sábado, agosto 17, 2024

De camelô a megaempresário: como o talento de Silvio Santos construiu um império bilionário





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Um dos maiores apresentadores da TV brasileira, Silvio Santos morreu neste sábado (17), aos 93 anos.

Além de ser o fundador e dono do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, Silvio teve uma trajetória empresarial de décadas de sucesso, que deu origem ao Grupo Silvio Santos (GSS), hoje um conglomerado bilionário.

Começou como camelô. Logo cedo, mostrou ser um vendedor nato, com grande capacidade de comunicação e persuasão — características que ajudaram a alavancar o Baú da Felicidade, que assumiu em 1958.

Era o início do Grupo Silvio Santos (GSS), que se desdobrou em setores como cosméticos, capitalização, mídia e comunicação, incorporação imobiliária e hotelaria. Além do SBT, empresas como a Jequiti e a Liderança Capitalização são parte dos negócios da família.

O portfólio de empresas de Silvio Santos garantiu que ele entrasse na seleta lista de bilionários da revista Forbes em 2013, com uma fortuna estimada em US$ 1,3 bilhão.

À época, a revista destacou que o patrimônio do apresentador fez dele a “primeira celebridade bilionária brasileira”. O Grupo Silvio Santos já tinha mais de 30 empresas no portfólio, com vendas anuais de US$ 2 bilhões.

Silvio entrou no ranking de bilionários dois anos após a venda do banco PanAmericano, do qual era acionista controlador. O BTG Pactual pagou R$ 450 milhões pela operação, em meio a um escândalo contábil envolvendo o banco. (saiba mais abaixo)
O início

O talento e a voz do jovem camelô não demoraram a chamar a atenção dos veículos de comunicação do Rio de Janeiro. Na década de 1950, Silvio foi convidado a fazer um teste na Rádio Guanabara, onde trabalhou e teve sua primeira experiência como locutor.

Aos 20 anos, decidiu se mudar para São Paulo. Trabalhando na Rádio Nacional, atuou ao lado do radialista Manuel de Nóbrega, que administrava o Baú da Felicidade. A empresa vendia brinquedos a prazo, por meio do pagamento de carnês.

Silvio passou a administrar o Baú da Felicidade em 1958 e, com sua grande capacidade de persuasão e visão empresarial, logo fez a empresa crescer. Pouco tempo depois, assumiu o controle total do negócio.

Nos anos seguintes, o sistema de crediários do Baú foi ampliado para produtos variados, além de carros e casas. Paralelamente, em 1963, Silvio estreava o primeiro Programa Silvio Santos, que foi ao ar pela TV Paulista.

Em 1965, Roberto Marinho comprou a antiga emissora, e o programa continuou a ser exibido pela TV Globo, apenas para São Paulo. Já em 1969, passou a ser transmitido em rede nacional, pela Rede Globo. O programa ficou no ar até 1976, quando Silvio deixou o canal.

Nesse mesmo período, foram criados outros projetos do que formaria o portfólio do grupo, como a Baú Financeira (1969) — que deu origem ao banco PanAmericano — e a famosa Tele Sena (1975).
SBT

Os sucessos como empresário e apresentador já tinham despertado em Silvio Santos o interesse em ter sua própria emissora de televisão.

Em 1976, ele inaugurou a TVS. Ao receber novas concessões de transmissão, a emissora deu espaço ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), que foi ao ar pela primeira vez em 19 de agosto de 1981. Na estreia, foi ao ar o já conhecido Programa Silvio Santos.

Com 114 emissoras em todo o país, o SBT alcança atualmente 70 milhões de lares. Ao longo dos anos, passaram pela programação atrações que marcaram a história da televisão brasileira, como “Topa Tudo Por Dinheiro” e “Roda a Roda”, ambos apresentados por Silvio, e o “Domingo Legal” — comandado por Gugu Liberato, morto em 2019.

Em setembro de 2022, Silvio deixou de apresentar sua atração nas noites de domingo. Desde então, o Programa Silvio Santos passou a ser comandado por Patricia Abravanel, uma de suas filhas.

Daniela Beyruti, outra filha de Silvio e vice-presidente do SBT, está no comando da emissora desde o afastamento do pai.

O SBT sempre foi parte importante dos ativos do Grupo Silvio Santos. Quando o apresentador entrou para a lista de bilionários da Forbes, em 2013, 22% do total de sua fortuna tinha origem na rede de televisão, segundo a revista.
Jequiti

De olho no mercado de cosméticos, Silvio Santos fundou a Jequiti em outubro 2006, em um mercado dominado por marcas como Natura e Avon na venda direta, também chamada de “porta a porta".

Com preços populares, a empresa entrou na disputa com linhas de produtos para banho, rosto, corpo, cabelos e maquiagem.

Conforme mostrou o g1 naquele ano, a primeira etapa de implementação dos negócios da Jequiti foi feita nas regiões Sul e Sudeste, enquanto a expansão para outras regiões passou a ocorrer a partir de 2007.

A Jequiti foi a segunda linha de cosméticos do Grupo Silvio Santos, que já tinha adquirido, em março de 2006, a SSR Comércio de Cosméticos, dona da marca Hydrogen e das licenças para produzir cosméticos com a marca Disney.

Atualmente, a Jequiti é uma das maiores empresas do segmento no país e está em todo o território brasileiro, com 260 mil consultoras em seu portfólio. Seu maior volume de vendas está concentrado em produtos de perfumaria, segundo a companhia.

Com valor de mercado em cerca de R$ 450 milhões, estão em curso discussões sobre a venda da Jequiti para a farmacêutica Cimed.
Crise (e venda) do banco PanAmericano

“Vendi o banco”, disse Silvio Santos em janeiro de 2011, após uma série de polêmicas envolvendo o banco PanAmericano, do qual ele era acionista controlador.

“Não podia deixar de vender. Porque o meu banco não deu prejuízo para ninguém. O meu banco teve um bom comportamento. Talvez tivesse sido mal administrado, e essa má administração provocou aquilo que todos vocês conhecem”, afirmou a jornalistas.

Em novembro de 2010, o banco PanAmericano recebeu um aporte de R$ 2,5 bilhões, com recursos obtidos junto ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), tendo os bens do grupo Silvio Santos como garantia. Isso foi necessário depois que o Banco Central do Brasil identificou um rombo nas contas da instituição.

De acordo com a autoridade monetária, o PanAmericano mantinha em seu balanço carteiras de crédito que já haviam sido vendidas a outros bancos. Também houve duplicação de registros de venda de carteiras. Com isso, o resultado do banco era inflado.

“Agora eu estou livre. A televisão [SBT] que vocês queriam comprar, ou que alguém queria comprar, não está mais à venda. A Jequiti não está mais à venda. As Lojas do Baú não estão mais à venda. A única coisa que foi vendida foi o banco”, disse Silvio na ocasião.

A fatia do apresentador foi comprada pelo BTG Pactual, por R$ 450 milhões. Com o acordo, a instituição passou a deter 34,64% do PanAmericano, com 51% das ações ordinárias — o que garantia o controle do banco.

Em 2013, o PanAmericano se mudou de identidade visual e se tornou o Banco Pan.


Por André Catto, g1

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