segunda-feira, outubro 28, 2024

PSD na liderança, Tarcísio fortalecido e abstenção em alta: os destaques do 2º turno das eleições municipais

Ao lado de Kassab, Nunes abraça Tarcísio após a vitória — Foto: Fábio Tito/g1

O segundo turno das eleições municipais de 2024 deixou em evidência a potência de partidos de centro e centro-direita e revelou uma polarização mais enfraquecida, em que tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto o ex-presidente Jair Bolsonaro se mostraram pouco eficazes como padrinhos de candidatos.

Abaixo, nesta reportagem, leia mais sobre os seguintes destaques:

1 - O PSD, presidido por Gilberto Kassab, é o partido que vai liderar a maior parte da população do país a partir de 2025. Entre as capitais, a legenda vai comandar Rio e Belo Horizonte. Em São Paulo, fez parte da coligação vitoriosa que reelegeu Ricardo Nunes, do MDB. O MDB, aliás, será o segundo partido com mais prefeituras no país e seguirá no poder na capital paulistana.

2 - O PT disputava o segundo turno em quatro capitais e levou só em uma: Fortaleza. Em São Paulo, Porto Alegre e Cuiabá, sofreu duras derrotas;

3 - O /PL, de Bolsonaro, ganhou em apenas duas das 9 capitais para as quais concorria no segundo turno: Cuiabá e Aracaju. Ainda assim, está entre as legendas que mais conquistaram prefeituras nas principais cidades do país;

4 - Cerca de 80% dos prefeitos que tentaram a reeleição conseguiram um novo mandato. Nas capitais, 16 prefeitos se reelegeram;

5 - Na capital paulista, Ricardo Nunes ganhou em todas as zonas eleitorais em que Pablo Marçal (PRTB) venceu no 1º turno;

6 - Principal fiador da candidatura de Nunes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), saiu fortalecido como nome da direita para a disputa presidencial de 2026. Em seu discurso da vitória, Nunes o chamou de "líder maior";

7 - No dia da eleição, o clima entre as campanhas em São Paulo voltou a esquentar: Tarcísio disse que a polícia interceptou mensagem do PCC orientando voto em Boulos, que entrou com uma ação eleitoral;

8 - Ribeirão Preto (SP) foi a cidade com a votação mais apertada no 2º turno. Entre as capitais, a disputa mais acirrada foi em Fortaleza;

9 - Nas eleições deste ano, 17 dos 26 prefeitos eleitos em capitais declararam patrimônios milionários. Com mais de R$ 313 milhões, Sandro Mabel (União), de Goiânia, é o prefeito mais rico do Brasil.

10 - Abstenção alta: cerca de 29% dos eleitores faltaram à votação neste domingo. Em São Paulo, a abstenção foi a maior da história em um 2º turno (31,54%).

1. PSD vai liderar maior parte da população


Partidos de centro-direita saíram fortalecidos das urnas — Foto: Bruno Todeschini/ Agencia RBS

O PSD, fundado em 2011 por Gilberto Kassab, é o partido que vai comandar a maior parte da população do país a partir de 2025. Ele elegeu o maior número de prefeitos nas eleições de 2024, desbancando o MDB, que liderava o ranking havia pelo menos 20 anos.

Considerado por seu fundador "de centro" e "independente", a legenda vem registrando um crescimento constante desde a sua primeira eleição, em 2012.

Ao todo, o PSD venceu em 887 municípios pelo país, e o MDB, em 856. Em 2020, o PSD ficou em terceiro lugar no ranking de prefeitos eleitos, com 656. O segundo lugar era do PP, com 690 conquistas, e o MDB liderava, com 793 prefeitos eleitos.

Entre as capitais, o PSD vai comandar o Rio de Janeiro, com a reeleição do Eduardo Paes em 1º turno, e Belo Horizonte, com Fuad Noman. O candidato reverteu o resultado do 1º turno, quando ficou em segundo lugar, e foi reeleito neste domingo.

