O gasoduto Brasil-Bolívia é uma das opções para trazer o gás da Argentina, mas o insumo poderá chegar também via GNL — Foto: Diego Giudice / Bloomberg News
O objetivo é abrir rotas alternativas para trazer ao país o gás argentino de Vaca Muerta, megacampo hoje subaproveitado na Argentina. A expectativa do governo brasileiro é que, já no início do ano que vem, o acordo viabilize a importação de 2 milhões de metros cúbicos por dia de gás argentino. Mas esse montante cresceria para 10 milhões de m³/dia nos próximos três anos e, até 2030, chegaria a 30 milhões de m³/dia.
O mercado brasileiro consome atualmente de 70 milhões a 100 milhões de metros cúbicos por dia.
— Nós queremos aumentar a oferta de gás no Brasil e consequentemente diminuir o preço. Isso porque, nós precisamos, além de tratar o gás como uma energia de transição, aumentar o volume para diminuir o preço e reindustrializar o Brasil — disse Silveira ao GLOBO.
O gás é um importante insumo para a indústria e o setor reclama que seu custo alto, no Brasil, prejudica a competividade do país. A expectativa do governo é que o gás de Vaca Muerta, que custa US$ 2 por milhão de BTUs (unidade de referência nesse mercado) na Argentina, chegue ao Brasil por entre US$ 7 e US$ 8. Atualmente, o preço praticado no mercado brasileiro é em média de US$ 13,82 por milhão de BTUs, segundo o setor industrial.
De acordo com o ministro, no entendimento com a Argentina estão previstas cinco rotas possíveis para o envio do gás ao Brasil. A primeira delas é o aproveitamento da estrutura do Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol). Como O GLOBO noticiou em abril, o governo já estudava com a Argentina a possibilidade de inverter o fluxo do Gasoduto Norte, do país vizinho, para enviar gás argentino em direção à Bolívia e, de lá, aproveitar a estrutura do Gasbol para entregar o insumo ao mercado brasileiro.
Hoje o Gasbol está subaproveitado, já que a produção de gás da Bolívia está em declínio. Atualmente, os bolivianos só enviam ao Brasil 15 milhões de m³ por dia, quando deveriam entregar 30 milhões m³/dia.
A outra rota possível é a construção de um sistema que atravessaria a região do Chaco paraguaio — o acordo prevê a realização de um estudo para verificação da viabilidade dessa proposta. A terceira opção seria conectar diretamente a rede de gasodutos argentina ao município de Uruguaiana (RS). Mas isso depende da conclusão da segunda parte do Gasoduto Néstor Kirchner, na Argentina, que liga a região de Vaca Muerta, a partir da província de Buenos Aires, até a cidade gaúcha.
Como O GLOBO mostrou em abril, seria também necessário, nessa rota, concluir a ligação do gasoduto entre Uruguaiana e Porto Alegre, obra inclusive prevista no PAC. E, também, da capital gaúcha para o restante do país, seria preciso adaptar o Gasbol para ele ser usado como uma “via de mão dupla”.
A quarta rota em estudo seria uma conexão via Uruguai. E, por último, há também a possibilidade de a conversão do insumo em gás natural liquefeito (GNL), para exportação via navios, sem ser via gasoduto. Mas essa é uma opção que encareceria o produto. Hoje o Brasil já importa GNL dos Estados Unidos.
As obras de reversão do fluxo no gasoduto que liga Vaca Muerta, que fica no Sul da Argentina, até o Norte do país, ou seja, até o gasoduto Brasil- Bolívia, devem ser concluídas em março de 2025. Em visita ao Rio para a ROG.e, grande feira do setor de petróleo, o secretário de energia da Argentina, Eduardo Javier Rodríguez Chirillo, deu essa previsão de conclusão do processo.
A operação é essencial para permitir a exportação de gás para o Brasil por meio da Bolívia. Chirillo destacou que a Argentina passa por um processo de transição regulatória e precisa considerar aspectos como preços e demanda interna antes de definir quanto será enviado para o Brasil.
Reeleição de Trump
Silveira também avaliou o impacto da reeleição de Donald Trump em futuras negociações relacionadas à transição energética, que para ele representariam “uma necessidade climática e uma oportunidade econômica". De acordo com ele o republicano será “uma voz forte, mas isolada” na medida que o cenário global discute soluções ligadas à economia verde.
— Aqueles que não apostarem nessa economia vão perder de uma forma ou de outra — acrescentou.
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Questionado sobre a atuação de outros líderes mundiais eleitos sob discursos considerados “mais radicais", o ministro destacou a posição adotada por Georgia Meloni, primeira-ministra italiana. Meloni tem anunciado a intenção de investir na geração de energia nuclear, considerada "limpa” por não emitir gases do efeito estufa. Diante dessa possibilidade, Silveira afirma que "tem discutido a possibilidade do Brasil se tornar um fornecedor de urânio.
— Nós temos uma outra Petrobrás enterrada. Com somente 27% do solo brasileiro conhecido, nós já somos a sétima maior reserva do mundo de urânio. Se nós tivemos mais pesquisas geológicas, eu tenho absoluta certeza que o Brasil ficará entre os três maiores reservas
O GLOBO (Colaborou Bruno Rosa)
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