultados definitivos, resultados favoráveis, e não é assim a realidade. Por isso a importância de procurar um profissional sério, uma clínica séria, e não só ir pelo Instagram ou por propagandas bonitinhas", declarou.

Entenda o caso

* Adriana Barros Lima Laurentino, de 46 anos, foi encontrada morta no banheiro de casa horas após realizar uma “harmonização de bumbum”;

* Segundo familiares, Adriana se queixou de dores intensas logo depois de ser liberada pela clínica Bodyplastia, onde realizou a intervenção;

* O procedimento foi feito pelo médico Marcelo Alves Vasconcelos;

* Nas redes sociais e em seu site, Marcelo Vasconcelos diz que utiliza PMMA em seus procedimentos;
A página do médico afirma que a “harmonização corporal” com PMMA não é perigosa, "desde que realizada por profissionais capacitados, em locais aprovados pela vigilância sanitária e com produto autorizado pela Anvisa";

* A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), no entanto, é contrária ao uso do PMMA e recomendou, em novembro de 2024, que a Anvisa banisse a substância, por conta de “enorme preocupação com a saúde da população”;

* A defesa de Marcelo Alves Vasconcelos afirmou que “a paciente foi vitimada por uma fatalidade, que nada tem a ver com qualquer falha da profissional”.

Por g1 Pernambuco

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