segunda-feira, setembro 02, 2024

Bate-boca de baixo nível com festival de apelidos: Candidatos à prefeitura de São Paulo trocaram agressões desde os primeiros minutos do programa na TV Gazeta


Candidatos à prefeitura de São Paulo durante o debate da TV Gazeta — Foto: Reprodução

O quarto debate entre candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado na noite deste domingo pela TV Gazeta em parceria com o canal My News, teve Pablo Marçal (PRTB) como principal alvo e foi marcado pelo bate-boca de baixo nível entre os adversários, com a discussão de propostas relegada à condição de exceção à regra. O encontro reuniu, além do ex-coach, os candidatos Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB).

O uso de apelidos ofensivos para se referir a rivais foi uma constante ao longo do programa, que prometia regras mais rígidas que os encontros anteriores. Marçal chamou Nunes de "Bananinha", Tabata de "Chatabata" e Boulos de "Boules" — este último em referência a uma adaptação da letra do Hino Nacional em um comício do deputado federal. Já o prefeito apelidou Marçal de "Tchutchuca do PCC", em alusão a denúncias de ligações de aliados do empresário com a facção criminosa, e chamou Boulos de "invasor". O psolista, por sua vez, referiu-se ao candidato à reeleição como "ladrãozinho de creche".

A sequência de ofensas motivou um festival de pedidos de direito de resposta. A mediadora, Denise Campos, fez diversos apelos por respeito entre os candidatos e precisou atuar como diretora de escola infantil para reprimir Datena por ter avançado em direção ao púlpito de Marçal durante uma discussão. “Vem cá, uai”, atiçava o ex-coach.

Os candidatos tiveram duas semanas para repensar suas estratégias desde o último debate entre eles — no caso de Nunes, Boulos e Datena, que não foram ao evento organizado pela revista "Veja", foram 18 dias sem serem confrontados por adversários. O tempo de preparo, porém, não evitou que os candidatos caíssem em provocações. Boulos, num primeiro momento, disse a Marçal que "não conversa com criminoso" e despistou de uma pergunta que buscava associá-lo ao uso de drogas. Momentos mais tarde, estava chamando o adversário de "bandidinho virtual" e trocando ofensas com Nunes.

As suspeitas de envolvimento de Pablo Marçal e seus aliados com o crime organizado foram lembradas por todos os candidatos em diversos momentos, estando ou não o candidato do PRTB participando da discussão.

O ex-coach, nome que mais cresceu nas pesquisas de intenções de voto desde o início das campanhas, defendeu-se das críticas devolvendo os ataques — até mesmo um dos jornalistas que fizeram perguntas no debate foi alvo do candidato do PRTB. Marçal abusou do gesto com o "M" que é marca de sua campanha para distrair seus adversários enquanto eles elaboravam um pensamento. Numa resposta a Tabata, disse:

— Isso não é um jogo de quem tem melhor proposta, é pra ver quem aguenta mais essa encheção de saco.


Os ataques a Marçal não ficaram restritos ao estúdio da TV Gazeta, onde os candidatos debateram durante duas horas e meia. Nas redes sociais, Boulos publicou trechos de um processo trabalhista contra o ex-coach, enquanto Tabata Amaral divulgou nova representação levada à Justiça Eleitoral por suposta manobra de Marçal para inflar seus perfis online.

A representação de Tabata refere-se a um eventual envio de e-mails em massa divulgando as redes sociais do candidato do PRTB, sem dar transparência sobre a origem desses dados. O e-mail de Marçal, mostra a representação, enumera os perfis do candidato junto à frase: "Cai pra dentro dos links e me segue nos novos perfis". A candidata vê possível "uso inadequado de dados pessoais e uma possível violação dos direitos dos titulares dos dados, evidenciando um desrespeito tanto às normas eleitorais quanto à LGPD, que exige transparência e o devido tratamento dos dados pessoais”.

Já Boulos destacou em suas redes um documento sobre um funcionário, pai de três crianças, expulso de um resort onde trabalhava e que esse endereço seria ligado à Marçal. O vídeo diz que o funcionário não tinha carteira assinada nem qualquer outro direito trabalhista. O processo afirma que houve dano moral e "humilhações".

'Tchutchuca' e 'Bananinha'

O prefeito Ricardo Nunes, que compete com Marçal pelo voto do eleitorado de direita, partiu para cima do ex-coach já em sua primeira participação no debate. O foco do questionamento era a segurança pública, mas a conversa abriu um flanco para uma série de acusações entre os dois lados.