O partido também venceu em Curitiba, com Eduardo Pimentel; em Florianópolis, com Topázio; e em São Luís, com Eduardo Braide. Em São Paulo, o PSD é parte da coligação vitoriosa que reelegeu Ricardo Nunes.

2. PT volta a vencer em capital



Eleitores celebram vitória do petista Evandro Leitão — Foto: Thiago Gadelha/ Sistema Verdes Mares (SVM)

Com a eleição de Evandro Leitão em Fortaleza, o PT reverteu a tendência de queda que vinha desde 2008. Em 2020, o partido teve o seu pior resultado em capitais, quando nenhum prefeito foi eleito.

A disputa entre Evandro Leitão e André Fernandes, do PL, foi a mais acirrada das capitais no 2º turno. Em certo momento da apuração, a diferença entre os candidatos era de apenas um voto.

A vitória garantiu à esquerda o comando de duas capitais no Nordeste. As outras sete ficaram com a direita ou centro. Em todo o país, o PT ou aliados venceram em 6 das 11 capitais em que Lula teve mais votos que Bolsonaro em 2022.

Entre as derrotas do partido neste 2º turno, estão Maria do Rosário (PT), em Porto Alegre; Lúdio Cabral (PT), em Cuiabá; e o aliado Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo.

3. Melhor resultado do PL


JHC é reeleito prefeito de Maceió — Foto: Arquivo Pessoal

O PL elegeu prefeitos em quatro capitais, conquistando o melhor resultado desde o seu surgimento. Ele também ficou entre as legendas que mais conquistaram prefeituras nas principais cidades do país.

O partido de Jair Bolsonaro havia lançado candidatos próprios em 14 capitais. Dois foram eleitos já no 1º turno: JHC, que foi reeleito em Maceió, e Tião Bocalom, reeleito em Rio Branco.

Já nove candidatos foram para o segundo turno, e apenas dois venceram: Abílio Brunini, em Cuiabá, e Emília Corrêa, a primeira mulher eleita prefeita em Aracaju.

Entre as sete capitais em que o PL perdeu neste domingo (27), quatro foram de virada, ou seja, os candidatos do partido terminaram o primeiro turno na liderança, mas acabaram derrotados na segunda votação.

4. Alto índice de reeleição

Dos 3.038 prefeitos em todo o Brasil que tentaram reeleição neste ano, cerca de 80% (2.460) conseguiram se reeleger. Nas capitais, foram 16 (de 20) prefeitos reeleitos.

Um dos motivos para esse número expressivo é que o Brasil vive um momento de desemprego baixo e uma certa recuperação da renda dos trabalhadores, avalia a jornalista Renata Lo Prete.

"Isso é uma coisa que tende a melhorar o humor da população e às vezes acaba influindo mais na eleição do que a pauta local. [...] Não é à toa que, no passado recente, o ano de maior reeleição tinha sido 2008, em meio a uma fase de prosperidade do segundo governo Lula, e o ano de menos reeleição foi 2016, em meio à recessão", diz.

5. Nunes vence em todas as zonas de Marçal

Ricardo Nunes derrotou Guilherme Boulos e foi reeleito prefeito de São Paulo com 59,35% dos votos. Ele venceu em todas as 20 zonas eleitorais em que Pablo Marçal havia ganhado no 1º turno.

Na reta final da campanha, Boulos ainda tentou conquistar o voto do eleitor de Marçal ao participar de uma live com o empresário, mas sem sucesso. No total, Nunes ganhou em 54 das 57 zonas eleitorais da cidade.

Boulos repetiu o placar da eleição de 2020, quando perdeu para Bruno Covas, com a diferença de que agora contava com ampla aliança partidária, incluindo o apoio do presidente Lula, e mais verba de campanha.

