segunda-feira, julho 22, 2024

Petrolândia: Luiz Guará, o mago da escultura em madeira; uma lenda na história dos 115 anos do município



Ele era magro, pequeno e se locomovia ágilmente apesar das pernas atrofiadas, sequelas de um Brasil atrasado anterior à erradicação da paralisia infantil. Pouco usava muletas. Para circular pela casa utilizava as mãos e um carro de rolimã que ele mesmo fabricou. Solteiro, após a morte dos pais, passou a morar sozinho. Certamente por isso, desenvolveu autonomia suficiente para ser independente.

Nascido em 12 de fevereiro de 1926, filho de Maria Gomes da Cruz e Luiz Gomes da Cruz, embora tenha recebido no batismo o nome de Luiz Gomes da Cruz Nascimento, atendia pela alcunha de Luiz Guará. Não se sabe a origem do apelido, talvez uma alusão ao lobo-guará, animal da região central do Brasil, assim como ele, solitário e de pernas finas. Da solidão, agilidade, fortalecimento das mãos e necessidade de sobrevivência, nasceu o artesão que no dizer do advogado petrolandense, Manuel Gabriel, “dos seus formões e inspirações arrancava da umburana a arte que a gente não via”.

Dotado de excepcional talento, utilizava a madeira macia da umburana, farta na região, para reproduzir, em detalhes, qualquer objeto que visse. Especializou-se em fabricar manualmente brinquedos em madeira. Carros, trens, aviões, surgiam da madeira bruta, através de suas mãos, numa perfeição incrível, para deleite da criançada. Na época, brinquedos fabricados pela indústria não eram tão acessíveis às crianças do Sertão. Ganhar um carro fabricado por ele era o presente de aniversário dos sonhos.

Mesmo entre os adolescentes, não faltava quem se aventurasse mato a dentro para buscar um pedaço de madeira de umburana na esperança de receber um brinquedo-arte em pagamento. Mas as encomendas eram muitas, o trabalho demorado, a fila de espera longa e a fome mais urgente. A promessa de recompensa acabava esquecida, frustrando alguns destes empenhados rapazinhos.

Luiz Guará faleceu no dia 03 de maio de 2005, mas ainda faz parte da memória afetiva de muitos petrolandenses. Algumas de suas peças podem ser apreciadas no Memorial da Trupé Cultural, em Petrolândia. Vale conhecer.

Por Paula Rubens - Instituto Geográfico e Histórico de Petrolândia - IGH

IGH Petrolândia
O Instituto tem como finalidade preservar a memória do município de Petrolândia.

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