— Pablito, você participou, foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que entrava na conta das pessoas e subtraía recursos dos mais humildes aposentados. As pessoas ligadas ao seu partido têm uma ligação estreita com o PCC. Como você pensa em lidar com a segurança pública com um histórico tão complicado? — questionou o emedebista, tachando Marçal como “Tchutchuca do PCC”.

O candidato do PRTB, chamando Nunes de “Bananinha” rebateu. Disse que o prefeito trata o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como “amante”: “gosta muito, mas tem que esconder do povo”.

— Se você não ganhar (a eleição), no ano que vem você estará na cadeia por conta de desvio de creche — afirmou Marçal, em referência à investigação da Polícia Federal a respeito de uma “máfia” nas creches paulistanas.

A acusação deu a Nunes o primeiro direito de resposta da noite, que o emedebista aproveitou para dizer que Marçal é “craque em mentir”.

— A mentira tem perna curta. Hoje cai a máscara do ‘Pablito’, de um cara que foi condenado — declarou.

Marçal escolheu Guilherme Boulos como alvo de sua primeira pergunta, chamando o adversário de “Boules”. O ex-coach questionou o deputado federal sobre a execução do Hino Nacional em linguagem neutra em evento de sua campanha, e também se Boulos “nunca experimentou nenhuma substância alucinógena”, voltando assim a associar o candidato do PSOL ao uso de drogas.

Boulos se recusou a responder às provocações e disse que “não conversa com criminoso”, citando condenações de Marçal na Justiça comum e também na Justiça do Trabalho. O psolista fez ataques ao adversário e também a Ricardo Nunes, ambos chamados por ele de bolsonaristas, e disse que a eleição “não é concurso de like, tem que ter postura”.

— Marçal, você é um bandido condenado. As pessoas estão descobrindo isso — afirmou.

Na réplica, o ex-coach acusou Boulos de “institucionalizar a rachadinha” ao votar pela absolvição de André Janones (Avante-MG) no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

— São Paulo está correndo risco mesmo, o risco daquela quadrilha do petrolão voltar — disse.

Dobradinha de Tabata e Datena

Menos acionados que seus adversários, Datena e Tabata fizeram uma dobradinha contra Nunes ao debater o combate ao crime organizado. Os dois fizeram acusações contra o atual prefeito sugerindo leniência de sua gestão com a existência de milícias na Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Tabata criticou Boulos também, afirmando que o psolista e o candidato à reeleição “se acovardaram” e só passaram a falar das supostas ligações de Marçal com o crime organizado após caírem nas pesquisas.

Índices na educação

O atual prefeito também foi alvo na terceira rodada de confrontos, sendo questionado por Tabata Amaral (PSB) sobre a queda de São Paulo no ranking nacional de alfabetização. O emedebista disse que, apesar do recuo, a capital paulista se mantém com índices superiores aos de outras cidades como Belém e Recife, e destacou a diminuição da evasão escolar.

Tabata rebateu dizendo que Nunes “tenta falar bonito porque acha que as pessoas são bobas” e afirmando que, num eventual segundo mandato do atual prefeito, “as crianças vão desaprender a ler e escrever”.

Saúde x segurança

Boulos, em sua vez, perguntou a Datena. O deputado federal focou no tema da saúde e questionou o apresentador sobre qual seria suas propostas na área. O candidato do PSDB, porém, falou rapidamente sobre o tema, defendendo que houvesse mais horário de atendimento e que seria preciso “zerar a fila” de atendimento. Ele disse, porém, que sua maior preocupação seria outra. A segurança.

— O que mais me preocupa é a saúde de São Paulo em termos policiais. Esse sujeito condenado, um bandidinho virtual, esse Pablo Marçal. Me chamou de fujão, mas quem teve que dar no pé para os Estados Unidos para não cumprir mais tempo de cadeia porque a pena dele prescreveu por ter menos de 21 anos de idade— afirmou Datena.

Na sequência, o apresentador também disparou contra Nunes, a quem chamou de “mentiroso” e, mais uma vez, trouxe a investigação da “máfia das creches” de volta ao debate.

Na volta, Boulos diz que concordava com Datena e discorreu sobre sua proposta de criar um tipo de “Poupatempo da Saúde”, como forma de dar celeridade ao atendimento e zerar filas.

— Sou filho de dois médicos, meus pais trabalham no SUS há mais de 40 anos. Eles me ensinaram que consulta na hora certa pode salvar a vida de uma pessoa.

