O ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem elaborou, em 2020, orientações para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atacar as urnas eletrônicas, segundo documentos encontrados pela PF (Polícia Federal) no computador de Ramagem. A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pelo UOL.
O que aconteceu
"Total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018", escreveu Ramagem a Bolsonaro. O então diretor da Abin indicou no e-mail que votos de Bolsonaro teriam sido "alterados" nas eleições em que ele venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno. O documento no Word tinha o título "Presidente TSE informa", segundo descobriu a PF. A orientação ao ex-presidente está em um dos textos armazenados no e-mail do ex-chefe da Abin.
Ramagem escreveu que Bolsonaro deveria ter "atitude belicosa". Em outro documento, ele disse: "O Sr. mais ninguém conhece o sistema e sabe que não houve apenas quebra de paradigma na sua eleição, mas ruptura com esquema dos poderes e com a hegemonia da imprensa em expor o que pensar e em quem votar", disse o ex-chefe da Abin, em texto escrito em 2020.
A PF não confirmou se os textos chegaram a ser enviados a Bolsonaro. Os documentos foram encontrados no computador do ex-chefe da Abin a partir de quebra sigilo autorizada pela Justiça no caso da "Abin paralela". Essa investigação apura se Bolsonaro usou o órgão para monitorar adversários políticos e outras autoridades brasileiras.
Questionado pela PF, Ramagem disse não se lembrar se fez os envios. O ex-chefe da Abin prestou depoimento à corporação no último dia 17. Ele assumiu que escreveu os textos "para comunicação de fatos de possível interesse" de Bolsonaro, mas afirmou que não tinha recordações se os documentos foram enviados ao ex-presidente.
Trechos dos e-mails
''Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do Sr. no primeiro turno. Todavia, [com fraude] ocorrida na alteração de votos. O argumento na anulação de votos não teria esse alcance todo. Entendo que argumento de anulação de votos não seja uma boa linha de ataque às urnas''.
- Alexandre Ramagem, em e-mail encontrado pela PF
""Parece ser o momento do golpe para retorno da política anterior. Nenhuma crise conseguiu enfraquecer sua base e não aparenta haver políticos à altura de vencê-lo em 2022. Portanto, parece que a batalha maior será agora, requerendo atitude belicosa com estratégia"".
Alexandre Ramagem, em e-mail encontrado pela PF
Ex-chefe da Abin também escreveu texto com ilações sobre STF e o TSE. Sem apresentar provas, Ramagem disse que havia "armadilhas sendo colocadas". "O inquérito do Celso de Mello possui relação com o inquérito das fake news do Alexandre de Moraes, ambos com o intuito de fundamentarem o golpe no TSE. Sendo assim, primeiro é necessário que a PGR arquive o inquérito do Celso de Mello, para expor todas as nulidades do procedimento do Alexandre de Moraes.".
Bolsonaro esteve em ato de campanha de Ramagem no Rio na semana passada. O ex-presidente subiu em um trio elétrico ao lado do ex-chefe da Abin, que também é candidato à Prefeitura do Rio. Foi a primeira vez que Bolsonaro apareceu em evento público com Ramagem após a PF divulgar relatório sobre a atuação da "Abin paralela" no monitoramento de autoridades brasileiras no governo do ex-presidente. O ex-chefe da Abin nega essa monitoramento e diz que a PF criou "alvoroço".
Outro lado: o UOL entrou em contato com os advogados do ex-presidente para saber se ele recebeu e-mails com as orientações de Ramagem, mas ainda não obteve retorno.
Textos de Ramagem coincidem com falas de Bolsonaro.
Ex-presidente fazia ataques às urnas em lives e em conversa com apoiadores. Em uma dessas oportunidades, ao falar com pessoas que estavam no cercadinho Palácio da Alvorada em 2021, Bolsonaro disse que houve fraude nas eleições de 2018 e pediu o voto impresso no Brasil como forma de auditoria.
""Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar voto, nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos"".
Jair Bolsonaro, em 2021, ao fazer referência às cenas de violência vistas na invasão do Capitólio, nos EUA.
Nunca houve fraude comprovada nas eleições
Nunca houve fraude comprovada nas eleições desde que elas foram adotadas. Os equipamentos foram usados parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000.
