quinta-feira, setembro 19, 2024

Quem são os tripulantes do navio que afundou no Litoral de Pernambuco; naufrágio deixou quatro mortos e um desaparecido

Seis dos nove tripulantes do navio Concórdia, que naufragou a cerca de 15 quilômetros do litoral de Pernambuco — Foto: Arte/g1

O navio Concórdia estava com nove tripulantes quando afundou a cerca de 15 quilômetros da praia de Ponta de Pedras, em Goiana, no Litoral Norte de Pernambuco, na noite do domingo (15). O cargueiro, que levava alimentos e materiais de construção, seguia do Recife para o arquipélago de Fernando de Noronha. Quatro marinheiros morreram, outros quatro foram resgatados vivos e um está desaparecido, segundo a Capitania dos Portos.

Na terça-feira (17), parentes dos tripulantes estiveram no Instituto de Medicina Legal (IML), no Centro do Recife, para reconhecer os corpos das vítimas. Todos eles já foram liberados, de acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS).

Os quatro sobreviventes foram resgatados por um rebocador e levados para Goiana, onde foram atendidos por uma equipe médica da Marinha e depois transferidos para o Recife.

Quem são as vítimas

Dos quatro tripulantes que morreram, três tiveram a identidade confirmada pelo g1 até a última atualização desta reportagem. São eles:

Marcos Antônio Viana Coragem, de 58 anos



Marcos Antônio Viana Coragem, um dos tripulantes que morreram no naufrágio do navio Concórdia no litoral de Pernambuco — Foto: Acervo pessoal

Marcos Antônio Viana Coragem era o assistente de máquinas do navio e morava em Olinda. À TV Globo, o filho do marinheiro, Airton Coragem, disse que ele tinha mais de 30 anos de profissão, trabalhando com transporte marítimo de carga.

Experiente, Marcos Antônio sobreviveu a dois naufrágios, um deles perto de Fernando de Noronha, segundo o parente.

"Ele [Marcos Antônio] falou com a minha mãe, que é cristã, feito a nossa família. Ele sempre pedia oração. Mas, dessa vez, estava preocupado. Ele disse: 'Ora por mim, porque está feia a situação, está muito pesado o navio, está com excesso de carga. E ora por mim porque a gente está preocupado, está com medo'", contou Airton.

Marcos Antônio Ribeiro, de 67 anos



Paraibano que morreu em naufrágio de navio em Pernambuco — Foto: Arquivo pessoal

Chefe de máquinas do Concórdia, Marcos Antônio Ribeiro era paraibano e trabalhava em alto-mar desde os 19 anos, de acordo com a família. Sobrinha dele, Alana Moreira contou que a esposa do marinheiro não queria que o marido embarcasse no navio.

"Ele era bastante experiente, conhecido no meio marítimo; muito bem-quisto entre os amigos dele. Nesse último embarque, minha tia, por incrível que pareça, não queria que ele fosse. Aí ele convenceu a minha tia e infelizmente essa foi a última viagem dele", disse Alana.

Antônio Rafael Bezerra, de 64 anos



Antônio Rafael Bezerra foi uma das vítimas do naufrágio do navio Concórdia em Pernambuco — Foto: Acervo pessoal

Antônio Rafael Bezerra era natural de Ceará-Mirim, na Grande Natal, e trabalhava há três anos como cozinheiro da embarcação. Segundo a família, ele fazia o trajeto Recife–Fernando de Noronha ao menos duas vezes por mês. Os parentes reconheceram o corpo do marinheiro no IML.

Edriano Gomes de Miranda, de 48 anos



Edriano Gomes de Miranda era o comandante do navio Concórdia, que afundou a cerca de 15 quilômetros do litoral de Pernambuco — Foto: Acervo pessoal

Natural de Rio do Fogo, no Rio Grande do Norte, Edriano Gomes de Miranda era o comandante do navio cargueiro. A família disse que não o reconheceu entre os quatro corpos encontrados no local do naufrágio. A Marinha também não confirmou se ele é o nono tripulante do Concórdia que continua desaparecido.