Bloco com perguntas de jornalistas

No segundo bloco, os candidatos respondem perguntas de jornalistas. Marçal foi questionado sobre sua declaração anterior de que para vencer o processo eleitoral seria preciso ser um “idiota”. Marçal disse, em referência à sua fala feita em um podcast, que há parcialidade e “idiotice” na imprensa. Entre outros ataques ao jornalismo. Disse, por sinal, que “gosta da baixaria”.

— Quando os (oponentes) me atacam, me xingam, dizem que mudaram a estratégia. Vocês tratam as pessoas como idiotas. As pessoas na rua falam para mim: “você falam que a gente pensa” — resumiu.

Datena comentou o caso, e disse que Marçal era fujão ao “fugir da polícia”, em relação à condenação anterior do ex-coach.

– O crime prescreveu, mas você segue de braços dados com o PCC. Você quem fugiu da lei e é uma ameaça à democracia — disse Datena.

No mesmo bloco, Boulos criticou o processo de privatização da Sabesp conduzido pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Nunes, e afirmou que o prefeito “abriu mão de recursos para a cidade em troca de apoio eleitoral do governador”. Nunes disse que o psolista é “despreparado” e que “não vai deixar nem invasor de propriedades nem invasor de conta bancária” assumirem a prefeitura, num novo ataque a Marçal. O psolista retrucou:

— Agora que começou a cair nas pesquisas, o Nunes está querendo posar de corajoso. Queria que tivesse essa coragem para enfrentar a máfia ligada ao crime organizado no transporte público na gestão dele. Não cola, Nunes.

Sinais 'dúbios' de Bolsonaro

Na sequência, no mesmo bloco com jornalistas, Nunes foi questionado se sentia-se traído por Bolsonaro diante de sinais dúbios de que o ex-presidente também nutriria alguma proximidade com Pablo Marçal. O atual prefeito decidiu, como resposta, relatar o currículo de seu vice Coronel da PM Mello Araújo, indicado pelo ex-presidente, e diz que está tudo bem com o apoio de Bolsonaro.

— Não existe qualquer tipo de desconforto, muito pelo contrário — despistou Nunes.

Boulos foi elencado para comentar a resposta. Na fala, o psolista lembrou o posicionamento anterior do vice de Nunes, que afirmou que o morador da periferia deveria ser tratado diferente do morador do Jardins, um bairro nobre da capital paulista.

'Encheção de saco'

Perguntada sobre a cracolândia, Tabata disse não ter “medo de bandido” ou “relação com o crime organizado” e defendeu a oferta de tratamento para dependentes químicos e ação conjunta das forças de segurança em parceria com o governo estadual. No comentário, Marçal afirmou à candidata:

— Isso não é um jogo de quem tem melhor proposta, é pra ver quem aguenta mais essa encheção de saco.

Segunda dobradinha entre Datena e Tabata

Datena, por sua vez, comentou quais seriam suas propostas em defesa do cidadão que tem medo de assaltos e em relação ao crime organizado. O apresentador afirmou que, para resolver problemas dessa ordem, seria necessário operar diretamente contra organizações criminosas, como o PCC. Ele disse, por exemplo, que mesmo um roubo de celular pode evoluir para mortes e alimentar uma rede internacional do crime.

— Tudo que acontece em São Paulo são migalhas do crime organizado. Só o prefeito não tem autoridade para isso, o Tarcísio precisa participar, o Ministério Público precisa participar — afirmou o candidato do PSDB.

Tabata, convidada a comentar a questão, disse que há uma epidemia de roubo de celulares na capital paulista e que, segundo ela, esse problema seria fruto da gestão de Nunes. A proposta da candidata para debelar o problema, é repetir o modelo adotado pelo estado do Piauí.

— Vou convocar as operadoras para rastrear cada celular roubado. Quando uma nova linha for acionada nesse celular a gente mandará uma notificação e se a pessoa não entregar o celular na delegacia, a polícia vai lá e toma — promete. — Vamos identificar os box, lojas e shoppings que vendem celulares roubados.

As regras do debate

O evento terá cinco blocos e quatro intervalos. Os pontos principais para discussão incluem saúde, transporte, segurança e trabalho. O público poderá mandar questionamentos por meio das redes sociais utilizando a hashtag do evento nas redes sociais.

No palco, os participantes aceitaram as regras que incluem não poder movimentar-se excessivamente nem utilizar objetos, como celulares no palco. Caso não cumpram as regras do debate, podem receber advertências e até expulsão.

Por Nicolas Iory e Mariana Rosário — São Paulo

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