A constatação não é apenas do TSE, que organiza as eleições, mas também de investigações do MPE (Ministério Público Eleitoral) e de estudos matemáticos e estatísticos independentes. Mesmo especialistas em segurança que defendem a adoção do voto impresso e o aprimoramento do voto eletrônico reconheceram ao UOL que ataques bem-sucedidos às urnas brasileiras são improváveis e dependeriam de uma combinação muito específica de fatores para ocorrerem.
Ramagem escreveu que Bolsonaro deveria ter "atitude belicosa". Em outro documento, ele disse: "O Sr. mais ninguém conhece o sistema e sabe que não houve apenas quebra de paradigma na sua eleição, mas ruptura com esquema dos poderes e com a hegemonia da imprensa em expor o que pensar e em quem votar", disse o ex-chefe da Abin, em texto escrito em 2020.
A PF não confirmou se os textos chegaram a ser enviados a Bolsonaro. Os documentos foram encontrados no computador do ex-chefe da Abin a partir de quebra sigilo autorizada pela Justiça no caso da "Abin paralela". Essa investigação apura se Bolsonaro usou o órgão para monitorar adversários políticos e outras autoridades brasileiras.
Questionado pela PF, Ramagem disse não se lembrar se fez os envios. O ex-chefe da Abin prestou depoimento à corporação no último dia 17. Ele assumiu que escreveu os textos "para comunicação de fatos de possível interesse" de Bolsonaro, mas afirmou que não tinha recordações se os documentos foram enviados ao ex-presidente.
Trechos dos e-mails
''Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do Sr. no primeiro turno. Todavia, [com fraude] ocorrida na alteração de votos. O argumento na anulação de votos não teria esse alcance todo. Entendo que argumento de anulação de votos não seja uma boa linha de ataque às urnas''.
- Alexandre Ramagem, em e-mail encontrado pela PF
""Parece ser o momento do golpe para retorno da política anterior. Nenhuma crise conseguiu enfraquecer sua base e não aparenta haver políticos à altura de vencê-lo em 2022. Portanto, parece que a batalha maior será agora, requerendo atitude belicosa com estratégia"".
Alexandre Ramagem, em e-mail encontrado pela PF
Ex-chefe da Abin também escreveu texto com ilações sobre STF e o TSE. Sem apresentar provas, Ramagem disse que havia "armadilhas sendo colocadas". "O inquérito do Celso de Mello possui relação com o inquérito das fake news do Alexandre de Moraes, ambos com o intuito de fundamentarem o golpe no TSE. Sendo assim, primeiro é necessário que a PGR arquive o inquérito do Celso de Mello, para expor todas as nulidades do procedimento do Alexandre de Moraes.".
Bolsonaro esteve em ato de campanha de Ramagem no Rio na semana passada. O ex-presidente subiu em um trio elétrico ao lado do ex-chefe da Abin, que também é candidato à Prefeitura do Rio. Foi a primeira vez que Bolsonaro apareceu em evento público com Ramagem após a PF divulgar relatório sobre a atuação da "Abin paralela" no monitoramento de autoridades brasileiras no governo do ex-presidente. O ex-chefe da Abin nega essa monitoramento e diz que a PF criou "alvoroço".
Outro lado: o UOL entrou em contato com os advogados do ex-presidente para saber se ele recebeu e-mails com as orientações de Ramagem, mas ainda não obteve retorno.
Textos de Ramagem coincidem com falas de Bolsonaro.
Ex-presidente fazia ataques às urnas em lives e em conversa com apoiadores. Em uma dessas oportunidades, ao falar com pessoas que estavam no cercadinho Palácio da Alvorada em 2021, Bolsonaro disse que houve fraude nas eleições de 2018 e pediu o voto impresso no Brasil como forma de auditoria.
""Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar voto, nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos"".
Jair Bolsonaro, em 2021, ao fazer referência às cenas de violência vistas na invasão do Capitólio, nos EUA.
Nunca houve fraude comprovada nas eleições
Nunca houve fraude comprovada nas eleições desde que elas foram adotadas. Os equipamentos foram usados parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000.
A constatação não é apenas do TSE, que organiza as eleições, mas também de investigações do MPE (Ministério Público Eleitoral) e de estudos matemáticos e estatísticos independentes. Mesmo especialistas em segurança que defendem a adoção do voto impresso e o aprimoramento do voto eletrônico reconheceram ao UOL que ataques bem-sucedidos às urnas brasileiras são improváveis e dependeriam de uma combinação muito específica de fatores para ocorrerem.
Por: Caíque Alencar e Aguirre TalentoDo UOL, em São Paulo, e colunista do UOL, em Brasília… - Veja
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