A esposa de Edriano, Bruna da Silva, contou que recebeu mensagens do marido falando sobre os problemas da embarcação antes do acidente. Ela disse também que Edriano tinha muitos anos de experiência, era inteligente e "louco pelo mar".

Segundo Bruna, o comandante passou por outras situações complicadas durante as viagens, inclusive há um mês, quando o leme do mesmo navio quebrou. "Os tripulantes estavam todos com medo", afirmou.

Resgatados com vida

O navio saiu do Porto do Recife no sábado (14) e cumpriria a viagem de 545 quilômetros até Fernando de Noronha em 48 horas. Entretanto, apresentou problemas no meio do caminho, perto das 16h do domingo (15) e os tripulantes tinham decidido retornar ao Recife quando a embarcação afundou, na noite do mesmo dia.

Quatro tripulantes foram resgatados com vida, logo depois do naufrágio, pelo Navio Rebocador de Alto Mar Cormoran. O Concórdia estava a aproximadamente 8,5 milhas náuticas (cerca de 15 quilômetros) da costa pernambucana. Veja quem são os sobreviventes:

Mozart Gomes da Fonseca, de 57 anos

Um dos quatro marinheiros resgatados após o naufrágio, Mozart contou que a tripulação começou a perder o controle do barco na metade da viagem, nas imediações da Reserva de Acaú, em Goiana. "Tudo aconteceu muito rápido, o barco perdeu estabilidade, já estava com uma banda e a gente não iria conseguir chegar até um porto seguro", afirmou.

O sobrevivente atua no transporte marítimo há mais de 20 anos. Com a queda na água, ele teve ferimentos na bacia e na coluna.

"O barco já estava muito adernado por conta da carga, que pegou muita água, vento forte. A gente estava com carga seca no convés, era areia, e quando a agua bate, triplica. Quando a gente conseguiu adaptar uma baitera, ainda arengamos, passamos com um rebocador de apoio, mas o barco continuou adernado, até que chegou o momento em que todo mundo pegou o equipamento de salvatagem", contou.

O marinheiro relatou que, nos minutos de desespero, abriu mão do próprio equipamento para dar ao outro colega. "Eu já estava agarrado na escada de quebra-peito e disse 'segura aqui essa boia circular'. No último gás, consegui chegar até a metade", afirmou.

Mozart disse que trabalhou por 22 anos com o comandante Edriano Gomes de Miranda.

"[O comandante] é uma pessoa que tem sua experiencia. O que aconteceu, só quem vivenciou sabe", afirmou Mozart.

Edvaldo Baracho da Silva, de 57 anos



Edvaldo Baracho da Silva foi um dos sobreviventes do naufrágio — Foto: Reprodução/Inter TV Cabugi

O potiguar Edvaldo Baracho era marinheiro auxiliar no Concórdia. Ele contou que a embarcação afundou depois de eles pedirem ajuda ao rebocador.

"(...) Passamos o cabo e na hora começou a arrastar, aí ele adernou [inclinou]. Quando ele [o navio Concórdia] adernou, o comandante chamou no rádio. E desacelerou. Foi muito rápido, muito rápido", contou.


Segundo Edvaldo da Silva a manobra do rebocador para realizar o resgate demorou cerca de uma hora, por causa do tamanho da embarcação, e isso fez com que os tripulantes precisassem resistir algum tempo na água até serem resgatados.


"Na hora que a embarcação virou, o rebocador cortou o cabo e nós pulamos na água. O rebocador manobrou para pegar a gente, mas, como é muito grande, passou mais ou menos uma hora pra ele resgatar. Eu nadei muito para chegar no rebocador", disse.

Outros sobreviventes

Além de Edvaldo e Mozart, outros dois tripulantes foram resgatados com vida após o naufrágio.

Segundo a Marinha, eles foram identificados como Marcelo Cláudio da Conceição Freitas e Valcei Gomes da Costa. As idades deles não foram divulgadas.

Por g1 PE

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