Com a derrota de Boulos em São Paulo e de Yuri Moura em Petrópolis (RJ), o PSOL terminou as eleições de 2024 sem eleger nenhum prefeito. Há quatro anos, o partido tinha conquistado cinco prefeituras, incluindo a de uma capital, Belém.

6. Tarcísio fortalecido


Ao lado de Kassab, Nunes abraça Tarcísio após a vitória — Foto: Fábio Tito/g1

Ricardo Nunes comemorou a vitória sem o ex-presidente Jair Bolsonaro em seu palanque. Os agradecimentos efusivos foram para Tarcísio de Freitas, a quem chamou de "líder maior".

Em seu discurso de vencedor, Nunes afirmou que o "nome de Tarcísio é presente" e o "sobrenome é futuro", em referência ao fato de que o governador é o principal cotado da direita para disputar a Presidência da República em 2026 diante da inelegibilidade de Bolsonaro.

Para a comentarista Ana Flor, da GloboNews, Nunes reforça ainda mais o núcleo da direita em torno de Tarcísio, que se mostra cada vez mais independente de Bolsonaro.

7. Tarcísio diz que PCC pediu voto em Boulos

Marcada por ataques, agressões e processos, a campanha eleitoral em São Paulo terminou no mesmo clima de animosidade e provocação: no dia do 2º turno, o governador afirmou, em entrevista coletiva ao lado de Nunes, que o PCC havia orientado que parentes de presos votassem em Boulos. O TRE disse que nunca recebeu relatório com essas mensagens.

"A questão não é a informação, é o momento em que a informação foi dada. Não cabe ao governador do Estado, que é o chefe da polícia, dar uma informação que pode ter algum tipo de influência na democracia, na opção do eleitor de votar", analisa Julia Duailibi, da GloboNews.

8. As disputas mais acirradas do 2º turno


Ricardo Silva (PSD) vence a disputa em Ribeirão Preto, SP — Foto: Érico Andrade/g1

Fortaleza foi a capital com a disputa mais apertada no 2º turno. Fora das capitais, porém, outras duas disputas ficaram ainda mais acirradas.

Em Ribeirão Preto (SP), o candidato Ricardo Silva (PSD) foi eleito com 50,13% dos votos, apenas 0,26 ponto percentual (p.p.), ou 687 votos, a mais que o segundo colocado, Marco Aurélio (Novo), que teve 49,87%.

Já em Pelotas (RS), a diferença foi de 0,72 p.p. entre Fernando Marroni (PT) e Marciano Perondi (PL). Marroni foi eleito e teve 50,36% dos votos, enquanto Perondi, 49,64%.


9. Prefeitos milionários

Dos 26 prefeitos eleitos nas capitais, 17 declararam patrimônios milionários à Justiça Eleitoral.

Sandro Mabel (União), que venceu as eleições em Goiânia neste domingo (27), é o prefeito mais rico do Brasil. Ele é o dono do maior patrimônio declarado, de R$ 313.405.916,29.

Abilio Brunini (PL), eleito prefeito de Cuiabá também no segundo turno (53,80% dos votos válidos), declarou o menor patrimônio entre todos os prefeitos eleitos em capitais: R$ 81.800.

10. Abstenção em alta

A abstenção no segundo turno das eleições municipais de 2024 foi de 29,2%, maior que no primeiro, quando foi de 21,7%, de acordo com a ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE.

Porto Alegre foi a capital brasileira com o maior número de abstenções no segundo turno. A cidade registrou 34,83% de eleitores ausentes – 381.965 pessoas.

Em São Paulo, a abstenção deste ano foi a maior da história para a cidade em um segundo turno. Mais de 2,9 milhões de eleitores (31,54%) deixaram de votar.

O número de ausentes foi, inclusive, maior do que os votos recebidos por Boulos. Em cinco zonas eleitorais, as abstenções foram maiores do que os votos nos dois candidatos.

Por Júlia Nunes, Fernanda Calgaro, g1


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